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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


O Grupo E tem o potencial de render grandes histórias nessa Copa. Afinal, é a última chance de Cristiano Ronaldo ser o protagonista que foi na Euro de 2016, por exemplo, mas na Copa do Mundo. E é a chance da vida de Arrascaeta, vivendo o auge no Flamengo e com status de titular no Uruguai.

Guia Tático do Grupo H na Copa do Mundo — Foto: Reprodução

As histórias estão também nos outros times do grupo. A Coréia do Sul venceu de forma épica a Alemanha na última Copa, impedindo os então campeões de passarem de fase. Já Gana irá reencontrar o adversário de um dos mais emocionantes jogos da história: aquelas quartas onde Luizito colocou a mão na bola, fez um pênalti, Muslera defendeu...

Vamos ver como esses adversários irão jogar nessa edição:

Portugal: coadjuvantes cada vez melhores para Cristiano Ronaldo

É possível dizer que Portugal nunca teve coadjuvantes de tanto destaque para sua estrela maior, Cristiano Ronaldo. Muito longe do auge em que estava quando chegou na Rússia, Cristiano vive má fase no United, mas sua mentalidade vencedora jamais pode ser colocada à prova - e agora ganha um timaço para acompanhá-lo.

Basta ver que a trinca de meias do 4-2-3-1 de Fernando Santos é formada por Rafael Leão, do Milan; Bruno Fernandes, do United, e Bernardo Silva, do City. Qual outra seleção na Copa tem tanta qualidade assim no ataque? Cancelo, um dos melhores laterais direitos do mundo, prova que a defesa não fica tanto para trás assim.

Provável time de Portugal para a Copa do Mundo — Foto: Reprodução

Ainda assim, é verdade que Portugal tem problemas. E não são poucos. É um time que vende caro suas derrotas, mas joga menos do que pode com Fernando Santos. A construção das jogadas muitas vezes é pouco pensada e depende demais das movimentações de Bruno Fernandes e de Bernardo Silva sair do lado e vir buscar a bola de Willian Carvalho. Isso quando Cristiano não recua apenas para tocar na bola.

A bola parada e o poder de decisão de Cristiano encontraram na diagonais de Rafael um grande aliado. Afinal, o atacante do Milan ajuda a preencher a área e abrir o corredor aos laterais e vem tornando Portugal mais perigoso com a bola, sem abandonar sua vertente direta. Com tanto talento, é de esperar jogos mais pausados contra Gana e Coréia e um duelo de posse contra Uruguai.

Sem a bola, a ideia é defender num 4-4-2. Outra variação é Bruno Fernandes preencher o mesmo setor de Carvalho e formar um 4-1-4-1, com Neves entre as linhas. Mesmo assim, alguns problemas de domínio e de pressão na bola afastam Portugal do seu domínio imaginário vendo esse time.

Uruguai: nova geração e novo estilo

A saída de Maestro Tabarez era necessária. Foram anos de domínio no futebol sul-americano, com uma Copa América e uma semifinal de Copa do Mundo com o mesmo estilo cirúrgico, extremamente defensivo e pautados em pivôs inesquecíveis para Cavani, Forlán e Suárez. Mas faltou algo a mais contra a França em 2018 e principalmente contra a Colômbia em 2014.

Por isso, Diego Alonso vem mostrando que Uruguai, o pequeno país que é templo do futebol, pode mais. O 4-4-2 que é quase um 4-2-2-2 com Arrascaeta flutuando do lado esquerdo para o centro. Uma variação é ele como meia-armador solo num 4-3-1-2, com um volante e a dupla Cavani e Suárez insubstituível no ataque.

Provável time do Uruguai para a Copa do Mundo — Foto: Reprodução

Por ser uma equipe que tem o ideário de atacar e fazer gols em momentos de construção ofensiva, o Uruguai tem dinâmicas mais coletivas que o time de Tabarez. Arrascaeta sai do lado e procura o centro da jogada, normalmente recebendo do ótimo Valverde, do Real Madrid. Nesse momento, Pellistri dá profundidade e Cavani sai da área e acrescenta mobilidade ao time.

