Futebol no Japão

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por Tiago Bontempo

 

Eliminatórias - Japão 2x0 Austrália - Saitama Stadium 2002 - Público: 59.492 [vídeo]
Gols: Takuma Asano (41'), Yosuke Ideguchi (82')

 

Ideguchi e Asano marcaram os gols que classificaram o Japão para sua sexta Copa do Mundo consecutiva / Fotos: Koki Nagahama / Gekisaka

 

Esqueça Honda, Kagawa e Okazaki. Os três principais nomes da seleção japonesa nos últimos sete anos são hoje peças secundárias no elenco. Eles continuam sendo convocados, é claro. Mas nenhum deles foi titular no jogo de hoje contra a Austrália. Confronto que, assim como nas Eliminatórias em 2013, valia a vaga na Copa do Mundo para os Samurais Azuis. Desta vez, valia também para os Socceroos. Quem vencesse estaria 100% garantido no Mundial da Rússia. 

 

Vahid Halilhodzic, que vinha pressionado e teria grandes chances de perder o emprego em caso de resultado negativo hoje, promoveu mudanças. Deixou no banco os medalhões Honda, Kagawa e Okazaki, além dos menos experientes Yuya Kubo e Haraguchi, que vinham sendo titulares, mas não estão em um momento tão bom. Jogaram os que estão em boa forma. Dos veteranos, os que vêm jogando bem foram mantidos.

 

Kawashima, titular pelo Metz na última rodada do Francês, continua o número 1 do Japão. Yoshida, destaque no Southampton, é presença inquestionável na defesa nipônica. Hasebe, um dos melhores japoneses em atividade na Europa, segue com a braçadeira de capitão. Osako demorou mas reencontrou no Colônia seu melhor futebol, assim como Hiroki Sakai, que pode até não estar no nível de um Uchida no auge mas tem dado conta do recado. Só Nagatomo é que tem sido escalado mais por falta de opção, mas pelo menos hoje ele esteve e acima de qualquer crítica.

 

Hasebe, que tem jogado bastante como líbero em uma defesa de três zagueiros no Eintracht Frankfurt, foi escalado como o volante mais recuado em um 4-3-3. Halilhodzic abriu mão do 4-2-3-1 e veio com três volantes. Isso mesmo, três volantes para enfrentar a Austrália em casa no jogo decisivo das Eliminatórias. "Esse técnico enlouqueceu?", você pode pensar. As circunstâncias fizeram Ange Postecoglou escalar os Socceroos sem nenhum meio-campista tipicamente marcador. Com Jedinak lesionado e Milligan recuado para a linha de defesa, o usual 3-4-2-1 australiano tinha Irvine e Luongo como meias defensivos. Dois jogadores com características ofensivas, de toque de bola.

 

Com Rogic e Troisi mais adiantados na armação e Kruse, que também é meia, atuando como um falso nove, a Austrália tomou conta da posse de bola e trocava passes com velocidade e precisão. Deixou a defesa japonesa acuada. Porém, se voltarmos um pouco no tempo, os dois países jogaram de forma parecida no jogo de ida, empate por 1x1 em Melbourne em outubro de 2016.

 

O "domínio" da Austrália era só entre aspas, pois eles não criavam chances de gol. Quem chegava mesmo era o Japão, que aproveitava de forma eficiente o pouco tempo que tinha com a bola nos pés. No seu 4-3-3, o Japão tinha o velocista Asano na direita, o driblador Inui na esquerda e o ótimo pivô Osako no centro. Quando os oceânicos finalmente produziram uma chance de gol, já perto do fim do primeiro tempo - chute de Leckie que desviou na perna de Yoshida e bateu na trave -, os asiáticos já tinham chegado em várias ocasiões. Merecidamente foram para o intervalo com a vantagem no placar depois do cruzamento de Nagatomo que encontrou Asano livre, em posição legal. Smith bobeou na marcação e o Jaguar, frente a frente com Ryan, não desperdiçou.

 



Os números comprovam o sucesso do jogo reativo do Japão. Apenas 33% de posse de bola, menos de metade do número de passes tentados (305x627) e completados (216x514) pelo adversário, mas muito superior no número de finalizações (17x5) e chutes certos (5x1). Os Samurais não tinham a bola, mas tinham o domínio do jogo. Os Socceroos só tiveram uma chance de gol no segundo tempo, no cruzamento de Kruse que Sakai travou no momento exato antes que Juric concluísse. Kawashima só teve que cortar cruzamentos e sair do gol. Não precisou fazer nenhuma defesa difícil.

 

Já estamos cansados de ver jogos em que o Japão domina, tem a bola, troca passes o jogo inteiro, mas não consegue criar ou converter chances de gol. Hoje foi o contrário. Halilhodzic encontrou uma nova forma de jogar. E pode ter também encontrado um novo craque para o time. Ideguchi foi brilhante do início ao fim. Com 21 anos recém completados, o mais jovem em campo não perdia um duelo. Jogou com fome de bola do primeiro ao último minuto. A revelação de 2016 na J-League quase matou o jogo quando recebeu de Haraguchi na área e Sainsbury tirou em cima da linha com o goleiro já batido. Pouco depois, em um erro na saída de bola de Irvine que Haraguchi recuperou, Ideguchi não perdoou. Mandou uma bomba de fora da área e selou a classificação japonesa para a Copa do Mundo.

