Quando paramos para aprofundar o nosso olhar nas minucias, nas sutilezas, nos detalhes do desenvolvimento dos bebês, observamos que eles têm uma percepção única, singular e particular de ver o mundo, e a partir deste modo particular de exploração investigativo que começam a compreender o que acontece a sua volta, e é ai que está à grandiosidade de se trabalhar com bebês.

Na escola Esconderijo Sapeca estes bebês, desde sua chegada, são reconhecidos como sujeitos, ativos, participativos e protagonistas de suas narrativas cotidianas vivenciadas em grupo. Para isto, a escola propicia espaços e tempo para o brincar livre, possibilitando as construções autorais de cada criança. Nela, os bebês e as crianças não são mais considerados apenas espectadores, mas sim indivíduos com capacidades de participarem, expressando opiniões e necessidades próprias, através dos gestos, movimentos dos corpos, das expressões faciais e linguagens verbais e não verbais.

Os protagonismos dos bebês em suas especificidades ocorrem o tempo todo, nos momentos de cuidado, na higiene pessoal, como na alimentação onde a postura do educador deve ser, o olho no olho, o falar próximo sobre o que vai comer, sobre o sabor, seus aromas, promovendo avanços na autonomia e confiança, sendo incentivados através do diálogo tornando agradáveis e prazerosos esses momentos.

Cada vez mais, nós adultos precisamos perceber que o protagonismo infantil se faz presente e necessário, pois estes pequenos indivíduos são capazes de participarem ativamente de cada fase de sua aprendizagem, são capazes de aprender e de construir seu próprio conhecimento, além de produzirem cultura. Devemos aprender a escutá-los de verdade, sem ignorar quando se manifestam. Praticar a escuta ativa é estar atento a todas essas formas de comunicação, para compreender as verdadeiras necessidades dos bebês e de todas as crianças.

Os bebês já nascem curiosos, e é isso que os fazem descobrir o mundo à sua volta. Incentivar essa habilidade é importante para que eles continuem aprendendo de forma ativa, sem depender que um adulto lhes direcione o caminho em todos os momentos. O bebê precisa que o adulto o veja com um olhar de encantamento e que lhes oferte oportunidades de ser um indivíduo potente, capaz de construir conhecimentos.

Como educadora, em alguns momentos me vejo, sentada no chão, à altura do olhar dos bebês, que por sua vez assumem o papel ativo de nos mostrar o caminho, na forma mais singela e generosa, pois suas contribuições, gestos e descobertas nos ensinam através da magia, da ludicidade e do compartilhamento das brincadeiras, que a infância é gostosa de ser vivida, e nos mostram que o tempo relógio que nós adultos nos preocupamos tanto para eles não faz sentido. Isso significa entender que este bebê não é valioso apenas porque será o adulto de amanhã, mas sim porque ele já tem muito a contribuir e construir independentemente de sua idade. O bebê precisa ser valorizado e incentivado a expressar pensamentos, sentimentos e necessidades. Ele deixa de ser apenas quem recebe as regras prontas, e começa a participar de forma ativa em diferentes contextos de seu dia a dia e cabe a nós adultos valorizar este tempo. Paulo Fochi, em seu livro, Afinal, o que fazem os bebês no berçário? Refere: “Acredito que, ao reconhecer essa imagem de bebê, é possível ir descobrindo pistas sobre o trabalho docente para esta faixa etária. Nesse sentido, é fato que o papel do adulto se modifica, deixando de lado as certezas e apostando na oportunidade de observar como, o que, com quem, por quanto tempo e de que forma os bebês fazem para criar e recriar seu entorno”. (2015, p.151)

Como educadora é preciso estar em constante busca de conhecimentos e aperfeiçoamento profissional, pois percebo que além de observar os bebês, é preciso ter olhos de criança, (olhar – escutar), para então pensar, planejar e por em prática o que oferecer para favorecer e ser mediadora deste protagonismo que os acompanham desde seu nascimento e da continuidade nesta escola que valoriza este pequeno ser, tornando-o visível para a sociedade. E deste olhar e escuta atenta, podemos construir contextos de aprendizagens que, de fato, atendem às necessidades destes bebês.