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A revista científica Nature declara apoio a Lula e diz que reeleger Bolsonaro é “ameaça à ciência, à democracia e ao ambiente – no Brasil e no mundo”

“Os eleitores do Brasil têm uma oportunidade valiosa para começar a reconstruir o que Bolsonaro derrubou. Se Bolsonaro pegar mais quatro anos, o dano pode ser irreparável”. 

É assim que a revista Nature, uma das mais relevantes do mundo na área da ciência, termina seu editorial de ontem, 25 de outubro, revelando preocupação com a eleição presidencial em nosso país. 

A publicação se posiciona contra a reeleição de Bolsonaro, comparando-o a Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, não só porque também ignorou os alertas da ciência sobre a covid-19 e minou os programas de vacinação, questionando sua eficácia e segurança, como também tentou “minar o estado de direito e reduzir a atuação dos poderes reguladores”.

A Nature declara que o atual presidente representa “uma ameaça à ciência, à democracia e ao meio ambiente” e, por isso, afirma no título do editorial: “só há uma escolha na eleição do Brasil – para o país e para o mundo”: E esta escolha é Luís Inácio Lula da Silva.

O texto também lembra a posição da Nature logo após a eleição de 2018: “Quando o Brasil elegeu Jair Bolsonaro como seu presidente há quatro anos, este jornal estava entre os que temiam o pior. ‘A eleição de Jair Bolsonaro é ruim para a pesquisa e o meio ambiente’, escrevemos”. E acrescentou:

“Populista e ex-capitão do Exército, Bolsonaro assumiu o cargo negando a ciência, ameaçando os direitos dos povos indígenas, promovendo armas como solução para preocupações com segurança e promovendo uma abordagem de desenvolvimento a todo custo para a economia. Bolsonaro foi fiel à sua palavra. Seu mandato foi desastroso para a ciência, o meio ambiente, o povo do Brasil – e do mundo”. 

Os ataques de Bolsonaro ao meio ambiente, com o enfraquecimento de órgãos de fiscalização e de proteção ambiental, além do menosprezo aos direitos dos povos indígenas, também foram lembrados no editorial. 

“Somente na Amazônia, o desmatamento quase dobrou desde 2018”, destaca, prevendo que as estatísticas logo devem ser acrescidas dos dados mais recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que serão divulgados nas próximas semanas. 

A falta de financiamento em ciência e inovação – que já vinha diminuindo com Temer – também recebeu destaque: “muitas universidades federais estão lutando para manter as luzes acesas e os prédios abertos”. Mais: “a ciência e a academia serviram como inimigos fáceis em uma ofensiva anti-elite, que refletia as guerras culturais dos Estados Unidos”.

Lula reduziu 80% do desmatamento na Amazônia

Por outro lado, a Nature ressalta que Lula “não procurou lutar contra os pesquisadores”, quando governou o Brasil, e que o Partido dos Trabalhadores (portanto, não só com Lula, mas também com Dilma Roussef) investiu fortemente em ciência, fortaleceu a fiscalização e a proteção ambiental, além de ampliar as oportunidades para todos em educação e criar um programa que transfere dinheiro para os mais pobres e é considerado modelo no mundo: o Bolsa Família, que Bolsonaro destruiu.

“O Brasil exibiu sua reputação de líder ambiental, aumentando a aplicação da lei e reduzindo o desmatamento na Amazônia em cerca de 80%, de 2004 a 2012”, ajudando a romper o vínculo entre desmatamento e produção de commodities, como carne e soja.

Agora, durante a campanha presidencial, lembra a revista, Lula promete “alcançar o desmatamento zero e proteger as terras indígenas” – e eu acrescento que se comprometeu a criar um Ministério para os povos originários! 

No editorial, a Nature ainda comenta os 19 meses em que Lula esteve preso, devido à investigação de corrupção, lembrando que o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações por entender que o ex-presidente foi preso indevidamente, o que tornou possível sua candidatura. 

E a revista acrescentou: “Nenhum líder político chega perto de ser perfeito. Mas os últimos quatro anos do Brasil são um lembrete do que ocorre quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, impulsionar a ciência e o conhecimento, proteger o meio ambiente e defender a justiça e a integridade das evidências”.

