O material publicado neste blog é resultado dos trabalhos desenvolvidos na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Tocantins. Os temas dos artigos resultaram da Visita técnica realizada à cidade de Belém do Pará, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2013, coordenada pela professora Patrícia Orfila, responsável pela disciplina.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Visita à Casa das Onze Janelas – Período Colonial à Contemporaneidade


Kananda Lima

A Casa das Onze Janelas, ou O Palacete das Onze Janelas é uma construção da metade do século XVII e tinha como objetivo servir de residência para um rico senhor de engenho de açúcar, Domingos da Costa Bacelar. O objetivo da habitação era para servir de ponte para o proprietário entre o interior, onde morava, e Belém, a capital, utilizado mais nos fins de semana. Ao longo do tempo, com intervenções para valorizar a cultura regional, o edifício hoje é utilizado como museu para exposição de esculturas, artigos que compuseram a história local e galeria para exibição temporária. A história da Casa das Onze Janelas foi enriquecida durante o seu uso. Por sofrer várias mudanças de proprietário, teve seu espaço utilizado para outras funções, porém, que puderam enriquecer o passado do imóvel.
            No ano de 1768, a Casa das Onze Janelas foi comprada pelo governador do Grão-Pará, Francisco Ataíde Teive, e sofreu reformas pelo arquiteto italiano Antônio José Landi, onde a infraestrutura passou a sediar um hospital militar. A região sofria carência em alocar seus doentes, o que fez com que edifícios como o Forte do Castelo e o Convento de São Boaventura exercessem a função de ambulatórios antes da compra da residência, porém, essas duas construções estavam sujeitas à grande precariedade. Com a adaptação do projeto por Landi, a Casa das Onze Janelas passou a se chamar Hospital Real, sendo proposta uma varanda com vista para o rio Guajará, que proporciona ao observador umas das mais belas paisagens de Belém. A residência de estilo neoclássico de dois pavimentos conta com onze aberturas simétricas em sua fachada principal, onde, durante a reforma realizada por Antônio Landi, foram acrescentados frontões ladeados de obeliscos. A porta de entrada se localiza no centro do edifício, seguindo seu caráter simétrico. Observa-se grande influência da arquitetura portuguesa nas soluções simples para o projeto, contando com pilastras em seus cunhais. Já a fachada voltada para o rio possui configurações diferentes em relação à primeira, esta se mostra mais voltada à contemplação do rio, como foi citado anteriormente, suas aberturas se apresentam na forma de arcos, e em seu corpo central são realizadas loggias (galerias) que possuem função de varanda.


Figura 01 – Proposta de Landi para o Hospital Real

            Ao se tratar das intervenções sofridas ao longo dos anos, não há uma confirmação exata de quais mudanças foram feitas em determinados períodos, mas há a hipótese de que Landi foi responsável pela alteração da planta original da Casa das Onze Janelas, que em seu formato original se apresentava de forma retangular, sendo modificada para o formato em “L” com a adição de um corpo lateral. Além dos projetos para a Casa das Onze Janelas, Antônio Landi foi responsável por grandes projetos na Amazônia durante o período colonial. Hoje, em sua homenagem, foi elaborado o Circuito Landi, que tem como objetivo divulgar a arquitetura da época de ouro belenense, transmitindo identidade à cidade e dando referência a seus patrimônios históricos. 



