Artigos, revistas e fatores de impacto

Uma conversa prévia

Faça chuva ou sol, calor ou granizo, nossos aparelhos digitais nos acompanham, onde quer que estejamos: smartphones, TV’s, tablets, ipads, notebooks e outros “brinquedos” tecnológicos. Com eles, os bipes familiares das notícias explodem como vulcões em erupção na barra de notificações, ou até mesmo, caso tenha a aquela raríssima rotina de abrir o email, verá que elas também estão lá, em algum lugar. Uma pesquisa de bobeira no Google também vale, viu?

Ao passarmos um filtro nessas notícias (deixando as fofocas de lado, é claro), podemos observar que muitas delas apresentam trabalhos científicos sob algum tipo de divulgação: basta observar a comunicação científica promovida pela National Geographic Scientific American.

 

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Foto 01. Revista National Geographic. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=Vk-HI3SDoH0&gt;.

 

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Foto 02. Revista Scientific American. Fonte: <https://www.scientificamerican.com/magazine/sa/2010/01-01/&gt;.

 

Normalmente são textos super curtos (textos-pílula) que oferecem uma demonstração didática e chamativa para algo que foi descoberto ou pesquisado (um fóssil muito antigo ou uma bactéria que degrada plástico), inventado, quem sabe (como drogas e antibióticos para combater doenças)…muitas notícias parecidas são encontradas a todo momento na web (e até mesmo compartilhadas nas mídias sociais por alguns dos seus amigos), onde não passam de “pequenas migalhas” de um grande pão fermentado chamado “ciência.”

 

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Foto 03. Olha o fluxo de informações! Fonte: <https://blog.gs1br.org/internet-das-coisas-troca-de-informacoes-entre-produtos/&gt;.

No meio do fluxo

No universo onde múltiplas áreas de pesquisa permanecem constantemente maleáveis e reinventam-se a cada segundo, é natural que ocorra esse fluxo significativo de informações por meio dos noticiários, muitas das quais remetem-se, de uma maneira mais aprofundada, à invenções tecnológicas, descobertas, explanação de teorias, construção e exclusão de hipóteses; além de réplicas, tréplicas entre pesquisadores sobre um determinado assunto que está sendo discutido; e assim por diante. Inúmeras instituições de ensino e pesquisa, situadas em diversos países do mundo, representam as “fábricas” que oferecem subsídios a esse fluxo.

Perceba que a maior parte daquelas notificações que você “nervosamente” move o dedo para arrastar e apagar do seu celular (sem qualquer “pingo” de paciência) proporcionam as informações imprescindíveis sobre o que acontece no mundo científico. Elas podem atualizá-lo, por exemplo, das taxas de derretimento anual das calotas polares na Groenlândia (bate na madeira, por favor) ou até mesmo sobre as condições migratórias dos tentilhões nas Ilhas Galápagos, na costa da América do Sul (Equador). Calma ai…não tenha tanta pressa em apagá-las! Pra que tanta agonia?

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Para proporcionar tal fluxo, a ferramenta que os cientistas comumente usam são os artigos científicos. Um artigo é o documento na qual são organizados os dados empíricos e sistemáticos que representam os resultados embasados sobre algum aspecto da realidade sob investigação, através de inúmeros modelos de organização, possuindo a importante finalidade de nos informar por intermédio de um texto científico.

 

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Foto 04. Artigos científicos. Fonte: <https://www.somostodosum.com.br/conteudo/artigos-da-semana.asp&gt;.

 

De acordo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), quando olhamos para a norma NBR 6022 (2018, p.2), o enunciado apresenta que o artigo científico pode ser definido como a “publicação com autoria declarada, de natureza técnica e/ou científica, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento.” 

Pegando no pesado

Em outras palavras, existem pessoas (que não estão muito longe de onde você está) que passam a vida investigando os fenômenos, elaborando hipóteses, coletando os dados, realizando as análises, organizando os resultados e as conclusões sobre o que foi interpretado e finalmente sentam na cadeira para redigir os artigos. Depois de tanta dedicação e horas sem dormir, os trabalhos científicos nascem fresquinhos, como pãezinhos franceses recém-saídos do forno em uma padaria. Delícia, hein?

Uma vez que um determinado artigo é criado por um pesquisador, seus resultados alcançados devem (precisam) se tornar públicos e conhecidos através de revistas científicas especializadas (credenciadas pela comunidade científica), cada uma possuindo pré-requisitos básicos na área em que o artigo à ser publicado for mais conveniente, em relação aos dados que precisa expor para o público.

“Aquele pente fino”: o papel das revistas científicas

Quando se trata de comunicação em ciência, o peso das revistas científicas são relevantes para a divulgação dos artigos que você escreve. Tratam-se de publicações periódicas, geralmente vinculadas e auxiliadas por sociedades científicas ou instituições de pesquisa (AMABIS e MARTHO, 2016).

