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Queimadas, suas causas e conseqüências

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Texto originalmente publicado em 3 de setembro de 2007

Via Embrapa Pantanal

As queimadas no Pantanal têm sido uma preocupação constante nessa época do ano, ou seja, no período de seca, quando parte dos danos nesse ecossistema chegam a ser sentidos nas cidades integrantes da área, que ficam cobertas de fumaças e cinzas. Como nós sabemos, o fogo pode ser provocado de várias maneiras, entre elas, raios, reflexão de vidros, e antropogênicas (provocadas pelo homem – casualmente, programadas ou desordenadas).

As queimadas provocadas por raios e reflexões de vidros normalmente ocorrem sobre uma área de vegetação seca, provocando grandes incêndios e as antropogênicas em quaisquer das vegetações.

No ano de 2005, na segunda quinzena do mês de julho foram vistos vários incêndios em diferentes áreas do Pantanal, como um localizado no município de Corumbá queimando mais de 500 hectares. Pouco mais de 50km daquela queimada havia um outro foco e, assim foram vistos vários focos de Corumbá a Miranda, num só dia.

Não foi por acaso que a Embrapa Pantanal, via INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), constatou entre o período de julho até 22 de setembro o absurdo de 5.568 focos de queimadas no Pantanal e que as queimadas estão espalhadas por toda a Região queimando diversas formas de vegetação. Uma das regiões mais críticas é a do Nabileque. As causas daqueles incêndios são desconhecidas, contudo sabemos que a causa mais comum no Pantanal é a provocada pelo homem, que mesmo sabendo, através de campanhas, que o fogo agoniza a terra usam-no como forma de limpeza e renovação dos pastos. Nesse ano de 2005 as queimadas no Pantanal estão suspensas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Os adeptos as queimadas não pensam duas vezes, antes de começarem a queimar a área, nem mesmo nas terras ou fazendas vizinhas e fazem assim para evitar a formação de macega e para renovação de pastagem, entretanto vários estudos comprovam que a prática de queimadas é uma faca de dois gumes. Portanto, queimadas não é assunto para leigos, assim como uma cirurgia.

Sem definição para a prática e acompanhamento técnico, certamente trará, entre outros malefícios, empobrecimento do solo e desequilíbrio no ecossistema. Importante é por parte desses adeptos, que insistem na prática das queimadas, onde certamente vem seguidamente empobrecendo suas terras, saber que alguns estudiosos como Cavalcante (1978) que estudando o efeito das cinzas resultantes das queimadas no estrato herbáceo e subarbustivo do cerrado das Emas, constatou um rápido e temporário aumento na concentração de nutrientes na camada superficial do solo, logo após a incidência de fogo e retorno aos valores anteriores à realização da queimada, queimada essa previamente programada em tempos e estações e não aleatoriamente.

Pelos resultados rápidos, temporários, ainda quando feitas tecnicamente, e de empobrecimento continuado da terra e danos para o ecossistema, quando desordenadas, entre os autores de estudos nessa área a decisão por trabalhar a terra com queimadas é um artifício cada vez mais raro. A névoa seca que escurece os céus do Brasil Central nessa época do ano, pelas queimadas, é uma demonstração visível dessa enorme perda de nutrientes. Nessas mesmas fumaça e cinza, uma boa parte do nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio magnésio e enxofre entram em suspensão no ar sob a forma de micropartículas de cinza, constituindo a parte visível da fumaça.

Desta forma, a grande perda de nutrientes provocada pelo fogo dá-se em forma de transferência para a atmosfera. Durante as queimadas, o elemento de maior perda (90%) é o nitrogênio que está presente na fitomassa e vai como forma de fumaça para a atmosfera.

Portanto, no Pantanal o problema de perda de cinzas do campo para a cidade provoca as perdas de nutrientes das áreas queimadas, muito mais através do vento do que pelas primeiras chuvas que caem após as queimadas vindo a empobrecer o solo da área queimada no Pantanal. Em um trabalho realizado por Pivello et al (1992), quantificando as transferências de micro-nutrientes (N,P,K Ca, Mg, S) da vegetação herbáceo-subarbustiva para atmosfera durante seis queimadas experimentais realizadas no campo-cerrado de Emas, em Pirassununga, SP.

Estes valores foram obtidos comparando-se as quantidades dos nutrientes na vegetação e na cinza dela resultante. A perda da quantidade em média dos nutrientes foi de 20,6 kg de N, 1,6kg de P, 7,1 kg de K, 12,1 kg de Ca, 3,0 kg de Mg e 59% de S, inicialmente contidos na fitomassa. No Pantanal há que se realizar um trabalho semelhante para que as perdas desses elementos e outros sejam quantificados, entretanto pela quantidade de queimadas na região pode se supor que valores bem maiores estão sendo perdidos.

A Embrapa Pantanal, preocupada com a preservação do ecossistema vem realizando estudos e trabalhos com o fim de substituir o que seriam os benefícios das queimadas. Nesse mesmo Órgão está sendo realizado um trabalho, via satélite, para avaliar o risco de incêndios no Pantanal visando monitorar e diminuir os focos de incêndios.

Na foto de capa, imagens das queimadas no Pantanal em 2009, por Jean Fernandes.

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