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O baixinho Sebastian Giovinco não rendeu o esperado, mas foi mestre das bolas paradas

O ano de 2006 é lembrado pelos torcedores da Juventus como um dos piores da história do clube – senão o pior. O escândalo Calciopoli manchou a imagem da Velha Senhora, por conta do envolvimento de alguns de seus principais, que terminaram condenados, e gerou mais consequências: a perda de dois scudetti e o rebaixamento para Serie B. No meio de tanta turbulência, porém, ainda surgiam joias em Turim. Uma dessas promessas foi o baixinho Sebastian Giovinco, conhecido como Formiga Atômica.

Filho de pai siciliano e mãe calabresa, Giovinco nasceu em Turim e foi criado em Beinasco, uma comuna na região metropolitana da capital do Piemonte. Apesar de crescerem em uma família rossonera, Sebastian e seu irmão mais novo, Giuseppe, se juntariam à base da Juventus no final dos anos 1990 – ambos como atacantes. Enquanto o caçula faria carreira nas divisões inferiores do futebol italiano e jamais iria além da terceirona, o mais velho atingiria o estrelato – ainda que sem alcançar o máximo de seu potencial.

Rápido, ágil, driblador de primeira e mestre em assistências, o atacante começou a se destacar na base desde cedo – até porque poucos eram tão diminutos. Com 1,60m de altura e muito poder de fogo, Giovinco recebeu o apelido de Formiga Atômica, como o super-herói criado pelos estúdios Hanna-Barbera, e faturou tudo na categoria Primavera, correspondente à sub-19. Entre 2005 e 2007, ganhou a Copa Viareggio, a Serie A, a Supercopa Italiana e a Coppa Italia. Além disso, foi escolhido como o melhor da fase final do Campeonato Primavera de 2005-06.

Giovinco estreou na Serie A com a camisa do Empoli (New Press/Getty)

Em maio de 2007, a Formiga Atômica faria sua estreia profissional, defendendo a Juventus, na Serie B. Ele entrou no segundo tempo do jogo contra o Bologna, no lugar de Raffaele Palladino, e forneceu assistência para David Trezeguet fechar a vitória bianconera por 3 a 1. Na última rodada, repetiu a dose ante o Spezia.

Giovinco teve poucas chances na campanha do título da Juventus na segundona. Ainda assim, as portas da Serie A se abriram para ele devido ao pouco que mostrou entre os profissionais e a seu desempenho na base – neste último caso, não só na equipe bianconera, mas também na seleção, que representou da sub-16 à sub-21. No verão europeu de 2007, a Velha Senhora foi buscar o volante Sergio Bernardo Almirón no Empoli e incluiu no negócio o empréstimo de duas joias da base: Seba e Claudio Marchisio.

No Empoli, Giovinco teria muitas oportunidades de jogar – e as agarraria. Ainda atuando frequentemente como trequartista, mas também executando a função de segundo atacante, o garoto galgou espaço entre os titulares e terminou a temporada como um dos atletas mais utilizados pelos técnicos Luigi Cagni e Alberto Malesani: foram 37 aparições, no total. Seba anotou seis gols (dois deles, contra a Roma, sendo um de falta, nos acréscimos) e forneceu quatro assistências, sendo um dos maiores destaques dos azzurri. Apesar dos esforços da Formiga Atômica e da vitória sobre o Livorno, na última rodada da Serie A, o time toscano viu o Catania arrancar um empate com a Roma e terminou rebaixado para a segundona.

Na sequência, Giovinco participou da campanha vitoriosa da Itália no Torneio de Toulon e também rumou aos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim – na Ásia, marcou um gol, contra Honduras. Após os azzurrini serem eliminados pela Bélgica, nas quartas de final, o baixinho voltou à Juventus e caiu nas graças do técnico Claudio Ranieri: foi integrado ao elenco bianconero, que mesclava nomes experientes e promissores pratas da casa.

Formado na Juventus, o Formiga Atômica demorou a ter espaço na equipe de Turim (Getty)

Naquela época, Seba era apontado como um provável “sucessor” de Alessandro Del Piero – apesar de ainda atuar em alto nível, Delpi já tinha mais de 30 anos e vinha de lesões recorrentes. O talento com a bola nos pés e a posição em que jogavam eram as chaves para as comparações, mas outro fator também tinha sua importância: a categoria nas bolas paradas. Giovinco tinha um toque refinado e era um exímio batedor de faltas. Seu primeiro gol pela Juve, aliás, foi assim: colocou na gaveta e venceu o arqueiro Francesco Benussi na vitória dos bianconeri sobre o Lecce, por 2 a 1.