 

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Foto 05. Revistas científicas. Fonte: <https://bibliotecaucs.wordpress.com/2013/12/17/fator-de-impacto-o-fetiche-do-cientista/&gt;.

 

Cada revista possui seus editores, cada qual sendo um pesquisador renomado em uma determinada área. Se você atua, por exemplo, na área de Biotecnologia, seus artigos mandados para uma revista dessa área passarão por um “pente fino” na mão do editor, cuja função é avaliar se os artigos preenchem os requisitos necessários para serem publicados (as avaliações e requisitos pré-estabelecidos variam de uma revista à outra).

Porém, esse juiz nunca está sozinho na partida de futebol: outros cientistas atuam como árbitros (muitos anonimamente) que ficam responsáveis por dar os cartões amarelos (se recomendam a aceitação dos trabalhos científicos com eventuais correções) e os cartões vermelhos (rejeição dos trabalhos).

 

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Foto 06. Entre editores e revisores de revistas. Fonte: <http://www.sibi.usp.br/noticias/quem-e-melhor-para-as-revistas-editores-academicos-ou-profissionais/&gt;.

 

Esse olhar criterioso tem sua importância para uma revista científica em questão. Isso serve para excluir banalidades e excentricidades e verificar a qualidade e relevância dos artigos a serem publicados. Tal procedimento é denominado de “julgamento por pares.”

O “tribunal” é para todos: um pesquisador importante e consagrado ou um iniciante passará por esse processo de julgamento sempre que quiser publicar seus artigos na revista. Isso impede que a aceitação de uma ideia dentro da ciência seja considerada só por que o pesquisador é “famoso.” Pode tirar o cavalinho da chuva. Não é assim que a banda toca dentro das revistas.

Quanto maior, melhor! os Fatores de Impacto

O prestígio como consequência da apresentação dos artigos, dentro de uma revista,  faz parte do longo processo de alcance intelectual e compromisso que cada pesquisador possui para com o público (faça o feedback! Desça  do “pedestal” e mostre para as pessoas o que conseguiu com sua pesquisa). Mas…e a revista? Que tipo de alcance ela possui, dentro da sua área de atuação? O quão visível ela é? É algo a se pensar antes de publicar um artigo. Essa é outra questão relevante para nossa conversa sobre comunicação científica: Estamos falando dos fatores de impacto.

Criado em 1955 pelo pesquisador americano Eugene Garfield (1925-2017), (hoje considerado um dos fundadores da biblometria e da cienciometria), o Fator de Impacto (FI) é um índice amplamente utilizado para avaliar a qualidade das revistas científicas com base nas citações que ela recebe.

 

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Foto 07. Fatores de Impacto: métricas envolvidas. Fonte: <https://www.ufrgs.br/blogdabc/fator-de-impacto-o-fetiche-do-cientista/&gt;.

A qualidade expressada em números

O fatores de impactos são disponibilizados pela Journal Citation Reports (JCR), que trata-se de uma base de dados onde são avaliados os periódicos indexados na Web of Science, sendo responsável por apresentar dados quantitativos das seguintes áreas do conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas, Ciências da Terra e Engenharias.

O cálculo é fornecido com a somatória das citações dos artigos recebidas no ano do cálculo do fator de impacto e dividindo esse número pela quantidade de artigos publicados nos dois anos antecedentes a esse cálculo. Quer um exemplo? Se, hipoteticamente, 400 artigos tiverem sido publicados na revista Science nos últimos dois anos e ela ter recebido 200 citações no último ano, o seu fator de impacto será representado pelo valor de 0,5 (200/400). O raciocínio é bem explicado pelo Galoá Journal.

 

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Foto 08. Calculando o Fator de Impacto (FI). Fonte: <https://galoa.com.br/blog/o-que-e-fator-de-impacto-das-revistas-cientificas&gt;.

 

Cada revista tem seu próprio fator de impacto, por ser uma métrica importante para o reconhecimento e visibilidade do periódico. Quando se resolve publicar os artigos, os fatores de impacto são os medidores utilizados pelos programas de pós-graduação. 

O outro lado da pintura

Apesar desse quadro ser bem bonito, algumas manchas imperfeitas acabam aparecendo. Existem algumas ressalvas quando a esse tipo de avaliação dos fatores de impacto. Algumas problemáticas estão envolvidas, como por exemplo a variação encontrada na renovação do conhecimento dentro das áreas e sub-áreas; artigos citados que nem sempre são necessariamente “bons”; isso sem falar no caso das autocitações…stop! Vamos pisar o pé no freio. É um assunto à ser discutido mais a finco em outro post (outros assuntos irão aparecendo naturalmente, como a avaliação da qualidade dos periódicos utilizados como meio de divulgação das pesquisas científicas no Brasil (a importância da lista dos Qualis Capes é a cereja do bolo para que isso ocorra). Mas, como disse, é conversa para outro dia. 

