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Judô: usando o peso do seu concorrente ao seu favor

Endeavor Brasil
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A Endeavor é a rede formada pelas empreendedoras e empreendedores à frente das scale-ups que mais crescem no mundo e que são grandes exemplos para o país.

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Seu concorrente é maior que você? O judô ensina que isso pode te favorecer.

Preparar-se para uma luta, estudar as fraquezas e as forças dos adversários, conhecer as suas próprias potencialidades e fragilidades, escolher a melhor estratégia, saber cair e se levantar, defender e atacar na hora certa. Se você pensar bem, as artes marciais têm muito a ver com a operação de uma empresa.

Essa não é uma constatação nova, sem dúvida. Existem muitos artigos, livros e até cursos dedicados às relações entre lutas e gestão. Mas isto, em um plano mais geral. Porque, se você observar de perto algumas modalidades, vai ver que, além de semelhanças, elas têm muitos aprendizados a oferecer.

O judô, por exemplo, é uma arte marcial em que os combatentes dispõem de pouquíssimas oportunidades para atacar. O judoca deve pensar com agilidade e rapidez, pois outras chances podem demorar muito a surgir.

Mas o esporte tem ainda outra particularidade que o aproxima do universo do empreendedorismo: o fato de que um lutador pode usar o peso do adversário a seu favor. Não deixa de remeter às milhares de startups que, mesmo sendo “pesos penas”, conseguem enfrentar (e até derrubar) pesos pesados do mercado. É por essas e outras que você precisa conhecer mais sobre a modalidade.

Quando os pais de Jeff Yasuda – o fundador e CEO da empresa especializada em conexões via música Feed.fm – colocaram-no, ainda criança, nas aulas de judô, ele não levou muito a sério. Achou que era apenas uma forma de estimulá-lo a retomar as raízes culturais nipônicas.

Muitos anos depois, porém, as coisas mudaram. Neste artigo da Inc., Yasuda conta que, quando matriculou o filho em uma escola de artes marciais, resolveu voltar a lutar. Após alguns meses, o professor sugeriu que ele treinasse contra um sparring (no vernáculo judoca, a prática se chama randori), eue seria ele próprio, o instrutor.

Toda semana, Yasuda ia para os randori sabendo que perderia, e feio. O professor era melhor em todos os sentidos. Então, por que aturar isso?

“Porque eu amo! Pergunte a qualquer empreendedor de uma startup porque ele tolera o abuso: longas jornadas de trabalho, rejeição, nenhum salário, comer miojo… e você terá a mesma resposta”.

Yasuda também identifica muitos paralelos entre a prática do judô e a gestão empresarial. E compartilha algumas das lições que o ajudaram a se tornar “um empreendedor melhor”:

O fato de saber que vai perder para o instrutor é muito importante. Segundo o empreendedor, entrar em situações em que tudo conspira contra você ajuda a construir seu caráter. Ele traz um dado assombroso: nove entre dez startups falham.

O segredo consiste não em se recusar ser uma das nove, mas em aprender porque você eventualmente cai. E aprender a se levantar até encontrar uma oportunidade para vencer.

Não é nada fácil. Falhar com uma startup é “um saco”, diz Jeff Yasuda, mas não tanto quanto levar um belo ippon. Antes de voltar a lutar, ele realmente temia a derrota. Hoje, aceita-a como parte do processo.

O CEO da Feed.fm se lembra da primeira vez em que praticou o randori. Era ainda adolescente, e foi terrível. Após levar vários golpes, ele se recorda de ter se levantado, de ter gritado várias palavras “de baixo calão” e de ter partido para cima do oponente de forma desastrada.

Isso só piorou as coisas. Yasuda baixou a guarda e acabou recebendo golpes ainda mais duros. Ao se reerguer, estava tão nervoso que o sensei pediu para que a luta fosse interrompida. “Então, Jeff. O que aprendemos com isso?”, perguntou.

O aluno não hesitou: “Que este sujeito aí é um idiota!”

“Não”, o intrutor respondeu calmamente. “Você é o idiota. Ao perder o controle das suas emoções, você se transformou em um lutador horrível”.

Desde então, Yasuda percebeu que, também no universo empreendedor, surtar quando as coisas não dão certo só piora tudo. Sem dúvida há muitas frustrações e episódios constrangedores ao longo do trajeto de uma startup, mas explosões emocionais só vão piorar a cultura organizacional de uma empresa – e dificultar que ela se erga e retorne competitiva ao combate.

O ato de “baixar a bola” só trouxe benefícios a Jeff Yasuda. Ele conta que, uma vez que o ego e a vontade de vencer a qualquer custo ficaram de lado, tornou-se muito mais fácil entender o que deveria ser aprimorado ao ir para o tatame. Ao aceitar e até esperar a derrota, Yasuda passou a questionar o porquê dela. Passou a pedir feedbacks.

“Na minha startup”, ele relata, “assim como no desenvolvimento de um projeto para a feira de ciência da escola, nós sempre temos uma hipótese, um procedimento para executar um experimento. Então, registramos os resultados, que na maioria das vezes são fracassados”.

Assim, Yasuda e sua equipe sempre questionam esses resultados, para entender onde erraram. Só assim poderão corrigir o que não funciona.

Mas a principal lição do judô para quem quer começar um negócio é, sem dúvida, o fato de se poder derrotar um oponente maior. Bárbara Timo também conta que esse é um dos fundamentos da arte marcial:

“Com treinamento e eficiência, é possivel derrotar adversários muito mais pesados. E melhor, usando o próprio peso do adversário. É uma questão de oportunismo, da busca do melhor momento para desequilibrá-lo”.

O pensamento se aplica com perfeição ao universo das startups. Pois tudo se trata de encontrar a oportunidade certa e aproveitá-la da melhor forma que você puder. Afinal, não importa o tamanho do seu concorrente: se você souber como “encaixar” uma oferta certeira, poderá aplicar um ippon nele.