Muito à frente do seu tempo

Quando eu vi Nair pela primeira vez eu tinha apenas 17 anos. Era março de 1979 e os metalúrgicos do ABC iniciaram a vitoriosa greve que cavou a cova da ditadura militar. Eu estava começando com minha Pentax-MX e olhava para os fotógrafos deslumbrada com as enormes lentes teleobjetivas que usavam. Não sabia se observava para aprender com aquela mulher no meio de tantos fotógrafos homens ou se fugia das bombas e da cavalaria… Aquela admiração que parecia absolutamente gratuita foi se tornando cada vez mais real e profunda conforme pude conhecer de perto essa pessoa integra, sensível e solidária. Características que fazem dela a fotógrafa ímpar que é. Afinal, nossa fotografia é o que somos. Nossa imagem criada é a somatória de escolhas fizemos. E Nair escolheu trilhar por contar as histórias de nosso povo e suas lutas.

Já vi algumas vezes nossa mestra dizer que é fotógrafa documentaria. Mas Nair não apenas documenta, ela cria imagens que nos faz pensar e transcender ao que vemos. Lembra daquelas mulheres do sisal? Que “zona de indeterminação” !! A desgraça de um trabalho que mutila braços e dedos das mulheres é transformada numa imagem etérea e bela. E a moça da foto “Louvação a Iemanjá” na Praia Grande Santos-SP, em 1978 ? E a outra jovem que segura o cabide com a boca e clama pela liberação do aborto? Ou as indígenas Kaiapós, em 1986, na beira de um rio, com milhares de borboletas amarelas que as cintilam e as emolduram ? Não são simples registros da condição da mulher. São imagens pensativas e potentes que nos tiram da zona de conforto.

Lembro da exposição que Nair participou no MIS-SP,em maio de 2017, quando balançou as estruturas trazendo imagens criadas a partir de um poema de sua autoria onde misturava e fundia imagens reais com desenhos de grafites que via pelos muros da cidade numa multiplicidade de procedimentos. O enigma dessas fotos provocavam produção de sentidos. Não eram meras imagens documentais… Nair nos ensina ao mesmo tempo pensar a fotografia com inteligência e comunicar pelo fotojornalismo com emoção e paixão. Nos enche de orgulho te homenagear este ano, Nair.

Por Mônica Zarattini
Vice-presidente ARFOC-SP

O olhar feminista , transformador , solidário, inclusivo e engajado politicamente das imagens compromissadas de nossa mestra Nair Benedicto nos traz testemunhos questionadores do nosso tempo.
Luludi
ex-presidenta da arfoc-sp
Nair tem um jeito leve e destemido de fotografar. Não tem como passar pela fotografia política sem se inspirar no trabalho dela. Para ela, assim como pra mim, tudo é política, vem daí minha admiração imediata. A fotografia pioneira de Nair, assim como a mensagem de vida que ela passa atraves de seu olhar, nunca foi tão atual e necessária.
Gabriela Biló
FOTOJORNALISTA


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