A seguir, leia o editorial, na íntegra:

“Há apenas uma escolha na eleição do Brasil – para o país e o mundo”

Quando o Brasil elegeu Jair Bolsonaro como seu presidente há quatro anos, este jornal estava entre os que temiam o pior. “A eleição de Jair Bolsonaro é ruim para a pesquisa e o meio ambiente”, escrevemos (Nature 563, 5–6; 2018).

Populista e ex-capitão do Exército, Bolsonaro assumiu o cargo negando a ciência, ameaçando os direitos dos povos indígenas, promovendo armas como solução para preocupações com segurança e promovendo uma abordagem de desenvolvimento a todo custo para a economia. Bolsonaro foi fiel à sua palavra. Seu mandato foi desastroso para a ciência, o meio ambiente, o povo do Brasil – e do mundo.

Neste fim de semana, os brasileiros vão às urnas no segundo turno de uma das eleições mais importantes do país desde o fim da ditadura militar, em 1985. Bolsonaro é candidato à reeleição pelo Partido Liberal. Seu adversário é Luiz Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores, que foi presidente por dois mandatos entre 2003 e 2010.

No primeiro turno da eleição, realizado em 2 de outubro, Lula derrotou Bolsonaro – que ficou em segundo lugar -, mas por uma margem inesperadamente estreita. Ele não conseguiu obter a maioria geral, forçando os dois a um segundo turno.

O histórico de Bolsonaro é de arregalar os olhos.

Sob sua liderança, o meio ambiente foi devastado quando ele retirou proteções legais e menosprezou os direitos dos povos indígenas. Somente na Amazônia, o desmatamento quase dobrou desde 2018, com mais um aumento esperado quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgar seus últimos dados de desmatamento nas próximas semanas.

Assim como seu ex-colega populista dos EUA, Donald Trump, Bolsonaro ignorou os alertas dos cientistas sobre a COVID-19 e negou os perigos da doença. Bolsonaro também minou os programas de vacinas, questionando sua segurança e eficácia.

Mais de 685 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil. A crise econômica que se seguiu à pandemia atingiu duramente os brasileiros.

Outras semelhanças foram traçadas entre Trump e Bolsonaro – ambos tentaram minar o estado de direito e reduzir os poderes dos reguladores.

O financiamento para ciência e inovação estava diminuindo quando Bolsonaro assumiu o cargo e continuou sob sua liderança, a ponto de muitas universidades federais estarem lutando para manter as luzes acesas e os prédios abertos. A ciência e a academia serviram como inimigos fáceis em uma ofensiva anti-elite que refletia as guerras culturais dos Estados Unidos.

O Brasil exibiu sua reputação de líder ambiental aumentando a aplicação da lei ambiental e reduzindo o desmatamento na Amazônia em cerca de 80% entre 2004 e 2012. Por um tempo, o Brasil rompeu o vínculo entre o desmatamento e a produção de commodities como carne bovina e soja , e parecia que o país poderia ser pioneiro em sua própria marca de desenvolvimento sustentável.

Muito desse progresso já foi desfeito.

Ao contrário de Bolsonaro, Lula não procurou lutar contra pesquisadores. Ele prometeu alcançar o desmatamento ‘zero líquido’ e proteger as terras indígenas se eleito. Mas Lula não está sem bagagem.

Ele passou 19 meses na prisão como resultado de uma investigação de corrupção que envolveu funcionários do governo, incluindo líderes do Partido dos Trabalhadores. Mas, em 2019, a Suprema Corte brasileira determinou que Lula e outros haviam sido presos indevidamente antes que suas opções de recurso fossem esgotadas.

As condenações de Lula foram anuladas em 2021, abrindo caminho para que ele concorresse novamente à presidência.

Nenhum líder político chega perto de ser perfeito. Mas os últimos quatro anos do Brasil são um lembrete do que acontece quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, impulsionar a ciência e o conhecimento, proteger o meio ambiente e defender a justiça e a integridade das evidências.

Os eleitores do Brasil têm uma oportunidade valiosa para começar a reconstruir o que Bolsonaro derrubou. Se Bolsonaro pegar mais quatro anos, o dano pode ser irreparável.

Fotos: Reprodução do Instagram (Lula) e Jeso Carneiro/Wikimedia Commons/Flickr

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