Considerado uma das piores tragédias em Angra dos Reis, no litoral Sul do Rio, o desmoronamento de encostas de morros causou a morte de quase 40 pessoas no dia 9 de dezembro de 2002. Semelhante ao que ocorreu na madrugada de ontem, a chuva forte provocou o deslizamento de pedras e de árvores, soterrando pelo menos 20 casas e deixando 1,5 mil desabrigados.
Há sete anos, a área mais atingida foi o bairro Areal onde 18 corpos foram encontrados. A enxurrada arrastou morro abaixo casas, pessoas e árvores. Muros e carros com as rodas para cima demostraram a força das água após 24 horas de chuvarada. O volume acumulado de água, em um único dia, chegou a 129 milímetros (cada milímetro equivale a um litro por metro quadrado). Essa quantidade representou metade da média mensal de dezembro naquele ano.
Alguns corpos chegaram a ser localizados soterrados a 300 metros de suas casas. Entre os sobreviventes, estavam os irmãos Luiz Carlos e Josinei Moreira Bastos, que perderam 14 parentes depois que três casas da família foram destruídas.
- Não adianta ficar desesperado. A vida é essa. Vi minha mãe morrer, as paredes caindo, mas não pude fazer nada. Saí correndo, pulando os muros, ao mesmo tempo em que ouvia os gritos de desespero. Infelizmente, não consegui salvar ninguém - contou Luiz Carlos.
Naquela época, cerca de 70 mil pessoas viviam em residências construídas nas encostas de morros de Angra, polo turístico. Conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ammbiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do município, a ocupação desordenada do solo foi a principal causa dos deslizamentos. Bairros construídos sobre brejos, manguezais e áreas que antes absorviam a água da chuva, como Grande Belém, Ribeira e Japuíba, estavam entre os mais atingidos.
O quadro de 2002 era tão grave que o então ministro da Integração Nacional, Luciano Barbosa, considerou a situação "desoladora" e "muito triste" em visita ao local. Ele prometeu liberar recursos por meio de medida provisória para evitar a repetição da tragédia. À frente da prefeitura em 2002, o prefeito Fernando Jordão (PSB) decretou estado de calamidade pública.