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Desventuras / Michelangelo

Por que Michelangelo esculpiu Moisés com chifres?

Origem do detalhe curioso estaria em um possível erro de tradução referente à passagem da Bíblia na qual Moisés recebe os 10 Mandamentos

Ingredi Brunato Publicado em 25/06/2023, às 10h00 - Atualizado em 26/06/2023, às 18h06

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Fotografia de Moisés de Michelangelo - Domínio Público
Fotografia de Moisés de Michelangelo - Domínio Público

Michelangelo di Lodovico Buonarroti foi um dos maiores artistas que já viveu. Gênio do Renascimento, o italiano pintou e escreveu poemas, mas sua forma de arte preferida era a escultura.

O legado deixado por ele, que inclui cerca de 300 esculturas, surpreende devido à exatidão anatômica apresentada pelas figuras que ele retratava. Assim, além de seu talento com o cinzel e o martelo, Michelangelo impressionava com seu conhecimento do corpo humano.  

Uma de suas estátuas, no entanto, possui um detalhe anatômico estranhado por muitos: trata-se de uma obra encomendada pelo Papa Júlio II em 1505 na qual o artista renascentista representou Moisés, um personagem bíblico conhecido por ajudar libertar o povo hebreu do domínio do Egito e então guiá-lo através de uma diáspora que incluiu o marcante episódio em que ele teria dividido o Mar Vermelho em dois. 

Outra passagem bíblica importante envolvendo Moisés é aquela na qual ele recebe de Deus as tábuas com os 10 Mandamentos que devem ser seguidos por aqueles que são fiéis a Ele, e é este importante momento da Bíblia que serve de contexto para a escultura de Michelangelo — o personagem é retratado sentado com as tábuas sagradas embaixo dos braços. 

Embora seja humano, no entanto, o Moisés esculpido pelo italiano chama a atenção por ter dois chifres adornando sua cabeça. Por que isso aconteceu?

Erro de tradução

Vale mencionar que existem muitas iconografias cristãs da época medieval que mostram a figura bíblica com chifres. O motivo está no próprio Livro Sagrado, ou melhor, em uma tradução das escrituras hebraicas para o latim feita por Eusébio Sofrônio Jerônimo, um sacerdote, teólogo e historiador do século 1 d.C.

Representação de Moisés onde ele também possui estruturas semelhantes a chifres / Crédito: Domínio Público

"Quando Moisés desceu do monte Sinai com as duas tábuas da aliança em suas mãos, ele não sabia que a pele de seu rosto havia ficado radiante enquanto ele falava com o Senhor", diz a passagem em questão, que pertence ao Êxodo. 

Na versão original, o "radiante" é expresso pela palavra "qaran", do hebraico, que, contudo, possui uma segunda interpretação possível: "com chifres".

Assim, enquanto algumas traduções da Bíblia para o latim dizem que o líder religioso estaria "radiante", outras, tal qual é o caso daquela feita por Jerônimo, alegam que Moisés tinha chifres quando se reuniu ao povo hebreu trazendo os 10 Mandamentos.

Foto aproximada da escultura de Moisés /Crédito: Pixabay

Conforme apontado pelo portal Aleteia, a maioria dos teólogos atuais concorda que a tradução de "qaran" como "radiante" faz mais sentido, mas, de forma curiosa, existe também como justificar a interpretação da palavra como uma indicação de um Moiséschifrudo

Isso, pois, chifres eram vistos como um sinal de poder e autoridade nos tempos antigos, e não como um símbolo do mal — tanto é que muitas das divindades cultuadas pelas civilizações da Antiguidade possuíam essa característica.

Assim, o que a passagem do Êxodo realmente queria dizer é relativamente aberta à interpretação dos leitores contemporâneos, uma vez que não podemos perguntar diretamente para as pessoas que escreveram o livro bíblico. 

Outra obra curiosa!

No podcast 'Desventuras', o historiador Vítor Soares resgata curiosidades de uma das obras mais fascinantes da história da arte: 'A Noite Estrelada' de Van Gogh. Confira o episódio completo abaixo!