 

Ideguchi está apenas começando a carreira, mas já entrou para a história do futebol japonês. Seu primeiro gol com a Hinomaru (por coincidência, bem parecido com o primeiro gol que marcou pela J-League, de fora da área contra o Nagoya Grampus em setembro de 2016) será lembrado assim como o gol lendário de Masayuki Okano ou o de Keisuke Honda, que garantiram a classificação para os Mundiais de 1998 e 2014, respectivamente. Ótimo para o torcedor japonês (principalmente o do Gamba Osaka) que a janela do futebol europeu já vai fechar e Ideguchi poderá ser acompanhado de perto por mais um tempo.

 

Formações iniciais: o 4-3-3 japonês que dominou o jogo mesmo sem ter a posse de bola não teve uma única atuação abaixo da média. Destaque principalmente para os dois laterais, Hiroki Sakai e Nagatomo, e para Ideguchi, que deve ter cavado de vez um lugar no time. Na Austrália, faltou centroavante. Mesmo as entradas de Juric e Cahill não corrigiram o problema. Rogic, meia com a capacidade técnica de fazer a função do camisa 10, decepcionou na armação.

 

O Japão encerra sua participação nas Eliminatórias na próxima terça-feira (03/09), em Jidá, contra a Arábia Saudita. A partida começa às 14h30 no horário de Brasília.

 

 

Classificação da fase final das Eliminatórias da Ásia para a Copa 2018:

 

GRUPO A
1º Irã (21PG, +8SG) [Classificado]
2º Coreia do Sul (14PG, +1SG)
3º Síria (12PG, +1SG)
4º Uzbequistão (12PG, -1SG)
5º China (9PG, -3SG)
6º Catar (7PG, -6SG)

GRUPO B
1º Japão (20PG, +11SG) [Classificado]
2º Arábia Saudita (16PG, +6SG)
3º Austrália (16PG, +4SG)
4º Emirados Árabes Unidos (13PG, -2SG)
5º Iraque (8PG, -2SG)
6º Tailândia (2PG, -17SG)

 

Histórico de confrontos: 25J, 9V, 9E, 7D, 35GP, 31GC
Depois de três empates seguidos nos confrontos pelas Eliminatórias, o Japão finalmente voltou a vencer a Austrália e, contando outras competições e amistosos, completou sete jogos sem perder para o rival.

 

Notas:
Kawashima - 6,0 - Teve pouco trabalho e não precisou fazer nenhuma defesa difícil. Saiu bem do gol quando preciso.
Hiroki Sakai - 7,0 - Em boa fase desde que se transferiu para o Marselha, foi um dos mais participativos no jogo. A todo momento apoiava o ataque e levava perigo pela direita. Foi excelente na defesa. Travou Juric na pequena área e evitou o que seria gol certo australiano.
Yoshida - 6,5 - Apesar de pequenos erros, comandou bem a defesa, soube "zagueirar" quando preciso e ganhou quase todas as disputas.
Shoji - 6,5 - Um pouco menos exigido que Yoshida, mas perfeito sempre que precisou aparecer. Não cometeu nenhum erro e deu segurança à defesa.
Nagatomo - 7,0 - Nem parece que já está na curva descendente da carreira. Jogou como se estivesse no auge, bem na marcação e perigoso no ataque. Fez o cruzamento para o primeiro gol.
Hasebe - 6,0 - Fez um primeiro tempo ruim com erros de passe e dando contra-ataques de graça ao adversário. Melhorou demais no segundo, com inúmeros desarmes.
Yamaguchi - 6,5 - Mais adiantado que Hasebe, ajudou a balancear o meio-campo, a distribuir o jogo e a fechar espaços na marcação. Apareceu bem em algumas interceptações. Mesmo sem chamar tanta atenção, foi útil à equipe.
Ideguchi - 8,0 - Nem parece o mais jovem do elenco e que fazia apenas sua terceira partida pela seleção. Jogou com uma intensidade incrível durante os 90 minutos. Fechou espaços na defesa, ganhou a maioria das divididas e deu ritmo ao ataque japonês, sempre passando a bola rapidamente e de forma incisiva. A cereja no bolo foi o gol da classificação. Um golaço em uma bomba de fora da área. Sem exageros, atuação nível "world class".
Asano - 6,5 - Sua velocidade foi uma das armas do Japão pelo lado direito. Movimentou-se muito bem no lance do gol e finalizou com precisão. Teve uma bola na trave no início da partida.
Osako - 6,5 - Foi bem no papel de pivô e ajudou o ataque a fluir. Isolou na chance que teve de marcar, mas no geral uma atuação positiva.
Inui - 6,0 - Deu trabalho e ajudou a levar perigo com seus dribles, mesmo sem ser tão eficiente. Correu bastante e teve momentos de destaque na marcação também.
Haraguchi - 6,5 - Um dos preferidos de Halilhodzic, foi o primeiro a sair do banco e sempre apareceu bem no ataque. Jogou pela meia esquerda e graças a ele o ritmo ofensivo continuou forte até o fim. Recuperou a bola que originou o gol de Ideguchi.
Okazaki - Sem nota - Substituiu Osako a três minutos do fim e apareceu bem quando a bola chegou nele. Manteve o Japão ativo no ataque no fim da partida.
Kubo - Sem nota - Entrou já quase nos acréscimos. Ajudou a prender a bola no ataque.
Halilhodzic - 7,0 - Acertou em cheio na escalação ao barrar medalhões e colocar os jogadores que estão em melhor fase. Mudou a formação e encontrou uma nova e eficiente forma de jogar. Superou a turbulência e conquistou seu primeiro grande objetivo desde que assumiu, em março de 2015: a vaga para a Copa do Mundo.

 

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Tiago Bontempo

31 anos, jornalista

Tiago Bontempo é jornalista, Gunner e Botafoguense, é também um admirador da cultura japonesa. Estuda o idioma e acompanha o futebol da terra do sol nascente.

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