                 Figura 02 - Vista do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas pelo Rio Guajará

Até o ano de 1870, o edifício foi usado para o atendimento de doentes, sendo logo modificado para receber outras atividades militares, abrigou o Corpo da Guarda e a Subsistência do Exército até o final do século XX.  Durante a revitalização do centro histórico de Belém desde 1997, com o projeto denominado Feliz Lusitânia, elaborado pelo arquiteto Paulo Chaves, a Casa das Onze Janelas foi transformada em um museu de arte moderna e contemporânea em 2002, onde abriga e procura realçar o teor cultural de artistas locais. A influência do projeto paisagístico fez com que a área externa à casa fosse denominada Feliz Lusitânia, que proporciona em seu entorno um belo jardim, complementando a bela arquitetura neocolonial do edifício. Um artigo publicado por Marisa Mokarseltraz maiores especificações sobre o projeto, onde o tema principal abordado pela autora é feito pelo artigo Três coleções do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no Fortalecimento de um Acervo. A abordagem sobre o projeto é feita da seguinte forma:

“Em 1997 teve início, no Centro Histórico de Belém, o Projeto Feliz Lusi­tânia da Secretaria de Estado de Cultura do Pará – SECULT, que se desenvolveu em quatro etapas, abrangendo prédios antigos, integrados à história da cidade. A intenção era estabelecer laços de identidade e memória na perspectiva de pre­servar o patrimônio histórico, cultural e paisagístico. Enquanto a primeira etapa foi inaugurada, em 1998, com a restauração da Igreja de Santo Alexandre e do Palácio Episcopal – conjunto concernente ao Museu de Arte Sacra –, o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas abriu suas portas em 2002, juntamente com o Museu do Forte do Presépio cujo processo de restauração pertencia à tercei­ra etapa.”


Figura 03 – Casa das Onze Janelas sendo utilizada para atividades militares – Aspecto do edifício durante os anos de 1937 a 1947

Após o período de revitalização do antigo centro de Belém, outros museus foram fundados juntamente com o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, sendo esse voltado para a exposição de obras de arte. A área que envolve o entorno da construção detém de vários aparatos culturais, o Jardim das Esculturas e o Navio Corveta são alguns desses elementos adjacentes que complementam e agregam beleza, história e originalidade à Casa das  Onze Janelas. Internamente, o local conta com salas de exposição das obras, a câmara Ruy Meira, que se encontra no primeiro pavimento, dispõe de obras de artistas renomados do passado modernista brasileiro como Lasar Segall, Manoel Pastana e Clóvis Graciano. O espaço térreo também dispõe de uma mini-biblioteca, integrando diferentes tipos de arte em um ambiente de patrimônio. Já o segundo pavimento acomoda duas salas de exibição de fotografias inseridas no salão Xumucuis, que recebem acervos para exposições temporárias. Estima-se que o acervo do museu possua cerca de 300 peças, que são divididas em duas categorias principais: Traços e Transições – Arte Contemporânea Brasileira (Fundação doada pela Funarte) e Fotografia Contemporânea Paraense – Panorama 80/90 (acervo patrocinado pela Petrobrás). Por contar com obras pertencentes a este estilo, a Casa das Onze Janelas é o primeiro museu de arte contemporânea da região norte.


Figura 04 – Espaço interno do Museu das Onze Janelas – Exposição de obras contemporâneas

Ao mencionarmos os principais fornecedores de arte e cultura presentes nesse museu, foi publicada uma nota em um dos sites à respeito do assunto, Construções Neoclássicas – A Casa das Onze Janelas, referente aos responsáveis por manter o acervo:               

“Acervo Onze Janelas [Gravura no Pará], selecionado no Edital CONEXÃO ARTES VISUAIS MINC/FUNARTE, com o patrocínio da PETROBRÁS, deu início a essa série de estudos. Contou com o trabalho dos curadores convidados Paulo Herkenhoff e Armando Sobral, tendo como foco central a formação de uma coleção de obras em gravura de artistas visuais paraenses. O que resultou na conquista de 166 obras, contemplando 31 artistas. Em acordo com a obtenção, foi realizada uma publicação de caráter pioneiro sobre a gravura no Pará, com textos críticos, depoimentos, entrevistas com artistas e imagens das obras conseguidas, além da exposição das conquistas na sala Valdir Sarubbi e ações educativas envolvendo palestras, oficinas e visitas monitoradas.” 

