Foto
Viagem

Tromso, na Noruega: o melhor lugar onde ver a aurora boreal

9 dicas para aproveitar a capital mundial do fenômeno natural mais espetacular do planeta

Observar a aurora boreal, aquele fenômeno de luzes coloridas dançantes no céu, que só acontece em alguns poucos lugares do planeta, é um dos sonhos de viagem mais desejados por amantes da natureza. E não existe nenhum lugar do mundo onde ele seja mais possível de ser avistado que a pequena cidade de Tromso, no remoto Norte da Noruega, considerada a capital mundial da aurora boreal no hemisfério norte. E mesmo assim, sem garantias ver o fenômeno, já que nunca se sabe se as condições climáticas estarão ideais para uma visualização perfeita. Eu e o fotógrafo e cinegrafista Marcello Cavalcanti estivemos lá num mês de janeiro participando de verdadeiras caçadas às “luzes do norte” e vimos as cenas mais incríveis das nossas vidas.

Minha primeira aurora boreal-5.jpg

Apresentamos a seguir 9 dicas para aproveitar o melhor dessa jornada pela capital da aurora.

Por que se diz que Tromso, na Noruega é o melhor lugar para ver aurora?

A resposta está na geografia de Tromso, que faz deste um raríssimo lugar da Terra onde a chance de ver a aurora a olho nu é maior. Esta cidade portuária de 72 mil habitantes fica a 69 graus de latitude norte, relativamente próximo dos 90 graus do Pólo Norte e logo abaixo do chamado oval da aurora. Quanto mais próximo do pólo e mais escuro no inverno, melhor. E acredite se quiser: apesar da friaca que pegamos, o microclima de Tromso faz dela um ponto menos frio para os visitantes do que outras regiões. A cidade recebe correntes marítimas “mornas” do Golfo do México e seus descampados estão abrigados pelas montanhas na divisa com a Finlândia — para onde fomos em algumas noites em busca das luzes mágicas. Ou seja: o turista sofre menos.

Onde mais dá pra ver a aurora boreal?

A aurora boreal acontece praticamente em apenas oito países, a maior parte deles na região do entorno do Círculo Polar Ártico, no extremo norte do planeta: além da aurora boreal em Tromso, na Noruega, é possível ver auroras boreais também na Finlândia, Groenlândia, Islândia, Suécia, Rússia, no Canadá e nos Estados Unidos (na região do Alaska). Eu tive a felicidade de avistar a aurora em dois deles, na Noruega e na Islândia. Ver a aurora traz um sentimento de êxtase, pela contemplação de um fenômeno muito raro na natureza. A aurora boreal é um fenômeno que parece algo sagrado: de repente, na escuridão do céu, você começa a ver umas nuvens se movendo rápido, e essas nuvens são verdes, rosadas, avermelhadas, azuis. Elas podem durar poucos segundos, como um arco-íris, ou até mais de meia hora. Ao ver pela primeira vez, as pessoas celebram como se estivessem estreando ao ver os fogos de ano novo em Copacabana, no Rio. Rolam abraços e lágrimas.

Minha primeira aurora boreal-4.jpg

Qual a melhor época para ver a aurora?

A temporada para ver a aurora boreal fica concentrada entre setembro e abril, quando é inverno no extremo norte do globo terrestre. A temperatura quando estivemos na Noruega, em Tromso chegou a congelantes -13o Celsius na madrugada. Como sou friorento, precisei usar 3 calças, 6 blusas, 3 pares de meia, gorro, dois pares de luvas e balaclava como aquelas dos motociclistas. A escuridão domina quase o dia todo. Pegamos dias com apenas quatro horas de luz. De 21 de novembro a 20 de janeiro, Tromsø não recebe sol algum durante a chamada “Noite Polar”.

Minha primeira aurora boreal-3.jpg

O que é, afinal, a aurora boreal?

A princípio, é difícil de entender mesmo - e as melhores pessoas para detalhar tecnicamente são os guias profissionais locais, chamados de caçadores de auroras. A explicação científica que eles me deram é mais ou menos assim: vamos imaginar a Terra girando em torno do sol. O astro-rei emite pequenas partículas, como os elétrons, que são trazidas por ventos solares em direção à Terra. Quando essas partículas entram em contato com o campo magnético na atmosfera, acontece uma espécie de queima dessa poeira, gerando aos nossos olhos o brilho colorido chamado aurora boreal. Essas luzes só podem ser vistas nas regiões polares. No Pólo Norte, a aurora é a boreal, e no Pólo Sul, o nome é Aurora Austral, mais difícil de ser vista porque na Antártica pouca gente chega.

Como é a rotina de uma caçada de aurora boreal?

