Por Poliana Casemiro, g1


Imagens mostram o crescimento da Vila Sahy, onde ocorreu tragédia no Litoral Norte de SP

Imagens mostram o crescimento da Vila Sahy, onde ocorreu tragédia no Litoral Norte de SP

Área mais afetada pelas chuvas que castigaram o Litoral Norte de São Paulo no final de semana, a Vila Sahy, na cidade de São Sebastião, é na verdade uma ocupação irregular iniciada em 1987. O local fica em uma área de preservação ambiental e às margens da rodovia Rio-Santos (veja mais no vídeo acima).

Ao menos duas avaliações – uma feita em 1996 pelo Instituto Geológico (IG), órgão vinculado ao governo paulista; outra feita em 2020 pelo Ministério Público Estadual – apontaram riscos de deslizamentos no local.

Um relatório da administração municipal informou que, até 2018, havia 648 imóveis e 779 famílias na área. Moram lá, sobretudo, pessoas de baixa renda que trabalham em condomínios, casas de alto padrão e hotéis da região. Em 2009, a Prefeitura de São Sebastião se comprometeu a regularizar a Vila Sahy em um prazo de dois anos, o que jamais aconteceu.

Nesta quarta-feira (22), equipes de resgate iniciaram o quarto dia de trabalhos. O balanço mais recente da Defesa Civil aponta 48 mortos e 38 desaparecidos – a maioria morava justamente na Vila Sahy.

Abaixo, o g1 detalha, em 5 pontos, como se formou e quais as características da Vila Sahy:

1. Onde fica e como surgiu a Vila Sahy

Vila Sahy, área da tragédia, sinalizada em vermelho — Foto: Reprodução/Ministério Público

A Vila Sahy ocupa uma área de 110.612m² às margens do Parque Estadual da Serra do Mar. O local tem como referência a praia Barra do Sahy, em São Sebastião.

De acordo com o Ministério Público, a ocupação começou em 1987 quando parte da mata no local foi retirada para obras de implantação e melhoria da rodovia Rio-Santos.

2. Quem são e quantas pessoas moram no local

De acordo com um relatório da Prefeitura de São Sebastião, até 2018, havia 648 imóveis e 779 famílias na região.

A comunidade é formada, principalmente, por pessoas de baixa renda. A maioria dos moradores trabalha em condomínios, em casas de alto padrão e em hotéis da região.

3. Situação irregular

A Vila Sahy é uma área, em tese, "congelada", isto é, em que são proibidas novas ocupações. A decisão é de 2009, quando a Prefeitura de São Sebastião assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual.

Na ocasião, a prefeitura se comprometeu a regularizar a área em um prazo de dois anos, o que não aconteceu. Em novembro de 2020, o MP realizou uma inspeção para avaliar o plano da prefeitura par urbanizar a Vila Sahy e legalizar os imóveis. O documento identificou áreas com risco de deslizamento.

Em março de 2021, então, MP entrou com uma ação civil pública para exigir a intervenção no local – o que inclui ligação de água, luz, urbanização e liberação das zonas de risco.

À Justiça, a prefeitura argumenta que tem 102 áreas para regularizar em toda São Sebastião e que não há recursos suficientes para fazer tudo o que é preciso. A gestão municipal fixou 2025 como prazo resolver o problema, o que a Promotoria considera insuficiente.

Uma decisão da Justiça em 2022 determinou que a prefeitura apresente prazos para estudos atualizados sobre o local e para a contratação de serviços de urbanização. O g1 procurou a Prefeitura de São Sebastião, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.

4. Infraestrutura precária

O núcleo da Vila Sahy não tinha infraestruturas básicas. De acordo com o MP, não havia sistema de abastecimento de água potável ou ligação de energia elétrica.

Além disso, não havia equipamentos públicos como:

  • escola;
  • creche;
  • postos de saúde;
  • áreas de recreação;
  • e posto policial.

A prefeitura manteve convênio com o Instituo Verde Escola, que atendia a crianças da região. O local, com a tragédia, transformou-se em ponto de abrigo e de atendimento médico. Também abrigou corpos de vítimas da tragédia.

5. Risco de deslizamentos

Instituto Geológico classificou como alto o risco de deslizamento em área mais afetada pela tragédia — Foto: Reprodução/Ministério Público

Pelo mapeamento do Instituto Geológico (IG), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, a área do núcleo da Vila Sahy é uma cabeceira de nascentes onde predominava Mata Atlântica antes de a ocupação se instalar. Tal característica faz com que o solo seja bastante inclinado, em condição de morro.

Segundo o IG, em uma avaliação feita em 1996, a área foi classificada como de risco muito alto para o escorregamento de solo. O relatório era de conhecimento da Prefeitura de São Sebastião.

MAIS FOTOS DE SÃO SEBASTIÃO: operações de resgate e doações de mantimentos

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Equipe de resgate isola área da Vila Sahy, em São Sebastião, durante a retirada de um corpo — Foto: Fábio Tito/g1

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Equipes de resgate atuam na Vila do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Ursinho de pelúcia sujo por lama na Vila do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Casa é invadida por lama na Vila do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Bombeiros buscam vítimas em desastre na Vila do Sahy, em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Casas foram derrubadas em sequência na Vila Sahy, segundo vizinhos — Foto: Fábio Tito/g1

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Encosta de morro em São Sebastião sofre deslizamento — Foto: Fábio Tito/g1

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Barco transporta água e outros mantimentos a moradores de São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Imagem mostra deslizamento de terra em encosta de morro em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Voluntários carregam gerador de energia para ajudar moradores na região do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Homem carrega colchão para auxiliar moradores em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Voluntários foram corrente para transportar doações na região do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Carretas transportam colchões e produtos de limpeza no porto da Barra do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Carrinho leva caixas com mantimentos para moradores da Vila do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Guarda-vidas mostra bota enlameada em desastre na região do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Carro é atingido por lama na Vila do Sahy — Foto: Fábio Tito/g1

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Na Vila do Sahy, em São Sebastião, homem descalço caminha na lama — Foto: Fábio Tito/g1

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Carro ficou parcialmente soterrado pela lama na Vila Sahy, em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Civis buscam desaparecidos ao lado de um carro que foi esmagado pelo deslizamento em Vila Sahy, São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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Escavadeira é usada para remover lama acumulada em rua da Vila Sahy, em São Sebastião — Foto: Fábio Tito/g1

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