Terra da Gente

Por Gabriela Brumatti*, Terra da Gente


O destaque e contraste da borboleta na natureza — Foto: Carlos Candia-Gallardo/ Arquivo Pessoal

Você já deve ter observado alguma foto das borboletas da América do Norte e reparado em como elas são todas muito parecidas. O tom laranja com listras pretas é determinante nessa espécie que prevalece nos Estados Unidos.

As monarcas (Danaus plexippus) são espécies muito conhecidas por serem venenosas. Essa toxicidade está bem definida em suas cores chamativas, que já acionam na lembrança dos predadores que elas não são nada saborosas. No Brasil as parentes mais próximas são as Ithomiini, que também são venenosas.

Beleza que protege: coloração das borboletas evita predadores — Foto: Samuel Betkowski/ Arquivo Pessoal

O curioso a respeito dessas borboletas é o veneno é adquirido através de uma planta que elas comem. Ainda quando larva a espécie alimenta-se de uma erva, que aqui no Brasil é conhecida como leiteira. O leite produzido pelo vegetal, na verdade, é um látex composto por glicolísideos cardíacos. Em outras espécies, a ingestão dessa substância pode provocar vômito ou até parar o coração e, por isso, o nome cardíaco.

Mas a larva da monarca desenvolveu adaptações evolutivas e ela consegue se alimentar das leiteiras, incorporando o veneno ao seu próprio corpo. Assim, na fase de borboleta, as substâncias que foram “sequestradas” da planta continuam presentes no corpo do inseto.

Semelhança nos detalhes se repete em diferentes espécimes — Foto: Carlos Candia-Gallardo/ Arquivo Pessoal

A técnica da borboleta venenosa despertou a atenção de outras espécies de borboleta que, evolutivamente, começaram a ficar com a cor parecida com a da monarca ou com as primas Ithomiini. Assim, por via das dúvidas, o predador evita se alimentar de qualquer borboleta. Esse fenômeno de imitação das cores é chamado de mimetismo e pode ser observado em outros animais.

A inteligência do animal não para por aí. As “monarcas jovens” não sabem como digerir tão bem o látex e, por ter as mandíbulas pequenas, podem ter suas mandíbulas coladas. É por esse motivo que ela cria, com a boca, um furinho nas folhas para que a substância seja drenada e ela possa se alimentar sem o consumo do líquido em grandes quantidades.

As larvas do animal se alimentam da leiteira — Foto: Samuel Betkowski/ Arquivo Pessoal

Além da técnica de proteção criada por elas há estudos que procuram verificar se elas também podem hibernar. Estudos realizados por pesquisadores como Carlos Candia-Gallardo do Instituto Butantan e da Universidade de São Paulo investigam se, assim como ursos, as ithomiini podem ficar reclusas por um tempo.

Essa seria uma adaptação aos períodos difíceis de seca e frio, quando há mais dificuldade de conseguir alimento. Assim, durante aproximadamente quatro meses, as borboletas ficariam agrupadas, como se formassem um bolsão.

A suspeita é que elas fiquem dessa forma para economizar energia e que depois desses quatro meses, sempre na mesma data, “despertem” e se desacoplem desses bolsões, voltando voar independentes em busca de alimento.

A transparência nas asas também chamam a atenção — Foto: Carlos Candia-Gallardo/ Arquivo Pessoal

*Supervisionado por Lizzy Martins

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