Apesar do talento e dos elogios, Giovinco teve dificuldades de encontrar espaço e não conseguiu se firmar no elenco principal. O 4-4-2 de Ranieri não combinava com o estilo do atacante, que muitas vezes atuou como ponta pela esquerda. No fim das contas, entrou em campo 27 vezes, com três gols marcados e sete assistências fornecidas. Ao fim da temporada, Seba representou a Itália na Euro Sub-21 e ajudou os azzurrini a ficarem na terceira colocação.

Em Turim, a situação não mudou muito na temporada seguinte, já que o Formiga Atômica ganhou a concorrência de Diego pela faixa central do campo. Por sua vez, lesões de Marchisio e Mauro Camoranesi levaram os técnicos Ciro Ferrara e Alberto Zaccheroni a insistirem em sua utilização no flanco esquerdo, o que não deu certo. Giovinco, que também sofreu com problemas físicos ao longo do ano, caiu de rendimento e entregou apenas um gol e uma assistência em 19 aparições. A Juventus, aliás, emendou campanhas horrorosas em 2009-10: foi sétima colocada na Serie A, além de eliminada nas quartas da Coppa Italia e na fase de grupos da Champions League, o que propiciaria a vexatória queda nas oitavas da Liga Europa, ante o Fulham.

Ao fim da temporada, Giovinco deu uma entrevista ao jornal Tuttosport, na qual lamentava as poucas chances recebidas e uma utilização que considerava inadequada para que rendesse ao máximo. Ao diário, reafirmou que não gostaria de deixar a Juventus e que rejeitara as propostas recebidas ao longo de dois anos porque queria tentar a sorte em Turim. Mas precisaria pedir para ser negociado se o clube tivesse o intuito de deixá-lo “mofando no banco” por mais tempo. E assim foi: terminou emprestado ao Parma em 2010-11.

No Parma, Giovinco atingiu o auge: decisivo e letal na bola parada, se transformou num dos melhores atacantes da Serie A (Getty)

A Formiga Atômica marcou um gol de falta sobre o Catania logo em sua segunda partida pelo Parma, mas teve um começo difícil no clube da Emília-Romanha, por causa de problemas físicos – nem mesmo o próprio tento anotado serviu de consolo, pois saíra num jogo em que os crociati foram derrotados. Recuperado, Giovinco pode realizar a sua vingança pessoal logo na 18ª rodada da Serie A, ao guardar uma doppietta na goleada por 4 a 1 dos ducali sobre a Juventus, em Turim. Pouco depois, ajudou o seu time a dar o troco no próprio Catania, novamente num tiro livre.

Aquele Parma contava com jogadores como Hernán Crespo, Amauri, Antonio Candreva e Blerim Dzemaili, mas Giovinco terminaria a temporada como maior protagonista da arrancada dos gialloblù, que foram da briga pela permanência a um posto tranquilo no meio da tabela. Com sete gols e seis assistências em 30 presenças na Serie A, Seba foi comprado em definitivo pelos emilianos.

Na temporada seguinte, o técnico Franco Colomba não conseguiu manter o time muito distante da zona de rebaixamento na primeira parte da Serie A, mesmo com as boas atuações de Giovinco. Após a troca no comando e a chegada de Roberto Donadoni, a situação mudou da água para o vinho – e, claro, embalada pelo Formiga Atômica. O 3-5-2 implantado pelo novo treinador potencializou o jogo de Seba, que tinha o auxílio do veloz Jonathan Biabiany e do corpulento Sergio Floccari no ataque.

Enquanto Floccari era responsável por fazer o pivô e puxar a marcação para que a estrela do time jogasse mais solta, Biabiany incomodava a zaga adversária ao atacar os espaços. Assim, Giovinco tinha mais capacidade de pensar o jogo na entrada da área e de ser decisivo com seu poder de finalização – a fórmula engrenou principalmente nas últimas rodadas do campeonato, quando o Parma conseguiu sete vitórias consecutivas e chegou a sonhar com uma vaga na Liga Europa.

Com o sucesso no Parma, onde foi protagonista, o baixinho voltou a ter uma chance na Juventus (Getty)

Seba, é claro, foi o fiel da balança nessa sequência memorável, que levou o Parma ao oitavo lugar da Serie A. O camisa 10 crociato participou de gols em todas as partidas, fornecendo quatro assistências e marcando cinco vezes – incluindo esta pintura contra o Siena e os tentos ante Cagliari e Lecce, em cobranças de falta. No total, Giovinco anotou 15 vezes e efetuou 12 passes decisivos, sendo um dos dois únicos jogadores do campeonato a alcançarem um duplo-duplo nestes quesitos. O outro foi Fabrizio Miccoli, do Palermo.

