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Michelangelo: a Arte de Revelar a Beleza Humana

Michelangelo Buonarroti, que viveu entre os séculos XV e XVI, foi um dos mais influentes, atuantes e brilhantes artistas da história. Ele ficou conhecido por suas obras-primas em escultura, pintura e arquitetura, que desenvolveu ao longo de uma carreira que durou mais de 70 anos.

Veio a se tornar um dos nomes mais importantes do Renascimento italiano, período de grandes inovações, ao lado de outros nomes que entraram para a história como Leonardo da Vinci, Rafael e Ticiano.

Sua fama o levou a ser chamado de “O Divino” e a ser um dos primeiros artistas ocidentais a ter sua biografia publicada ainda em vida.

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Teto da Capela Sistina, Criação de Adão (detalhe), 1508-12

Quem foi Michelangelo e quais suas principais obras?

Michelangelo nasceu no dia 6 de março de 1475, em Caprese, na Itália. Ele dividiu-se ao longo da vida entre as cidades de Florença e Roma, onde viviam seus principais mecenas: a família Medici e os vários papas para quem trabalhou.

Teve uma infância difícil e a sua família não lhe deu suporte. Assim, na juventude, antes de seguir a sua vocação, fez outras tentativas, como uma experiência numa escola de gramática. Enveredou para as artes quando conseguiu se matricular na oficina de um dos principais mestres de Florença, Domenico Ghirlandaio.

Após passar por escolas de outros mestres, concentrou-se nos estudos sobre anatomia humana, chegando a dissecar cadáveres, além de desenhar a partir de modelos. Assim, foi construindo seu conhecimento sobre a representação do corpo humano.

Ficou famoso principalmente por duas obras icônicas: a escultura de David (1501) e a pintura do teto da Capela Sistina (1512). Mas produziu também outras obras de incrível beleza, como a Pietà (1499) e a escultura de Moisés (1515).

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David (detalhe), 1501

Por que Michelangelo é tão famoso?

Se você já teve a chance de ver as obras do artista de perto, talvez tenha experimentado a sensação momentânea de que elas estavam vivas. De fato, muitos admiradores da arte de Michelangelo tiveram essa mesma impressão!

Inclusive é o que o próprio artista parecia pensar. De acordo com uma lenda bastante popular, quando Michelangelo finalizou a estátua de Moisés, ficou tão impressionado com sua própria obra que bateu com um martelo no joelho direito da estátua e gritou: “Fala! Por que não falas?”.

Sua habilidade em retratar a forma humana é especialmente notável, com muitos de seus trabalhos mostrando a anatomia com detalhes precisos. Vale observar que os seus personagens não têm o porte delicado. Todos exibem uma musculatura hipertrofiada, que é uma característica do seu trabalho.

Além de representar a figura humana de forma tão vívida, na pintura, Michelangelo criou composições complexas, com múltiplos personagens, jogos de perspectiva e de luz e sombra, em que mostrava dominar o uso da cor.

Todas essas características reunidas, somadas ao fato de que a sua longevidade, altíssima para os padrões da época, permitiu que o seu nome ficasse em voga ao longo de muitas décadas, fizeram com que o seu trabalho fosse tão reconhecido.

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Moisés, 1515

O que Michelangelo defendia?

Michelangelo viveu a última fase do Renascimento, conhecida como “Renascimento Pleno”. Foi uma época marcada por grandes conflitos e intensas mudanças na vida cultural. Foi o período de consolidação do antropocentrismo.

Esse é um conceito humanista que coloca o ser humano no centro do universo, enfatizando sua nobreza, beleza, liberdade e intelecto. O antropocentrismo renascentista seguia acreditando em Deus como o Criador, mas considerava o Homem como a mais divina das criações.

Assim, a arte passou a valorizar o emprego de proporções ideais na arquitetura e na representação do corpo. E a recorrer aos cânones clássicos, vindos da cultura greco-romana, como referência de modelo ideal de beleza e equilíbrio.

Outra característica do período foi o interesse pelo estudo científico do mundo natural, o que influenciou os artistas a se deter nos detalhes, e favoreceu descobertas nos mais diversos campos, da anatomia à botânica.

Ao mesmo tempo, a arte passou a ter uma função social, que seria influenciar na condução das almas pelo caminho da virtude. Não à toa, a Igreja era uma das grandes financiadoras da produção artística.

