Portugal surpreende, mas precisa de um “homem-gol”

Titular, Hélder Postiga não transmite confiança aos portugueses

Admito que não esperava muita coisa de Portugal nesta UEFA Euro 2012. Nos jogos que tive a oportunidade de ver, o time lusitano me parecia muito dependente de Cristiano Ronaldo. Além de ter uma defesa de pouca segurança, o ataque carecia de um grande centro-avante. Desde a saída de Pauleta, em 2006, Luís Felipe Scolari, Carlos Queiroz e, atualmente, Paulo Bento, têm tido problemas para solucionar essa questão.

Esse cara não é Hélder Postiga, que mesmo chegando na lista dos dez maiores artilheiros da história da Seleção Portuguesa, convence poucos. Ele foi o escolhido por Paulo Bento a titularidade nos dois primeiros jogos de Eurocopa, mas pouco agradou. Lento, pouco técnico, posicionamento ruim e mínima presença de área. Falta tudo a Postiga. Até por isso, eu optaria pela entrada de Hugo Almeida, que é mais forte fisicamente e na temporada passada teve números mais expressivos. Na Süper Lig da Turquia, o atacante do Besiktas anotou 13 gols em 20 jogos, enquanto Postiga marcou, pelo Zaragoza, nove gols em 33 jogos. Porém, costumo dizer que esta é uma escolha pessoal, pois acredito que, mesmo considerando Hugo mais jogador, ele não resolveria o problema português.

Quem surge como boa alternativa é Nélson Oliveira. O benfiquista de apenas 20 anos é uma das grandes apostas para o futuro português e acabou entrando nos dois jogos de Portugal na Euro, dando a entender que Bento confia mais nele do que em Hugo Almeida. É muito bacana isso que o comandante lusitano têm feito, já que dá minutos preciosos e experiência ao garoto, que mostra ter capacidade para assumir a titularidade de Portugal na Copa do Mundo de 2014.

O outro setor do time que causa mais atenção a Paulo Bento é a defesa. Dos quatro titulares, João Pereira e Bruno Alves são os únicos, que para mim, estão muito bem. Ambos estão discretos, mas precisos em suas atuações. Já Pepe foi muito instável nas duas partidas, não emocionalmente e sim tecnicamente. No jogo contra a Alemanha, ele se perdeu no desvio do meio do caminho e ficou sem o tempo de bola, resultando no gol de Gomez. Hoje, Nicklas Bendtner marcou o gol de empate dinamarquês em suas costas. O detalhe é que suas atuações não se resumem nesses “cochilos”, Pepe tem atuado bem, mas essas bobeiras são prejudiciais.

Porém, quem está dando maiores problemas é o supervalorizado Fábio Coentrão. O lateral-esquerdo do Real Madrid foi, contra alemães e dinamarqueses, o ponto de desequilíbrio – para baixo – português. Os três gols que Portugal tomou na Euro, tiveram alguma ação no setor de Coentrão, seja direta pro gol ou de criação de jogada.

Na faixa central, só uma reclamação: precisão nos passes. No duelo diante da Dinamarca, João Moutinho e Raúl Meireles, principalmente no segundo tempo, pecaram em alguns passes. Ambos, mais calmos, podem consertar esse problema num piscar de olhos. No geral, o setor me agradou bastante, principalmente na marcação, que foi firme e em alguns momentos no campo inteiro.

Mas a julgar pelo título do post e ver o que foi escrito nos parágrafos anteriores, vocês certamente me chamarão de “louco” ou “hipócrita”, mas terei de explicar o porquê do título. Como disse antes, esperava pouco de Portugal, não à toa, listei vários pontos negativos do início português que nem me surpreenderam.

Porém, a “não-dependência” de Cristiano Ronaldo foi o que me chamou a atenção positivamente. Eu acreditava que todas as jogadas do time passariam pelos pés do astro madridista e que a falta de bons coadjuvantes lhe atrapalharia. Mas não é isso que estou vendo.

Nani foi decisivo diante da Dinamarca

Nani, que é um jogador que não me agrada, fez uma bela partida diante da Dinamarca. Marcou demais e, no ataque, não tomou conhecimento de Simon Poulsen, que no sábado anulou Arjen Robben. O meia do Manchester United foi, inclusive, o assistente de Hélder Postiga no segundo gol português.

Nani não faz mais do que obrigação. No Real Madrid, Cristiano Ronaldo divide a responsabilidade com jogadores como Benzema, Özil e Casillas, e em Portugal, tendo um parceiro que atua com regularidade no Manchester United, não consegue ter essa divisão. Esse “peso” está atrapalhando o astro português, que na partida desta quarta-feira, perdeu dois gols incríveis. Nani precisa criar mais, aparecer mais e ajudar Ronaldo. E inaceitável uma seleção ter dois jogadores que estão em dois dos mais vitoriosos clubes da Europa – claro, relativizando a importância de Nani pro United e de Ronaldo para o Real – e só um aparecer pra jogar. Hoje, Nani mostrou um pouco do que deve fazer, basta ser regular.

A vitória diante da Dinamarca deixa Portugal em situação simples: basta vencer a Holanda que se classifica. Se empatar, dependerá de uma vitória alemã. Não é confortável, mas é bem possível de acontecer.

*Crédito das imagens: Getty Images e AFP