Um governo militar, com pouca popularidade e dando claros sinais de decadência, resolve organizar um torneio de futebol internacional para demonstrar prestígio e força, buscando assim uma proximidade com a população do seu país.

Calma, não estamos falando dos dias atuais, não precisa vir proteger ninguém. Descansa, militante!
Contaremos hoje a história do Mundialito da FIFA de 1980, 50 anos depois da 1ª Copa do Mundo, ambos realizados no Uruguai.

Jogaodres de Brasil x Uruguai se enfrentam

Jogadores de Brasil x Uruguai se enfrentam
Reprodução: Internet

 

O Mundialito do Uruguai

Desde 1973, o Uruguai, assim como seus vizinhos sul-americanos, era comandado por uma ditadura militar que perseguia, prendia, torturava e matava seus opositores.

Como vimos em alguns episódios da história, governos ditatoriais tendem a se aproximar do esporte em geral, mas, por se tratar de Uruguai e sua paixão, nesse caso se apoderaram do futebol.

A associação de futebol do Uruguai era comandada por Yamandú Flangini, militar da marinha. A FIFA, por João Havelange, sócio dos militares no Brasil e na Argentina, trazendo inclusive para os hermanos uma Copa do Mundo em meio aos horrores da repressão em 1978.

Ditadura Uruguaia

Ditadura Uruguaia
Reprodução Internet

Em 1980, o regime militar uruguaio iria realizar um plebiscito de “reforma constitucional”, uma maneira de se legitimar no poder. Mesmo tendo o conquistando de forma antidemocrática, a ideia era demonstrar que o povo os aprovava o suficiente para ficarem.

É aqui que entra a ajudinha do futebol. Pois nada melhor, para garantir a vitória, do que fazer um torneio com as principais seleções do futebol.

Os Participantes

Participariam do torneio as campeãs mundiais: Brasil, Argentina, Alemanha Ocidental, Itália e Uruguai. E também a grande potência Holanda (vice em 74 e 78). Só a Inglaterra, das seleções campeãs, declinou.

Um dos grandes interessados na realização do torneio era Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA e idealizador da Escuela de las Américas, local onde foram treinados vários dos torturadores e assassinos das ditaduras militares da América Latina.

Kissinger e os organizadores da Copa de 78 na Argentina se colocaram à disposição do regime uruguaio para garantir a “segurança” do evento.

Em outras palavras, a promessa aqui era evitar que ações armadas de grupos rebeldes atrapalhassem. Mas o plebiscito, 1 mês antes do Mundialito, teve um fim inesperado…

O Não à Ditadura

Ao contrário dos indicadores de pesquisas, o “não” à ditadura venceu, com 57,2% dos votos.

Seguros da vitória, os militares planejaram fraudar as urnas. Assim, a competição iniciou com um clima terrível para o regime militar, apesar do discurso de abertura de Havelange, que rasgou elogios à ditadura.

Sócrates, capitão brasileiro, instruiu a seleção a focar na competição e dar as costas a qualquer ato oficial do torneio. Os favoritos Brasil e Uruguai se encontraram mais uma vez na final, num Estádio Centenário lotado.

Como em 1950, os uruguaios venceram por 2 a 1, mas o resultado pouco importou, uma vez que a grande vitória veio das arquibancadas.

O grito de “se va acabar, se va acabar, la dictadura militar” abafou o “É Campeão”, e os militares uruguaios tiveram que ouvir, calados e atônitos, sem poder fazer nada.

Claro que a ditadura uruguaia não acabou ali. Mas a semente da democracia estava plantada.

A realização do Mundialito de 1980 é tão vergonhosa para a FIFA que a entidade sequer menciona o torneio entre suas competições oficiais. Prefere esquecer.

Copa ORo

Mascote e Logo da Copa Oro
Reprodução: Internet

Referencia de texto: Copa Além da Copa