Ao lado do museu, dentro do mesmo edifício da Casa das Onze Janelas, existe um restaurante contemplando uma estética que remete ao período medieval. O estabelecimento ocupa cinco das onze janelas da construção, possui três ambientes diferenciados para a permanência de seus usuários, com capacidade de 350 lugares: Um salão principal – de taipa (interage com o ambiente de atmosfera medieval) e com tocheiro em suas paredes acompanhadas de gravuras do passado colonial paraense e vestígios arqueológicos encontrados durante a revitalização do edifício; o segundo espaço é um bar, feito com a madeira de demolição e trilhos da linha de bonde que circulava o entorno e a praça principal durante o período da belle époque – a iluminação é baixa de modo que proporcione um ambiente mais reservado aos frequentadores, o piso que compõe a casa, da mesma forma que toda a parte térrea da edificação, é constituído pela pedra cariri, nostálgica para lembrar-se do período colonial; o terceiro e último espaço ocupado pelo restaurante é a varanda coberta, que proporciona uma vista excepcional para o jardim da casa e para a Baía do Guajará. Além de todos esses ambientes repletos de história em cada elemento que os constitui, o lugar dispõe de um terraço, onde pode-se apreciar os painéis do artista plástico português Júlio Pomar retratando os poetas lisboetas Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Manuel Bocage e Almada Negreiros, doados por instituições portuguesas.


Figura 05 – Parte interna do restaurante Boteco das Onze

Ao se observar todos os pormenores que constituem a Casa das Onze Janelas, nenhum deles deixa de valorizar a rica história do local e sua região, principalmente em seu período colonial. O passado fragmentado através de pequenos detalhes, como o piso, quadros de decoração do ambiente, ou mesmo o ferro do antigo bonde, é responsável para que os visitantes do lugar possam se ver no passado de glória do Pará e contemplar o potencial da região, que ainda tem muito a oferecer para o seu país.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
POR Toda Belém, Palacete das Onze Janelas. Disponível em: http://belemdeaaz.blogspot.com.br/2011/10/palacete-das-onze-janelas_25.html              
POR Todos os Lados, Casa das Onze Janelas em Belém. Disponível em: http://portodososlados.wordpress.com/2011/06/10/casa-das-onze-janelas/
Giuseppe Antonio Landi – o Bibiena do Equador, Hospital Real – Casa das Onze Janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelem-OspedaleRealeCasa11Finestre.html
Derenji, Jussara e Jorge, Igrejas Palácios e Palacetes de Belém. Brasília, DF: Iphan / Programa Monumenta, 2009.
Mokarzel, Marisa, Três coleções do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no Fortalecimento de um Acervo. MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol.I1, nº4, maio/junho de 2013.

FIGURAS:

Figura 01: UFPA, Hospital Real, Casa das onze janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelemOspedaleRealeCasa11Finestre.html

Figura 02: Nunez, Belém-PA! Um passeio pela Estação das Docas, Baía do Guajará e Rio Guamá. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1420428


Figura 03: UFPA, Hospital Real - Casa das onze janelas. Disponível em: http://ufpa.br/forumlandi/PT/AttivitaLuoghiOpere/ArchitettureBelem-OspedaleRealeCasa11Finestre.html

 

Figura 04: Mokarzel, Marisa, Três coleções do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas: Doação e Editais no Fortalecimento de um Acervo. Página 106, Belém, Pará, 2013.

Figura 05: Grupo Ideal, Bar e restaurante Boteco das Onze, instalado na Casa das Onze Janelas. Disponível em: http://grupoideal2.hospedagemdesites.ws/congressofgv/galeria-de-imagens/attachment/22/

 






Um comentário:

  1. Cada construção uma mais linda que a outra, é de deixar a gente de queixo caído!
    Cada janela de ferro bh deixa o ambiente além de seguro, mais charmoso, principalmente quando combinado com o design do local.

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