Bentancout pode avançar e dar ainda mais profundidade, criando mais linhas de passe para que Luizito decida na frente e Cavani faça horrores na bola parada. É um time que chega ao ataque com velocidade e principalmente quando aciona Arrasca, vivendo fase magistral - até melhor que a de Luizito - apesar do cansaço de fim de temporada.

Sem a bola, Arrasca faz o mesmo movimento do Flamengo de Jorge Jesus e compõe uma segunda linha de meio-campo. O Uruguai se defende num 4-4-2 que por muitas vezes concedeu espaços demais nas Eliminatórias e pode sofrer contra Portugal, mas promete ir bem nos jogos mais "tranquilos" do grupo para mostrar que a nova geração pode ser mais ofensiva do que se pensa.

Coréia do Sul: organização e bons valores no ataque

O treinador Paulo Bento, que já comandou Portugal numa Copa do Mundo e teve passagem sem destaque pelo Cruzeiro, topou o desafio de tornar o futebol coreano mais organizado. O trabalho culminou com a classificação para a Copa e uma equipe que se organiza de forma muito nítida em todas as fases do jogo.

O esquema tático mais usado é o 4-2-3-1, com Son, do Tottenham, centralizado na linha de meias, atrás de Hwang. A postura é mais resguardada contra adversários como contra o Brasil, como foi no amistoso nesse ano. Por isso, a variação para o 4-4-2 pode aparecer.

Provável time da Coréia para a Copa do Mundo — Foto: Reprodução

A construção das jogadas é feita de forma paciente, com uma saída em três composta por um dos volantes. Esse volante abre pelo lado e os dois laterais sobem ao ataque, deixando Son mais próximo dos atacantes e criando uma espécie de cinturão, com quatro atacantes se movendo e flutuando na defesa adversária.

Esse cuidado com a construção faz o jogo da Coréia ser mais impositivo e com mais posse de bola. Deve ser assim a tônica contra Gana. Já contra Portugal e Uruguai, a postura mais recuada e um provável 4-4-2 devem fazer o time tentar contra-atacar mais, o que ganha agilidade com os deslocamentos de Sang-Ho e Hwang, além da qualidade de Son.

Na defesa, a equipe de Paulo Bento primeiro tenta recuperar rápido a bola, tentando fazer aquele perde-pressiona tão característico no futebol atual. Se não dá certo, o time todo volta e recompõe a defesa. Muitos gols são concedidos a partir de erros de passes, até pela tentativa de ser mais equilibrado e atacar mais.

Gana: retorno em meio a incertezas e bons jogadores

Depois de três participações, com direitos a jogos contra Brasil e Uruguai, Gana está de volta à Copa do Mundo. Mas a preparação foi caótica: treinador demitido, interino mantido e poucos jogos com o novo técnico, Otto Addo, para ter algum tipo de certeza do time que irá jogar.

Provável time de Gana para a Copa do Mundo — Foto: Reprodução

No 4-2-3-1 armado por Addo, uma adição de última hora é o bom centroavante Iñaki Williams: ele topou defender Gana e provavelmente estará no comando do ataque, com os irmãos Ayew. No meio-campo, Thomas Partey chega como titular do líder da Premier League.

Com tantos bons jogadores, Gana é o maior exemplo de que o clichê de que times africanos “só sabem correr” precisa acabar de vez. O forte do time é a construção inteligente a partir de trás. São várias as possibilidades: Partey fazendo a saída de três e Kudus, do Ajax, mais avançado. Ou o lateral direito Odoi se juntando aos três zagueiros. Baba pode aparecer como volante.

Com essa construção paciente, Gana tem um jogo interior, como os técnicos portugueses falam, muito forte. Willians fica mais avançado, os irmãos Ayew se juntam a Kudus na movimentação entre as linhas. É um time que triangula e faz a bola chegar nos lados do campo para cruzamentos na área.

Na defesa, Gana prefere adotar uma postura mais recuada e volta toda para seu campo quando perde a bola. Até pelo pouco tempo de planejar uma marcação alta. É um time que concede muitos gols e deve tentar defender melhor, em especialmente contra os adversários favoritos do grupo.

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