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A MORTE E OS MORTOS

A MORTE E OS MORTOS

Por Ramiro Aquino

Desculpem se trato de assunto tão desagradável. Afinal, a morte, representada por aquela
figura tão fantasmagórica de uma pessoa sem rosto, com uma capa e uma foice, não só
foge ao lugar-comum dos artigos jornalísticos como é extremamente fúnebre. Meses
atrás, quando ainda frequentava cemitérios, comentei com um amigo, contumaz figura
carimbada em enterros: “Estamos nos encontrando muito nos enterros e uma hora dessas
será um de nós”. Não deu outra. Na semana seguinte morreu esse amigo e a partir daí
tenho evitado voltar a um cemitério, com raríssimas exceções.
Em artigo recente falei, positivamente, sobre assunto tão mórbido, por conta de enterro
que fui de uma amiga e errei o horário chegando uma hora mais cedo ao sepultamento. O
meu adiantamento rendeu uma crônica. Escrevi sobre a história de Itabuna visitando
túmulos de autoridades, amigos, parentes e famílias conhecidas.
Se me reporto hoje ao assunto é por conta de tantos amigos que estamos perdendo nos
últimos meses. Perdemos o empresário Milton Veloso, o médico Carlos Mattedi, o
advogado Rafael Briglia e mais recentemente os amigos Raimundo Seixas, José Adervan,
Carlos Farias e Telma. Tudo isso sem contar outros amigos menos famosos, mas nem por
isso, menos amigos.
Como coisa natural, a morte é uma consequência tão inevitável, que vale aquele dito
popular bem antigo, dos tempos dos nossos avós, de que “a coisa mais certa na vida é a
morte”.
Sem considerar a questão meramente biológica, que nascemos para viver e morrer, temos
que levar em conta que é da natureza humana respeitar e se emocionar com a morte.
Um amigo, dono de mortuária, estava se queixando um outro dia que não podia ter mais
amigos. Foi visitar um deles, desses bem queridos, cuja família recusou a visita. “Aquele
seu amigo, dono de uma funerária, está aí na porta do apartamento querendo lhe fazer
uma visita. Recusamos. Ele veio foi medir o seu caixão…” disse uma mãe revoltada.
Nós, ocidentais, não estamos acostumados a perder os entes queridos. Dizem que os que
professam o espiritismo, por acreditarem em outras vidas após o “desencarne”, que eles
recebem melhor a perda de familiares. Mas já vi espíritas chorando copiosamente depois
de perder um filho ou um neto.
Afinal, filho é filho, neto é neto.

*Comunicador, Presidente da Academia AGRAL e da ABI Regional Sul

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