No Parma, Giovinco viveu os melhores momentos de sua carreira, visto que se tornou um dos mais perigosos jogadores da Serie A, uma das cinco maiores ligas europeias. As grandes atuações com a camisa gialloblù, obviamente, lhe renderiam convocações para a seleção italiana, então treinada por Cesare Prandelli. A renovação conduzida pelo técnico permitiu que Seba ganhasse as primeiras oportunidades em 2011 e seguisse tendo espaço no ciclo para a Euro 2012, da qual participou na condição de reserva de Antonio Cassano. A Nazionale foi vice-campeã da competição.

Durante a Euro, o Formiga Atômica teve o seu grande momento reconhecido pela Juventus, que se recuperara da má fase e, em 2012, voltara a ser campeã italiana. Em junho de 2012, a Velha Senhora pagou 11 milhões de euros para repatriar Giovinco, que somou 23 gols em 70 aparições pelo Parma. O baixinho teria a missão de substituir Del Piero, mas não usaria a camisa 10 – ela ficaria vaga e Seba vestiria a 12.

A terceira e última passagem de Giovinco pelo clube que o revelou foi a melhor de todas, embora ele não tenha conseguido alcançar o mesmo nível demonstrado pelo Parma. Na equipe, que tinha o comando de Antonio Conte, Seba revezaria no ataque com Mirko Vucinic, Fabio Quagliarella e Alessandro Matri, já que o técnico costumava promover um rodízio habitual no setor.

Em sua terceira passagem por Turim, o atacante teve um primeiro ano positivo – e pouco além disso (Getty)

Em 2012-13, Giovinco começou o ano ganhando a Supercopa Italiana, em cima do Napoli. Logo depois, a Formiga Atômica colecionaria alguns momentos importantes, como a autoria do terceiro gol na vitória sobre o Chelsea, então campeão da Champions League, na fase de grupos do torneio e o protagonismo no triunfo no Derby della Mole, com o Torino, juntamente a Marchisio – Seba anotou um tento e deu uma assistência.

Naquela temporada, o atacante conquistaria o primeiro título da Serie A em sua carreira, e com uma participação interessante no certame: em 31 aparições, marcou sete gols e forneceu sete assistências. Nas outras competições, a Juventus ficou no meio do caminho – caiu nas quartas da Liga dos Campeões, frente ao Bayern Munique, e nas semifinais da Coppa Italia, contra a Lazio. Seba, a propósito, viveu uma situação curiosa nas oitavas do mata-mata nacional, no duelo com o Cagliari. O tento responsável pela vitória foi o 12º anotado pelo camisa 12 em bianconero e saiu aos 12 minutos do segundo tempo, no dia 12 do mês 12 de 2012.

A boa participação de Giovinco na campanha da Juventus lhe permitiu viajar ao Brasil como o camisa 10 da expedição da Itália à Copa das Confederações, em 2013. Prandelli fez vários testes na competição, concluída com o terceiro lugar, e Seba acabou ficando no banco: fez apenas duas partidas. Nelas, porém, conseguiu marcar o seu único gol vestindo a malha azzurra – o que valeu o triunfo por 4 a 3 sobre o Japão, na Arena Pernambuco – e converteu o seu pênalti nas semifinais contra a Espanha, que resultaram na queda da Nazionale. Depois do torneio, o atacante desapareceria do radar do treinador.

Os dois anos seguintes de Giovinco seriam praticamente anônimos na Juventus. Em 2013-14, o baixinho perdeu espaço na rotação de Conte por causa da contratação de Carlos Tévez e só brilhou com um gol marcado na vitória por 3 a 2 sobre o Milan, pela sétima rodada da Serie A. Em 2014-15, com a troca no comando e a chegada de Massimiliano Allegri a Turim, quase não foi mais utilizado – embora seu antigo treinador no Piemonte, que assinara com a Nazionale, tenha lhe convocado algumas vezes. Apesar disso, Seba ainda pode celebrar uma Supercopa local e um scudetto, além de ter dado sua contribuição aos títulos do Campeonato Italiano e da Coppa Italia de 2014-15, que a Velha Senhora garantiu após a sua saída.

Com a camisa do Toronto, Giovinco conquistou protagonismo na MLS, com títulos e prêmios individuais (Getty)

Em janeiro de 2015, sem espaço na equipe juventina, Giovinco resolveu rescindir o seu contrato com a Velha Senhora, após 132 partidas e 20 gols. O seu intuito era fazer um pé-de-meia mais generoso. Com 28 anos recém-completados, optou por deixar de lado a possibilidade de atingir novos feitos no futebol europeu e rumou a um campeonato menos competitivo: aceitou defender o Toronto FC e se tornou o jogador mais bem pago da Major League Soccer, com um salário que, com bônus, poderia chegar aos 7 milhões de dólares.