Primeiro você deixa pré-agendada a noite em que vai encarar a caçada. Antes de partir, durante o dia, os guias se atualizam sobre as condições climáticas. Para ter visibilidade, é preciso evitar dias de chuva, de neve, de nebulosidade. Para não perder tempo e dinheiro, é fundamental estar bem assessorado por estes especialistas, que acompanham a meteorologia em tempo real. Estávamos com os experts da Borealis Expedições, operadora de turismo brasileira especializada em aurora e aventuras na região do Ártico. Por volta das 17h30, a van ou o microônibus parte do Centro de Tromso e pega a estrada para refúgios naturais distantes das luzes da cidade. As caçadas noturnas podem levar de 6 até 11 horas de duração. Em 4 noites, vimos 4 auroras!

E durante o dia, o que tem para fazer em Tromso?

Durante o dia, no Norte da Noruega, os passeios são bem legais: na cidade, dá para subir de teleférico uma montanha nevada para ver as casas coloridas cobertas por neve acenderem suas luzes no “anoitecer” – que em janeiro acontece às 14h. Vale a pena apreciar a arquitetura escandinava da Catedral do Ártico, no Aquário e na Biblioteca local. Recomendo andar pela passarela à beira d’água para ver os muitos barcos que navegam por ali. Aliás, pode-se navegar pelos braços do Mar da Noruega para tentar avistar baleias (e, para quem vai à noite, quem sabe flagrar a aurora). Vai ser delicioso comer os pescados frescos locais, como o bacalhau e o salmão selvagem, nos restaurantes Fiskercompaniet e Mathallen. Ah, não perca o sanduíche de rena do Bardus. Nos arredores de Tromso, existe um programa turístico clássico dessas bandas frias do planeta: o Ice Dome, um hotel com bar de gelo aberto para visitas também de não-hóspedes.

Dog sledding: como é andar de trenó na neve com cachorros?

Um dos programas mais fantásticos por ali é passear de dog sledding, como faziam os primeiros exploradores polares na virada do século 19 para o 20. A Noruega é a terra de Fridtjof Nansen (1861-1930), criador do lendário navio Fram de exploração polar (aliás, o navio-museu é um programa para quem visitar a cidade de Oslo). É terra também de Roald Amundsen (1872-1928), que pegou o Fram emprestado de Nansen para tornar-se o primeiro homem a atingir o Polo Sul, em dezembro de 1911. Depois de uma aula rápida em uma fazenda que cria cerca de 100 bem-cuidados cães da raça husky do Alasca em Kvaløya, a meia hora de Tromso, a expedição de 1h30 rasga 15 quilômetros da imensidão de neve com um pequeno grupo de trenós. Cada um deles é puxado por seis cachorros dóceis, que fazem uma algazarra desde o primeiro momento em que percebem que vão passear a temperaturas de 10 graus Celsius negativos. “Eles são bem cuidados e adoram o que fazem”, explica a criadora Hege Hansen.

Minha primeira aurora boreal-7.jpg

Vale a pena encarar uma aventura de snowmobile?

Super vale. É preciso viajar 2h30 de carro desde Tromsø até a fronteira entre Noruega, Suécia e Finlândia, onde nessa época fica congelado o belo lago de Goldajärvi. Vento, frio de 7 graus negativos e neve não espantam ninguém na hora de acelerar estas incríveis motinhos de neve com 250 quilos pelos confins da Lapônia (famosa como a terra do Papai Noel). A paisagem é uma imensidão branca de neve e gelo pontuada apenas pelos troncos marrons das árvores secas. E a parada no meio do nada para tomar sopa e chocolate quente em volta da lareira de uma cabana de madeira à beira do lago vira uma confraternização inesquecível com outros viajantes.

É fácil conhecer os nativos do povo Sami?

Sim, várias famílias recebem visitas nos arredores de Tromsø. Os Sami são o povo originário da Lapônia. Existem cerca de 35 mil descendentes desses indígenas lapões na Noruega (e outros tantos vivendo entre Finlândia, Suécia e Rússia). Na comunidade, o viajante pode alimentar algumas das 300 renas selvagens que frequentam a fazenda. Depois de assistir a uma apresentação da anfitriã, a cantora Anneli Guttorm, pudemos experimentar o bidos, ensopado típico feito com a carne das renas. Ouvimos histórias em volta do fogo, aprendemos sobre a cultura, os trajes e os instrumentos musicais dos Sami. E, no final, fomos convidados até a cantar palavras em sami celebrando algo que eles consideram sagrado: a impressionante aurora boreal.

Minha primeira aurora boreal-6.jpg

Fotos e vídeos: Marcello Cavalcanti

All2Out

Cadastre seu e-mail e obtenha acesso a todas as matérias.