Terra da Gente

Por Fernanda Machado, Terra da Gente


Óleo de mosqueta é extraído das sementes das frutas que nascem da planta — Foto: Bob Glen/iNaturalist

Você já deve ter ouvido falar ou até fez uso do óleo rosa de mosqueta para hidratar a pele, reduzir manchas ou tratar queimaduras. Ao contrário do que pode parecer, o óleo não é extraído de uma rosa, mas sim das sementes das frutas que nascem da planta rosa mosqueta (Rosa rubiginosa). E você deve estar se perguntando o que a Rosa canina tem a ver com essa história. Ela também é utilizada para extração do óleo. A diferença é que elas possuem composições diferentes de ácidos graxos essenciais e nutrientes e, portanto, atuam de maneiras distintas na pele.

De origem europeia e cultivada em clima frio, essa planta foi introduzida nos Andes por colonizadores espanhóis por conta da semelhança de temperatura. Hoje é encontrada em abundância no sul do Chile, mas também é bastante cultivada na Argentina, Peru (Cuzco, Arequipa e Apurimac), Estados Unidos (Missouri, Nebraska e Wyoming), além de África e Índia. Seu sucesso na adaptação aos novos locais pode ser explicado por ser uma planta que tolera uma ampla variação de pH, sobrevivendo em solos muito ácidos e em solos alcalinos.

De origem europeia e cultivada em clima frio, essa planta foi introduzida nos Andes por colonizadores espanhóis por conta da semelhança de temperatura — Foto: Yves Bas/iNaturalist

Atualmente o Chile é o principal produtor e exportador da América do Sul, tendo alcançado a marca de US$ 25,1 milhões em 2022 e superado os recordes de exportação em 2020. Os principais países compradores são Alemanha, Estados Unidos e Suécia.

De acordo com bióloga e botânica Carolina Ferreira, a rosa mosqueta pertence à família Rosacea. “É uma família pouco representada nos trópicos, mas de grande valor econômico, estando representada entre as frutas, como maçã, ameixa, amêndoa, amorinha-silvestre, cerejas, damasco, framboesa etc, e flores ornamentais, como rosa, piracanta, cotoneaster e buquê-de-noiva”, explica.

O USO

Hoje é encontrada em abundância no sul do Chile, mas também é bastante cultivada na Argentina, Peru, Estados Unidos, além de África e Índia — Foto: Chris Ecroyd/iNaturalist

Estudos mostram que os frutos da rosa rubiginosa apresentam uma alta concentração de ácido linoleico (ômega 6), alfa-linolénico (ômega 3) e oleico (ômega 9), além de contar com a antioxidantes lipofílicos, como os tocoferóis e os carotenoides, e vitaminas A, C, E, B1 E B2. Toda essa combinação é importante enquanto propriedade anti-inflamatória e antioxidante. Seu teor de ácidos graxos essenciais é superior ao da rosa canina em aproximadamente 78%. Por outro lado, a rosa canina é uma fonte rica em ômega 3, 6 e 9 que atua regenerando a camada basal da epiderme.

Na indústria cosmética, o óleo de rosa mosqueta tem sido difundido como poderoso agente cicatricial, isso porque os ácidos graxos e as vitaminas A e C são propriedades cicatrizantes. Dessa forma, óleo de mosqueta contribui com a regeneração da pele e estimula a produção de colágeno. O extrato de rosa mosqueta tem ação anti-inflamatória, cardioprotetora, imunomoduladora, hipoglicêmica, antimicrobiana e antidiarreica, além da possibilidade de aplicações cutâneas.

Além de contribuir com o processo de cicatrização, o óleo pode ajudar a prevenir o envelhecimento precoce da pele, reduzir manchas e cicatrizes causadas por queimaduras, acnes e queloides, clarear sardas e estrias, sendo também empregado na terapêutica de úlceras por pressão e em feridas pós-operatórias.