Todo dia é uma coisa nova. A ciência é maleável, intrigante, abrigando uma ampla variedade de conhecimentos e investigações que renovam-se a todo momento, proporcionais aos bipes das notícias que chegam até o seu “cafofo”, na telinha do seu computador ou celular. Ou não! Isso pode ser melhorado se mais pesquisadores estiverem engajados e preocupados na maneira como a informação científica está sendo distribuída ao público (e se está alcançando-o) pelos artigos publicados nos periódicos e alicerçada pela análise dos fatores de impacto. Deem ao povo o que é do povo!

Referências:

  1. ABEC BRASIL. Conheça o fator de impacto das revistas brasileiras indexadas no Journal of Citation Reports (JCR). Associação Brasileira de Editores Científicos, 23 ju. 2017. Disponível em: <https://www.abecbrasil.org.br/novo/2017/06/journal-citation-reports-jcr/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018. 
  2. ABM. Jmr&t é a revista científica com o maior fator de impacto do Brasil. Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração. Disponível em: <https://www.abmbrasil.com.br/por/noticia/jmr-t-e-a-revista-cientifica-com-o-maior-fator-de-impacto-do-brasil&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  3. AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia moderna. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2016. 296p.
  4. BARROS, M. Qual é um bom fator de impacto? Bibliotecário sem Fronteiras, 28 jul. 2014. Disponível em: <https://bsf.org.br/2014/07/28/como-saber-qual-e-um-bom-numero-fator-de-impacto-revista-periodico/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação: Artigo em publicação periódica técnica e/ou científica. ABNT NBR 6022, 16 mai. 2018.
  6. BIBLIOTECA DA FEUP. Publicação científica: revistas científicas e indicadores bibliométricos. Disponível em: <https://libguides.fe.up.pt/publicacao-cientifica/revistas&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  7. COMUNICAÇÃO SAA. Revista científica editada pelo IAC tem segundo maior fator de impacto dentre as científicas de ciências agrárias. Secretaria de Agricultura e Abastecimento: Governo do Estado de São Paulo, 05 set. 2017. Disponível em: <https://www.agricultura.sp.gov.br/noticias/revista-cientifica-editada-pelo-iac-tem segundo-maior-fator-de-impacto-dentre-as-cientificas-de-ciencias-agrarias/>. Acesso em: 17 dez. 2018.
  8. DBDFM USP. Lista com fator de impacto dos periódicos brasileiros. Biblioteca FMUSP, 17 out. 2018. Disponível em: <https://spdbcfmusp.wordpress.com/tag/fator-de-impacto/&gt;. Acesso em 17 dez. 2018.
  9. ELTON, A. 3º Seminário de avaliação do desempenho dos periódicos brasileiros no JCR 2011. Blog do Pascal Aventurier, 02 nov. 2012. Disponível em: <https://publicient.hypotheses.org/tag/fator-de-impacto&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  10. JÚNIOR, R. P. Fator de Impacto CAPES-QUALIS. Mundo Moderno. net, 3. jan. 2013. Disponível em: <https://mundomoderno.net/fator-de-impacto-capes/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  11. MARQUES, F. Métricas responsáveis: empresa que calcula o fator de impacto de revistas científicas passa a divulgar dados que mostram o contexto de seus resultados. Revista Pesquisa Fapesp 270, ago. 2018. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/20/metricas-responsaveis/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  12. PERIÓDICOS DE MINAS. O que é Fator de Impacto e por que ele é importante para o seu periódico. Disponível em: <https://www.periodicosdeminas.ufmg.br/o-que-fator-de-impacto-periodico/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  13. PÓS-GRADUANDO. Como é calculado o Fator de Impacto das publicações? Disponível em: <https://posgraduando.com/como-e-calculado-o-fator-de-impacto-das-publicacoes/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  14. SAUAIA FILHO, E. N. Como avaliar o fator de impacto de uma revista? Pebmed, 21 dez. 2017. Disponível em: <https://pebmed.com.br/como-avaliar-o-fator-de-impacto-de-um-revista/&gt;. Acesso em: 17 dez. 2018.
  15. UMBELINO, F. M. B. C. Factor de impacto de revistas científicas na área de Enfermagem. Revista Referência, v. 02, n. 08, p. 95-100, jan. 2009.

Foto de capa: Estudo mostra como está a aceitação dos artigos de autores brasileiros. Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/estudo-mostra-como-esta-a-aceitacao-dos-artigos-de-autores-brasileiros/

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