Terra da Gente

Por Nicolle Januzzi, Terra da Gente


O tamanho da maria-fedida pode variar de 4,5 milímetros até 20 milímetros ou mais, dependendo da espécie. — Foto: Ricardo Brugnera

Se tem uma coisa que sempre chama a atenção quando se encontra uma maria-fedida é o cheiro que ela exala ao ser tocada. Agora, você imagina por que isso acontece? As marias-fedidas contam com glândulas (presentes no abdômen quando novas e depois na região do tórax) que são responsáveis por produzir um líquido de odor muito forte que serve principalmente para proteção, mas que também tem outras funções.

O entomólogo e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ricardo Brugnera explica que na abertura dessas glândulas ocorre uma reação que faz com que esse líquido produzido evapore rapidamente. Dessa forma, predadores - e nós humanos quando encostamos nela - sentem o odor característico na hora. Pássaros, por exemplo, chegam a soltar a maria-fedida depois dessa estratégia. A camuflagem também é usada para proteção, já que muitas possuem as mesmas cores do ambiente em que vivem.

“Apesar de servir principalmente como modo de defesa, essas mesmas glândulas produzem feromônios que funcionam na atração entre os machos e fêmeas das espécies. Além disso, também ajudam no reconhecimento entre os indivíduos que muitas vezes vivem agrupados”, reforça o pesquisador.

Das 677 espécies de marias-fedidas descritas no Brasil, 52 são endêmicas do País. — Foto: Ricardo Brugnera

São no total cerca de sete mil espécies, todas da família Pentatomidae, nome que já faz referência à uma outra característica das marias-fedidas: elas têm cinco segmentos na antena, para funções sensoriais. O aparelho bucal do tipo sugador ajuda na identificação, assim como a presença de uma estrutura na região dorsal que é chamada de cutelo e nesse caso é triangular, servindo como escudo.

“No Brasil temos somente 677 espécies de marias-fedidas descritas, mas esse número com certeza é muito maior. O que acontece é que poucos pesquisadores estudam esses animais aqui no país e ainda falta muita informação”, esclarece o pesquisador que trabalha há cinco anos com as marias-fedidas.

O tempo de vida de uma maria-fedida varia muito dependendo da espécie, mas no geral a fase de ninfa pode durar cerca de um mês, enquanto a fase adulta pode ocorrer em até cinco meses

Ovos da espécie Alcaeorrhynchus grandis, uma das maiores espécies de marias-fedidas que existem. — Foto: Ricardo Brugnera

“Não há motivos para ter medo, podemos dizer que as marias-fedidas são inofensivas, elas não picam e no geral não oferecem perigo à saúde. Há apenas relatos isolados na literatura científica de espécies que chegaram a causar pequenas queimaduras através de um líquido, mas é algo raro e até duvidoso pela falta de informação”, afirma Brugnera.

Esses animais na grande maioria se alimentam de plantas, e no Brasil alguns grupos são consideradas como pragas para culturas de soja e milho, por exemplo. Mas o que muita gente não sabe é que algumas marias-fedidas da subfamília Asopinae predam pequenos insetos e podem ser até consideradas como controladores biológicos.

“Existem muitos estudos em andamento usando esses percevejos predadores como controladores biológicos naturais em cultivos, como tentativa de diminuir o uso de agrotóxicos. Ou seja, encontrar essas espécies de marias-fedidas mesmo que no jardim, é algo benéfico que pode ajudar no controle de insetos indesejados”, finaliza.

Apesar da maioria das marias-fedidas se alimentar de plantas, algumas espécies são predadoras. — Foto: Ricardo Brugnera

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