Por g1 SP — São Paulo


'Golpe da fruta': Veja as novas regras aos comerciantes do Mercado Municipal de São Paulo

'Golpe da fruta': Veja as novas regras aos comerciantes do Mercado Municipal de São Paulo

A concessionária responsável pela administração do Mercado Municipal de São Paulo determinou novas regras aos lojistas para tentar evitar a intimidação de clientes e coibir o chamado "golpe da fruta", que consiste em coagir clientes para comprar frutas por valores muito acima da média.

Segundo administração do espaço, não é mais permitido abordar os clientes com facas de metal, só com de plástico. Também passou a ser recomendado que os vendedores mantenham ao menos um metro de distância do cliente, que também não pode ser abordado por mais de um vendedor de uma vez.

Comerciantes alegam que golpes são praticados por uma minoria e dizem que estão sendo tratados como criminosos.

Novas regras:

  • Não é permitido abordar clientes com facas de metal, somente de plástico;
  • Manter ao menos um metro de distância do cliente;
  • Proibida a abordagem múltipla de vendedores a um único cliente.

Barraca de frutas no Mercadão Municipal de São Paulo. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP


No ano passado, lojistas foram advertidos e boxes de comércio de frutas chegaram a ser interditados após denúncias recebidas pelo Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) do Mercadão e pelo Procon-SP.

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Em fevereiro de 2022, o g1 esteve no local, visitou quatro barracas e, presenciou a prática. No total, equipe de reportagem gastou quase R$ 100 por uma única unidade de fruta-do-conde, cinco morangos e 18 tâmaras.

Mercado Municipal de SP interdita três lojas do local após denúncias do 'golpe da fruta'

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À época, uma das estratégias mais usadas e presenciadas pela reportagem foi a de tentar convencer os consumidores a levar bandejas de frutas pelo preço do grama de cada produto, que segundo eles, é mais barato que o quilo (veja mais abaixo).

O Mercadão de São Paulo, no Centro da cidade, é um dos principais pontos turísticos da capital, famoso pelo sanduíche de mortadela e pela pastel de bacalhau.

Como funciona o golpe?

Frutas são vendidas no Mercadão Municipal de São Paulo por valores muito acima da média

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Logo quando se entra no Mercadão, vendedores já iniciam a abordagem, insistindo para que o cliente prove diversas frutas. Enquanto isso, eles contam histórias sobre a origem dos produtos e em nenhum momento citam os preços.

Em todas as barracas eles usam o mesmo argumento e falam que, por ser “a primeira compra do dia, o cliente recebe promoções”.

Em uma das barracas, um vendedor informou ao g1 que o quilo da fruta-do-conde, também conhecida como pinha, sairia por R$ 69,90, porém, se levasse em gramas, o valor ficaria mais barato.

De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o preço médio do quilo da fruta-do-conde no atacado é de R$ 8.

Na ocasião, o vendedor argumentou que, levando duas frutas-do-conde, o cliente não teria 1 kg da fruta, já que em média, cada uma pesava 300 gramas.

Na hora de pesar e calcular o pagamento, o primeiro valor apresentado foi de R$ 80 por duas frutas-do-conde.

Com a recusa, o vendedor insistiu em embrulhar duas unidades e disse que faria o valor "especial" de R$ 60 pelas duas. Apesar da insistência, a reportagem levou apenas uma, que saiu por R$ 40.

"Olha, as duas dariam esse valor [R$ 80], mas eu posso fazer um preço especial, R$ 60 para você. Vai pagar R$ 40 em uma só? Leva as duas por R$ 60, você tem dinheiro, sim", disse o vendedor.

Em uma outra banca, o vendedor informou que estava com uma promoção em que 100 gramas de qualquer fruta sairia pelo valor de R$ 12.

"É [sic] R$ 12 cada 100 gramas, você pode misturar as frutas que mais gostou. Pega só um pouquinho das frutas que você mais gostou de provar. O mix fica R$ 12 , baratinho", disse.

A reportagem pediu que colocassem 200 gramas de morango e tâmaras e, depois disso, a bandeja foi mandada para os fundos da barraca, onde seria feito o pagamento.

Na hora do pagamento, o funcionário do caixa não soube explicar com qual referência de quilo ele iria fazer o cálculo do valor, já que tinha duas frutas diferentes na pesagem.

Apenas acrescentou o valor de R$ 129,90 no caixa como referência e tentou cobrar de início R$ 80 por 5 morangos e 10 unidades de tâmaras.

A reportagem falou sobre a promoção informada de R$ 12 por 100 gramas, mas na hora da pesagem os 200 gramas se tornaram 400 gramas. Depois de muita insistência, o vendedor ofereceu a bandeja por um preço "especial" de R$ 40.

Segundo a Ceagesp, a média do quilo do morango é de R$ 8,03 em São Paulo e da tâmara é R$ 30,52.

Os tipos de golpes:

  • Ofertar um produto por um valor e cobrar mais do que o dobro na hora do pagamento;
  • Apresentar o valor por grama em vez de falar por quilo para tentar confundir o consumidor;
  • Colocar mais produtos do que o solicitado pelo cliente nas bandejas para aumentar o peso e elevar o valor da compra.

Bandeja com morangos e tâmaras — Foto: Deslange Paiva/g1 SP

Os preços de cada barraca também não seguem um padrão. Em uma terceira, um vendedor tentou montar mais uma bandeja de morango com tâmaras, o g1 recusou algumas vezes, ainda assim ele insistiu em montar uma somente com tâmaras. A bandeja com 8 unidades saiu por R$ 13.

O g1 também abordou uma turista que estava andando pelo Mercadão, e ela disse que gastou R$ 80 em uma bandeja com quatro frutas. “Pelo que percebemos aqui, esse é o preço na bandeja, não sai menos que isso.”

O funcionário do estacionamento também comentou sobre os preços e disse que no Mercadão a tradição é a de uma única fruta custar R$ 50.

“Quem vem aqui precisa ter dinheiro, tem que vir para gastar. Mas eu jamais sairia de casa para gastar com fruta, não dá certo.”

Ainda segundo relatos de consumidores do local, além dos preços abusivos, os vendedores também costumam colocar açúcar na fruta na hora de ser degustada.

A reportagem não conseguiu verificar se as facas que os vendedores usaram para cortar as frutas tinham açúcar, mas todas as frutas provadas estavam extremamente doces.

O g1 esteve no local por cerca de 2 horas e visitou quatro barracas, com compras em três delas. Uma fruta-do-conde, 5 morangos e 18 tâmaras saíram por R$ 93, após muito "choro".

Multas aplicadas

Segundo a concessionária Mercado SP SPE S.A., as multas aplicadas aos lojistas variam de 10% a 100% do valor da locação do box do lojista.

Se houver uma segunda multa, o contrato com o lojista será rescindido, e a concessionária irá ajuizar ação de despejo.

"A Concessionária realiza reuniões rotineiras com os responsáveis pelas bancas de frutas, orientando e advertindo sobre as boas práticas a serem observadas por todos, bem como, advertindo das consequências do não cumprimento do Regimento Interno, do Contrato firmado e da legislação em vigor", afirmou a empresa em nota.

"É muito importante que a companhia seja informada de eventuais abusos para que sejam tomadas as medidas necessárias. Para isso, entre em contato conosco pelo e-mail: sac@mercadospspe.com.br", informou a concessionária.

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