“Apesar dos estudos indicarem eficácia do óleo (uso tópico ou oral), a metodologia utilizada não é detalhada de maneira clara e por vezes abrangem poucos indivíduos analisados, o que dificulta a recomendação segura da utilização do óleo para os fins listados acima. Apesar disso, no Brasil, é comum encontrarmos o óleo em farmácias de manipulação”, reforça Carolina.

Com exceção de dois casos de dermatite de contato alérgica ao óleo de rosa mosqueta, a bióloga explica que nenhuma toxicidade ou malefício foi relatada para esta planta. Em relação aos efeitos colaterais, diarreia, flatulência e desconforto gastrointestinal leve foram relatados em alguns dos ensaios clínicos com pó de rosa mosqueta.

A botânica explica que é possível extrair o óleo das duas espécies: rosa rubiginosa e rosa canina, mas que elas apresentam diferenças morfológicas. “Na rubiginosa a face inferior da folha geralmente apresenta pelos (tricomas) simples misturados com pelos glandulares (que secretam substâncias) e a folhagem tem flagrância de maçã. Já a canina não tem pelos glandulares na superfície da folha e também não tem essa flagrância, que é muito própria da rubiginosa. Além das diferenças morfológicas, R. canina é uma rosa selvagem comum na Europa Central e a R. rubiginosa é bem conhecida na América do Sul.

CARACTERÍSTICA

Árvore da rosa mosqueta é um arbusto que pode atingir de 2 a 3 metros de altura e que cresce em regiões com climas frios e chuvosos — Foto: Nicolas Olejnik/iNaturalist

As rosas são polinizadas por insetos e uma grande variedade de besouros, moscas e abelhas. A rosa rubiginosa é capaz de se reproduzir clonalmente via raízes. Outra característica reprodutiva interessante a considerar em estudos posteriores é a provável hibridação entre rosa rubiginosa e rosa canina (que frequentemente é chamada de rosa mosqueta erroneamente). A dispersão dos frutos ocorre provavelmente por aves ou grandes mamíferos.

A árvore da rosa mosqueta é um arbusto que pode atingir de 2 a 3 metros de altura e que cresce em regiões com climas frios e chuvosos, muitas vezes em solos pobres. Não há uma referência bibliográfica específica, mas alguns sites de cultivo na internet sugerem que toleram luz do sol direta e ambientes meia-sombra, mas por terem origem em países mais frios, não toleram altas temperaturas – sendo preferível ambientes mais frescos. O solo deve ser bem drenado para que não fique encharcado e apodreçam as raízes.

O PASSADO

Na indústria cosmética, o óleo de rosa mosqueta tem sido difundido como poderoso agente cicatricial — Foto: John Barkla/iNaturalist

Segundo a bióloga, na literatura estrangeira é possível encontrar informações sobre o consumo de espécies de rosa selvagem como fonte de vitamina C na ausência de frutas cítricas para rações durante a Segunda Guerra Mundial. “Como havia poucos frutos de outras espécies, eles coletavam rosas selvagens, secavam nos arbustos e depois moíam para misturar com farinha e fazer pães, bolos, biscoitos e mingaus”.

Além disso, os frutos eram muito utilizados para resfriados e para doenças como gengivas inflamadas ou sangrando. No âmbito medicinal, a R. rubiginosa era usada na Irlanda no tratamento da icterícia.

“É muito recorrente também na literatura uma história por traz da origem do nome da rosa canina que não passa de um mito. Diz-se que ela tem esse nome por conta da crença de que ela curou uma mordida de cachorro que estava contaminada com o vírus da raiva. Uma mulher teria recebido uma mensagem em um sonho que dizia a ela para enviar a seu filho soldado uma decocção de raiz de rosa selvagem (rosa canina). A decocção, conhecida pelos gregos como Cynorrhodon, curou a mordida do cachorro. Essa história foi contada pelo médico romano Plínio, conhecido como ‘o Velho’, no século I, podendo ser consultada no livro ‘Rosehip: A Foraging Guide’, do pesquisador etnobotânico Robin Harford”.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!