Desde que decidiu que seria jogador de futebol, ainda na infância, Marcelo Moreno espera para poder jogar um Brasil x Bolívia. A grande questão, no entanto, sempre foi por qual país ele estaria em campo. Nascido na cidade boliviana Santa Cruz de la Sierra e filho de brasileiro, o atacante optou por atender um pedido do pai, Mauro Martins, paulista de nascimento e boliviano de coração. Ou pelo menos tentar atender.
Marcelo Moreno defendeu o Brasil, nas categorias de base, e joga pela Bolívia, como profissional
- Era um sonho meu e do meu pai que eu jogasse pela seleção do
país dele. Fui convocado na base, mas infelizmente não tive uma
seqüência. Fiquei esperando por muito tempo uma nova
oportunidade e ela não chegava. Conversei com meu pai e decidi
defender meu país. Foi quando a Bolívia me chamou para a seleção
principal - explica.
Convocado para as seleções sub-18 e sub-20 do
Brasil, Marcelo viu seu sonho de vestir verde e amarelo em uma
Copa do Mundo acabar em 12 de setembro de 2007, quando aceitou
uma convocação da Bolívia para uma partida amistosa, contra o Peru.
Moreno defendeu o Brasil sub-18 na Copa Sendai, no Japão, em 2005, e pela sub-20 no Torneio do Mediterrâneo, na Espanha, em 2006
- Me sinto tão boliviano quanto brasileiro. Minha
história de vida está diretamente ligada a esses dois países que
eu amo. Nunca posso esquecer o Brasil, tudo que tenho no futebol
começou aí, começou no Cruzeiro.
Durante o verão ucraniano, visitar da namorada ajudaram na adaptação de Moreno
Artilheiro da última edição da Libertadores com
a camisa do time mineiro, Moreno Martins, como é conhecido na
Bolívia, deixou o futebol brasileiro em maio deste ano, rumo ao
Shaktar Donetsk, da Ucrânia.
No Leste europeu, entretanto, os gols não são tão
rotineiros quanto foram em Belo Horizonte. Para falar a verdade,
ainda nem apareceram. Nada que atrapalhe os planos do boliviano,
que, ainda sem ter sentido na pele o frio ucraniano, só perde a
paciência mesmo quando o assunto é o cardápio de sua nova casa.
- Aos poucos a gente vai se acostumando. Por
enquanto, o mais difícil está sendo a alimentação. O tempero é
muito diferente. Faço questão de trazer alimentos do Brasil,
como o feijão. Fui a um restaurante e não conseguia pedir um
frango. A solução foi bater os braços e fazer o gesto para o
garçom entender. Foi muito engraçado. O frio ainda não chegou,
espero que quando chegue eu já esteja levando bem a situação -
diz Moreno, que vive sozinho e conta com visitas esporádicas da
namorada e do irmão para se adaptar.
A comunicação com os companheiros de grupo também
tem sido complicada. Fluente no espanhol e no português, o
ex-cruzeirense usa o pouco que sabe de inglês para se fazer
entender, ou apela para os muitos brasileiros do Shaktar, como
Jadson, Fernandinho, Ilsinho, William e Brandão.
- Somos todos amigos aqui, uma grande família.
Isso tem me ajudado muito, tanto nos treinos quanto no idioma.
Eles falam sempre como funciona o clube, como são as coisas.
Vibração contra o Brasil e pai vira casaca
Na Ucrânia, Marcelo Moreno veste a camisa 99
Concentrado com a seleção boliviana desde segunda-feira, Marcelo
Moreno já vive a expectativa do retorno ao Brasil. Longe de Belo
Horizonte, ele sabe que poucos serão os brasileiros que torcerão
pelo seu sucesso no jogo do Engenhão, mas não tem dúvidas que um
em especial irá virar a casaca.
- Ainda não conversei com meu pai sobre isso. Mas
com certeza será assunto de uma conversa. Vamos ver se a gente
aposta alguma coisa. Na verdade, ele sempre me deu forças,
esteve sempre comigo, e não duvido que irá torcer para a Bolívia
para ver o filho feliz.
Sobre a emoção de marcar um gol contra os
brasileiros, o boliviano se mostra indiferente e garante que não
irá se privar de vibrar bastante caso isso aconteça.
- Só vou poder saber isso na hora do jogo. Será a
minha primeira vez contra o Brasil. Como a Bolívia precisa muito
desses pontos, vou dar de tudo para fazer um grande jogo e
gritar muito se fizer um gol.
Aos brasileiros, resta torcer para que o Moreno Martins da seleção boliviana, dia 10 de setembro, às 22h, no Engenhão, não seja tão artilheiro quanto o Marcelo Moreno que jogou no Cruzeiro.