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Casillas, o retrato da eliminação espanhola

Casillas, o retrato da eliminação espanhola

Fora de forma, cansados e superados, Casillas e a Espanha produziram um fiasco no Brasil

RAPHAEL GOMIDE| DO RIO DE JANEIRO
18/06/2014 - 20h51 - Atualizado 18/06/2014 20h52
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O goleiro Iker Casillas sai de campo após a derrota para o Chile por 2 a 0, no Maracanã (Foto: Natacha Pisarenko/AP Photo)

Segurando as luvas abertas nas mãos, o veterano goleiro do Real Madrid Iker Casillas caminhava lentamente em direção ao centro do campo, com olhar perdido, enquanto os rivais chilenos comemoravam com a torcida. Não deixou de cumprimentar, esportivamente, os vencedores. Mas parecia estar longe dali, assim como os companheiros, que saíam de campo vagarosamente, como se estivessem sem rumo. Aos 33 anos, Casillas estava mesmo sem rumo. Completara sua terceira partida seguida com falha grave.

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Na decisão da Liga dos Campeões, saíra mal e levara um gol de cabeça do Atlético, mas foi salvo por um gol de seu time no final e comemorou o título. No Brasil, a sorte não lhe sorriu e ninguém o salvou. Errou três vezes contra a Holanda, e sua equipe perdeu por 5 a 1. Contra o Chile, abatido, socou para o meio da área uma bola, que sobrou no pé de Charles Aranguiz, que marcou o segundo gol do adversário, praticamente decidindo a partida e selando o destino da Espanha: a eliminação.

Os jogadores espanhóis, campeões do mundo em 2010, pareciam não acreditar no que estava acontecendo. Depois do fim da segunda derrota seguida no Brasil, para o Chile, no Maracanã, os atletas de vermelho ficaram parados em campo por alguns instantes. O mesmo Maracanã onde foram atropelados pelo Brasil há um ano, na Copa das Confederações, e onde em 1950 seus antecessores perderam por 6 a 1 para o Brasil. Este “Maracanazo” foi causado pelo Chile.

A derrota começou nos erros anteriores de Casillas e de sua seleção, contra a impiedosa Holanda. A surpreendente e avassaladora derrota desnorteou os espanhóis. Dias antes, superconfiante, Casillas havia dito ser a equipe a ser derrotada. Quando entrou em campo no Maracanã, a Espanha já vinha abatida e sem confiança. Parecia também nervosa e ansiosa. Nas palavras de seu próprio treinador, Vicente Del Bosque, entraram “tímidos” e “um pouco acovardados” no primeiro tempo. Temiam demais correr risco e enfrentaram um Chile empolgado e inflamado por uma fanática e vibrante torcida. Essa diferença de posturas levou os sul-americanos a fazer pressão e a marcar duas vezes. “Os gols lhes deram mais estímulo, emoção e agressividade”, disse Del Bosque.

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A Espanha no Maracanã não soube ser a equipe do tiki-taka envolvendo nem a “Fúria” da raça que a caracterizava em épocas em que o talento não abundava. A energia do estádio desde o início não favorecia os espanhóis. Antes da partida, eram minoria absoluta nas ruas e entre os 74.101 nas arquibancadas, repletas de chilenos com a camisa “roja”. Até quem não estava lá dentro queriam entrar. Quarenta minutos antes do confronto, mais de uma centena de chilenos invadiu o estádio e parou no Centro de Mídia, causando estrago, quebrando porta de vidro, derrubando divisórias – 85 foram presos. Dentro do estádio, apaixonadamente, os torcedores oficiais cantaram o hino nacional aos gritos e à capela, ao som mais alto ouvido até aqui no Maracanã, afora os momentos de gol. Uma onda vermelha entoava seguidas músicas de apoio a sua equipe, com a adesão dos brasileiros presentes. “Olê, olê, olê, olê, Chile, Chile!”