Foi dessa fonte, ou melhor, desse verdadeiro caldeirão cultural, que Michelangelo bebeu para realizar as suas obras, o que o tornou um dos artistas a melhor conseguir expressar o belo, o trágico e o sublime, numa dimensão universal.

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Teto da Capela Sistina, 1508-12

A arte monumental de Michelangelo

Com apenas 23 anos, o artista esculpiu a Pietà, obra que demonstra a sua grande devoção e que até hoje é aclamada pelo seu finíssimo acabamento e pela sua composição em pirâmide. A cena impressiona ao mostrar o Cristo com uma face tranquila nos braços da Virgem.

Chama a atenção o largo manto cheio de dobras cuidadosamente esculpidas. Curiosamente, essa é a única estátua que Michelangelo assinou.

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Pietà, 1499

Já o colossal David revela a inigualável capacidade do artista em representar o corpo humano. Sua maior escultura, com mais de 5 metros de altura!, foi feita a partir de um bloco único de mármore.

Por ser a imagem de um homem gigantesco, inteiramente nu, causou polêmica ao vir a público pela primeira vez e, por incrível que pareça, causa polêmicas até hoje.

Mas o David de Michelangelo é o retrato do triunfo. Sua expressão tensa e a disposição de seu corpo revelam que ele está nos momentos preparatórios para o combate com Golias do qual, como sabemos, sairá vencedor.

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David (detalhe), 1501

O épico desafio de Michelangelo: A realização do teto da Capela Sistina

A pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano, tornou Michelangelo responsável por uma das maiores realizações da arte cristã de todos os tempos. Ele estudou minuciosamente cada detalhe das imagens de seu projeto, que foi realizado ao longo de quatro anos, entre 1508 e 1512.

As cenas foram concebidas sem relação espacial umas com as outras, ou com as figuras laterais, e para serem observadas a partir de mais de um ponto de vista. O conjunto demonstra uma força sem precedentes na pintura ocidental, por seu caráter monumental e poético.

Mas nem tudo é glória no caminho da imortalidade! O esforço repetitivo de ter ficado anos pintando de forma exaustiva, numa posição totalmente incômoda para o pescoço e a coluna, custou ao artista danos à saúde dos quais nunca mais se recuperou.

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Teto da Capela Sistina, 1508-12

Curiosidades sobre os afrescos da Capela Sistina

Na abóbada de 40 x 13 metros, Michelangelo pintou cenas do Gênesis, como a Criação de Adão, o Pecado Original e o Dilúvio, além de retratar os profetas e outros personagens que ajudavam a compor as cenas mas não necessariamente eram relacionados ao enredo.

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Teto da Capela Sistina (detalhe), 1508-12

Era o caso dos “Ignudi”, homens totalmente nus que aparecem em poses relaxadas, talvez como uma forma que o artista encontrou de humanizar as mensagens da bíblia e nos conectar mais facilmente com elas.

Um fato bastante curioso é que, no painel que mostra a Tentação, o fruto proibido é representado por um figo, e não por uma maçã, como a tradição católica conta.

Michelangelo teria feito uma interpretação mais alinhada com o judaísmo, numa demonstração de ousadia e liberdade artística. De fato, faz bastante sentido, se pensarmos que, ao sentirem vergonha, Adão e Eva teriam coberto suas partes íntimas com folhas de figueira.

O afresco do Juízo Final, que fica atrás do altar e foi feito por Michelangelo anos mais tarde, entre 1534 e 1541, mostra inúmeras figuras nuas, que, por estarem bastante visíveis, criaram forte incômodo na época.

A polêmica impulsionou a “Campanha da Folha da Figueira”, que consistiu na determinação, feita no Concílio de Trento de 1563, de que as demonstrações de lascívia na arte sacra seriam cobertas pela sobreposição da pintura com as folhas.

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Afresco do Juízo Final, Capela Sistina, 1534-41

Artista multimídia

Na arquitetura, Michelangelo também mostrava paixão pela grandiosidade. Em 1519, projetou o edifício e o interior da Capela de São Lourenço, mas seu trabalho mais ambicioso foi sua participação na reforma da Basílica de São Pedro.

Como se não bastasse, ainda sobrou talento para se dedicar à poesia. Porém, apesar da qualidade de seus versos, a maioria deles foi escrita em fragmentos de papel e compartilhada apenas com um reduzido círculo de amigos.

Por tudo isso, Michelangelo me faz acreditar na maravilhosa capacidade do ser humano de se superar sempre!

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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