19/06/2013 14h41 - Atualizado em 19/06/2013 15h07

Livro e exposição fotográfica contam a história das Comunidades do Funil

Rio Grande foi represado e inundou casas e histórias de muitos moradores.
Usina do Funil completa 10 anos e ex-moradores relembram comunidades.

Do G1 Sul de Minas

A Usina do Funil, no Sul de Minas, completa 10 anos este mês. Na memória de quem viveu nas comunidades inundadas para a construção, restou a lembrança. O Rio Grande foi represado e inundou casas e a história de dezenas de pessoas, que tentam refazer suas vidas nas cidades no entorno da usina. Para contar essa história de arraiais e comunidades em volta de uma ponte, um acervo fotográfico está sendo exposto nas novas comunidades e um livro está sendo lançado.

Caminhando pelas ruas da nova Pedra Negra, dona Sueli Alves Guimarães conta da vida dos antigos ribeirinhos, pessoas que viviam às margens do Rio Grande. As comunidades foram inundadas pelo reservatório do funil. Na época, Pedra Negra era um arraial de Bom Sucesso, hoje um distrito de Ijaci (MG). No local, vivem cerca de 100 famílias que, como dona Sueli, precisaram deixar a antiga moradia.

"Tenho muitas saudades, porque foi lá que eu cresci, que eu namorei e me casei, então a gente recorda sempre. Tenho muita saudade da minha casa, porque foi lá que tive minhas duas filhas", conta a dona de casa.

Ao longo desses 10 anos, os moradores foram se ajeitando e se adequando à nova vida. A maioria trabalhava nas lavouras de café. Em Ijaci, trabalham na indústria, comércio ou criaram seu negócios.

Réplica da estação ferroviária se tornou um centro cultural na nova comunidade (Foto: Reprodução EPTV)Réplica da estação ferroviária se tornou um centro cultural na nova comunidade (Foto: Reprodução EPTV)

O distrito ganhou uma réplica da antiga estação ferroviária. No local funciona o Centro Cultural, sede da associação de moradores e espaço reservado às manifestações culturais e artísticas. "Foi muito importante pra que eles pudessem se adaptar à nova vida", diz a presidente da associação Margarida Augusta Silva. "Eles vieram de uma roça pra cidade, então eles tiveram que se adaptar a novas atividades e a associação foi muito importante pra isso".

Na nova Pedra Negra, também não poderia faltar o campo para as peladas e nem a rádio para tocar música e informar a população das coisas que acontecem no bairro. A vida pacata desses moradores das margens do Rio Grande mudou, mas muitos acham que para melhor. Outros já nunca queriam ter saído de lá.

Usina do Funil
O reservatório abrange uma área de 32 km e inundou três comunidades às margens do Rio Grande: Ponte do Funil, Pedra Negra e Macaia. A escolha das sedes nas novas comunidades foi discutida pelos moradores e dirigentes do Consórcio AHE Funil. As obras para implantação das novas comunidades começaram em novembro de 2001 e foram concluídas em outubro de 2002, após 26 meses de trabalho.

Usina do Funil produz energia para abastecer cidade de 500 mil habitantes (Foto: Reprodução EPTV)Usina produz energia para abastecer cidade de
500 mil habitantes (Foto: Reprodução EPTV)

A barragem foi construída no Rio Grande entre os municípios de Lavras (MG) e Perdões (MG). O reservatório mede 34,71 km² de extensão e banha também Ijaci, Bom Sucesso (MG), Ibituruna (MG) e Itumirim (MG).

O projeto de criação da Usina do Funil foi concretizado depois de cerca de 50 anos, quando foram feitas as primeiras sondagens sobre o potencial hidrelétrico do Rio Grande na região. Sob olhares desconfiados, a comunidade local parecia não acreditar na concretização do projeto, mesmo presenciando toda a movimentação de pessoal e máquinas.

Em janeiro de 2003, começaram os primeiros trabalhos. No início das operações, toneladas de peixes morreram, monumentos históricos como a Ponte do Funil e diversos pontilhões da ferrovia desapareceram em pouco tempo.

"Foi feito um estudo do trecho e foi verificado que havia um grande potencial energético na região, a partir de questões geológicas, volume de água, climatologia", explica o diretor de operações da Usina do Funil, Roberto Alves Barrio.

A usina entrou em funcionamento com apenas uma turbina. Hoje ela trabalha com sua capacidade máxima produzindo 180 mw, energia suficiente para abastecer uma cidade com 500 mil habitantes. A energia gerada na usina é conduzida até a subestação de Lavras e depois é interligada ao sistema nacional.

Linha férrea que passa pela comunidade Pedra Negra antes da usina (Foto: Reprodução EPTV)Linha férrea que passa pela comunidade Pedra Negra antes da usina (Foto: Reprodução EPTV)

A história fica
As mudanças que a região e os moradores sofreram ao longo desse tempo estão registradas em exposições fotográficas e em um livro, que está sendo lançado este ano. "Às Margens do Rio Grande" é resultado de muitas pesquisas sobre o patrimônio histórico, artístico e cultural das comunidades afetadas diretamente pela construção da usina.

"O objetivo deste livro é disponibilizar toda essa história dos moradores, contada por eles, e levar toda essa história da comunidade para a comunidade. E é muito importante trazer isso porque eles se identificam nessas fotos, identificam parentes, casas, ritos religiosos, e olham tudo aquilo com saudosismo", explica Gilmara Junqueira, coordenadora ambiental da usina.

A exposição fotográfica sobre as comunidades pertencentes à Usina do Funil começou em 2009, com um acervo de cerca de 100 fotos expostas em uma mostra itinerante. Atualmente, os quadros estão distribuídos entre as três Comunidades do Funil: Pedra Negra, Macaia e Ponte do Funil. Cada comunidade recebeu aproximadamente 30 fotos e a exposição é permanente.

Exposição traz cerca de 100 imagens das antigas comunidades do Funil (Foto: Reprodução EPTV)Exposição traz cerca de 100 imagens das antigas comunidades do Funil (Foto: Reprodução EPTV)

 

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