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Torcida fez a seleção do Chile se sentir jogando em casa, no Maracanã (Foto: David Ramos/Getty Images)

Casillas era vaiado, Diego Costa ofendido pela parcela brasileira, Pedro demonstrava nervosismo, ao perder uma bola na linha de fundo e chutar a bola violentamente contra a placa de publicidade. Em seguida, ironicamente aplaudiu o auxiliar. Foi em uma jogada trabalhada quase à semelhança do estilo tiki-taka espanhol que o Chile fez o primeiro gol. Casillas, como contra o holandês Arjen Robben, foi driblado antes que Eduardo Vargas marcasse o primeiro. Explosão vermelha no Maracanã.

Após o gol, dêsânimo. Lentamente, os atletas voltavam ao meio-campo, um deles com a bola, vendo os adversários comemorar com intensidade, diante da torcida. O domínio no campo e nas arquibancadas era chileno. Os espanhóis jogavam mal, e o Chile marcou o segundo gol. Mais desânimo. Sergio Ramos pegou a bola, e da lateral do campo deu um chute em direção ao meio do campo, pouco acreditando a uma virada, a essa altura.

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A torcida brasileira gritava com a chilena: “Eliminado! Eliminado!” Ao fim do primeiro tempo, Casillas caminhou sozinho para o vestiário, com semblante fechado, segurando as luvas.

Ansiosa para tentar a sobrevivência, a equipe espanhola voltou a campo quatro minutos antes dos chilenos na volta para o segundo tempo. Iniesta fez ótimo lançamento para Diego Costa, que entrou cara a cara com o goleiro. O brasileiro naturalizado espanhol se preparou para finalizar, mas foi travado pelo zagueiro Mauricio Isla. Os jogadores ao menos tinham mais ânimo e corriam para bater cada lateral. Diego Costa deu uma bicicleta e deixou Sérgio Busquets sozinho frente ao goleiro chileno Claudio Bravo. Sem obstáculos à frente, Busquets tentou completar de esquerda, mas chutou mal, para fora. O meia do Barcelona ajoelhou-se no gramado, sem acreditar que havia perdido a preciosa oportunidade de diminuir a diferença. Tudo dava errado.

Aos 11, enquanto um chileno era retirado de campo de maca, o veterano Iniesta suspirava fundo. Começou a “ola” nas arquibancadas. A Espanha tentava cruzamentos na área, frente à zaga baixa do Chile, que passou a correr em contra-ataques. Vicente Del Bosque passava as mãos pela cabeça, em desespero. A Espanha domina, domina, mas não marca, no aparente ocaso do tiki-taka. Javi Martinez se desespera, após a marcação de uma falta. Um jogador tropeça na bola, e Fernando Torres arranca no contra-ataque e a bola bate em seu calcanhar. Diego Costa sai de campo vaiado e deve ter se arrependido por ter optado por atuar pela campeã do mundo, agora eliminada.

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No fim, os jogadores já parecem ter entregue os pontos. Cansados após fazer pressão no início da segunda etapa, demoravam a correr para receber a cobrança de um lateral. Aos 36min, enquanto o Chile fazia cera, o defensor Jordi Alba se sentou no meio-círculo, amarrou as chuteiras e ali ficou por alguns instantes. Os campeões do mundo pareciam já não ter mais forças nem físico. Mãos na cintura, Casillas olhava para baixo.

Aos 43, a torcida começou a dar adeus para os espanhóis e a gritar olé. Vaiaram a placa com 6 minutos de acréscimo. Do banco, os suplentes espanhóis olhavam o fim do jogo desolados. “Não fomos capazes de superar Holanda e Chile, por isso fomos eliminados. Estamos doídos”, afirmou Del Bosque.

Fora de forma, cansados e superados, Casillas e a Espanha produziram um fiasco no Brasil. Não era o final de Copa que imaginavam os campeões do mundo e primeiros eliminados em 2014.








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