No Canadá, Seba se tornou um ídolo. Na sua temporada de estreia pelo Toronto, ele foi eleito como o jogador mais valioso da liga e quebrou vários recordes: o principal foi ter sido o primeiro atleta da história da MLS a alcançar pelo menos 20 gols e 10 assistências em uma única campanha – foram 22 e 16, respectivamente, que lhe levaram a liderar ambos os quesitos na competição.

No ano seguinte, 2016, o Toronto alcançou a final da MLS, contra o Seattle Sounders. Giovinco precisaria ser substituído no segundo tempo, por conta de uma lesão, e seu time acabaria derrotado nos pênaltis. A revanche foi obtida logo em 2017: uma equipe do Canadá foi campeã pela primeira vez e, de quebra, com direito a tríplice coroa, devido aos títulos do Campeonato Canadense e da Supporter’s Shield.

Giovinco permaneceu quatro anos no Toronto e se tornou o maior artilheiro da história dos Reds, com 83 gols em 142 jogos. Em três dessas temporadas, o italiano ganhou o Campeonato Canadense e foi eleito para a seleção da MLS. Além disso, Seba foi eleito como o craque da Liga dos Campeões da Concacaf, em 2018 – na ocasião, o seu time perdeu a final para o Chivas de Guadalajara.

Já na reta final da carreira, Seba disputou um Mundial de Clubes pelo Al-Hilal (Getty)

Durante os seus anos de MLS, Giovinco até chegou a ser convocado por Conte para a seleção italiana, mas logo foi deixado de lado pelo treinador. O comissário técnico alegou que o nível de competitividade da liga norte-americana não era adequado e, por isso, Seba perdeu a chance de disputar a Euro 2016. Roberto Mancini também chegou a chamá-lo, em 2018. Contudo, o baixinho não chegou a entrar em campo.

Em janeiro de 2019, o Toronto vendeu Giovinco para o Al-Hilal, apesar do seu desejo de permanência no Canadá. No time saudita, ele se tornou o primeiro jogador italiano a marcar um gol em três Champions League continentais: a da Uefa, a da Concacaf e a da AFC. Ele também ganharia o título da competição no mesmo ano e disputaria o Mundial de Clubes, no qual os azuis terminariam na quarta posição, após derrotas para Flamengo e Monterrey.

Bem menos prolífico, o Formiga Atômica ainda ganharia dois campeonatos sauditas e uma copa nacional antes de retornar à Itália, em 2022. Em fevereiro daquele ano, Giovinco assinou gratuitamente com a Sampdoria, mas já estava totalmente fora de forma. Uma lesão deixou isso bem claro que, sete temporadas depois de deixar a Bota, Seba não era mais o mesmo.

Fora de forma, Giovinco teve um fim de carreira discreto na Sampdoria (Getty)

Giovinco teve apenas 37 minutos em campo pela Sampdoria, distribuídos em duas partidas – curiosamente, seu último jogo como profissional foi exatamente contra a Juventus, em março. O seu contrato se encerrou em junho, mas o anúncio da sua aposentadoria, aos 35 anos, só veio em setembro. Era o ponto final da trajetória de um dos maiores cobradores de faltas do futebol italiano no início do século XXI: 26 dos seus 153 gols como profissional foram anotados dessa maneira.

Com chuteiras penduradas, Giovinco voltou a Toronto, onde vive com a esposa, Sharj, e seus dois filhos. Por lá, Seba passou a colaborar com a Juventus prontamente: se tornou membro da comissão técnica da academia da Juventus na cidade canadense.

Sebastian Giovinco
Nascimento: 26 de janeiro de 1987, em Turim, Itália
Posição: atacante
Clubes: Juventus (2006-07, 2008-10 e 2012-15), Empoli (2007-08), Parma (2010-12), Toronto FC (2015-19), Al-Hilal (2019-21) e Sampdoria (2022)
Títulos: Copa Viarregio (2005), Campeonato Primavera (2006), Supercopa Primavera (2006), Coppa Italia Primavera (2007), Serie A (2013, 2014 e 2015), Serie B (2007), Torneio de Toulon (2008), Supercopa Italiana (2012 e 2013), Coppa Italia (2015), MLS Cup (2017), MLS Supporters’ Shield (2017), Campeonato Canadense (2016, 2017 e 2018), Liga dos Campeões da Ásia (2019), Campeonato Saudita (2020 e 2021) e Copa do Rei Saudita (2020)
Seleção italiana: 23 jogos e 1 gol

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