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Por Jorge Natan, Ivan Raupp, Richard Souza e Thiago Dias — São Petersburgo, Rússia


Boletim#20 Copa das Confederações: Alemanha campeã e Rússia pronta para 2018

Boletim#20 Copa das Confederações: Alemanha campeã e Rússia pronta para 2018

A Copa das Confederações pode ter se despedido neste ano com um saldo positivo. Pelas palavras dos presidentes da Fifa, Gianni Infantino, e do Comitê Organizador Local (COL), Vitaly Mutko, o torneio foi um sucesso e serviu como bom teste para a Copa do Mundo de 2018. A imprensa internacional, que começou questionando o interesse dos russos pelo campeonato, criticando o gramado, o tempo de obra (dez anos) e o preço da Arena Zenit (cerca de R$ 2,3 bilhões, oficialmente), durante o campeonato passou a falar mais sobre as denúncias de doping no Mundial de 2014 e o relatório sobre corrupção na Fifa do que sobre falhas de organização.

– O torneio foi um grande sucesso. Isso nos faz olhar para a Copa do Mundo, quando teremos mais sete cidades. Podemos esperar a mesma recepção calorosa na Rússia para celebrar o futebol. Isso é sobre futebol, nada além disso. É sobre aproveitar o futebol – disse Infantino, querendo separar o campeonado dos escândalos fora das quatro linhas.

Melhores momentos de Chile 0 x 1 Alemanha pela final da Copa das Confederações 2017

Melhores momentos de Chile 0 x 1 Alemanha pela final da Copa das Confederações 2017

A falta de craques tirou um pouco do brilho dentro do campo, pois apenas Cristiano Ronaldo carregava o status de grande estrela. A Rússia caiu ainda na primeira fase e decepcionou sua torcida. Mas sobraram algumas boas surpresas: a nova geração da campeã Alemanha, o bom desempenho da Nova Zelândia contra o México, a recuperação de Bravo no gol do Chile, a invasão chilena nas cidades-sede, a entrada de Ronaldo Fenômeno com a taça na final e até a presença do técnico Tite, que começou a sentir o gostinho de Copa do Mundo.

A Fifa ainda não revelou se haverá nova edição da Copa das Confederações. Provavelmente, esta foi a última. E, na - provável - despedida, só resta aos brasileiros torcer para que a sina da Seleção nas Copas após o tricampeonato de 2005, 2009 e 2013 se repita com a Alemanha em 2018.

MÉDIA DE PÚBLICO

Até poucos dias antes do início do torneio, a Fifa não havia conseguido vender metade dos 700 mil ingressos disponíveis. O presidente do COL, Vitaly Mutko, chegou a afirmar que o público começaria a se interessar enquanto a competição estivesse sendo disputada. E isso aconteceu.

A média de público foi de 39.269 torcedores, menor que a de 2013 no Brasil (50.291), mas maior que 2009 na África do Sul (36.555).

Público da final entre Chile e Alemanha foi o maior da Copa das Confederações, com 57.268 presentes na Arena Zenit — Foto: Thiago Dias

ESTÁDIOS

Quatro dos 12 estádios da Copa do Mundo foram testados na Copa das Confederações: Arena Kazan (Kazan), Arena Zenit (São Petersburgo), Olímpico de Sochi (Sochi) e Estádio do Spartak (Moscou). Filas nas lanchonetes e banheiros, principalmente nos intervalos dos jogos, foram as reclamações dos torcedores.

O maior problema foi o gramado da Arena Zenit, que havia sido trocado totalmente em maio e gerou reclamações dos jogadores – Cristiano Ronaldo criticou publicamente após a terceira rodada. A Fifa terá muito trabalho pela frente até 2018 para melhorar as condições do campo.

O gramado da Arena Zenit foi o ponto mais problemático entre os estádios da Copa das Confederações — Foto: GloboEsporte.com

CADASTRO DE TORCEDORES

Resultado de uma lei russa para coibir os hooligans, o cadastro das pessoas que possuíam ingresso foi um dos pontos positivos da Copa das Confederações. Segundo o COL, 928.263 torcedores fizeram a "Fan-ID" para assistir aos jogos – só era permitido acessar os estádios com as entradas e o crachá, com nome e foto. Dezenas de hooligans acabaram barrados por causa da iniciativa.

– O que me deixou irritado foi a espera. Por que eles esperaram até a véspera para me banir? – disse Alexander Shprygin, um dos líderes da briga entre russos e ingleses na Euro do ano passado, ao jornal “Daily Mail”.

Torcedores chilenos exibem o crachá da "Fan-ID" na porta da Arena Zenit, antes da final contra a Alemanha — Foto: Thiago Dias

TRANSPORTE PÚBLICO

Uma das novidades da Rússia para a Copa das Confederações e Copa do Mundo foi disponibilizar transporte de graça para os torcedores, incluindo viagens entre as quatro sedes do torneio. Segundo o COL, 217 trens foram utilizados pelas pessoas com ingressos para se locomover entre Kazan, Sochi, Moscou e São Petersburgo. Dos quatro estádios, o de melhor estrutura de transporte público foi o do Spartak, na capital, com metrô bem em frente à entrada principal. Em São Petersburgo, por exemplo, é necessário andar quase dois quilômetros para chegar à Arena Zenit após sair da estação.

O caminho do metrô à Arena Zenit, em São Petersburgo, é de quase dois quilômetros — Foto: Thiago Dias

SEGURANÇA

O atentado terrorista em abril, em São Petersburgo, ligou um alerta geral na Rússia para a Copa das Confederações. A segurança, que já era rígida no país, foi ainda mais reforçada. Cada torcedor era revistado rigorosamente para entrar nos estádios, que continham detectores de metal e equipamentos de raio-x em todas as portas. Profissionais de imprensa tinham até que ligar computadores, celulares e câmeras para provarem que funcionavam. Procedimentos parecidos aconteciam nas estações de metrô e hotéis credenciados pela Fifa.

Como o Fan-ID conseguiu afastar os hooligans, o único caso de violência com torcedores envolveu chilenos de organizadas do Colo-Colo e da Universidad de Chile, que deixaram a paixão pela seleção de lado, brigaram em Moscou, e dois foram para um hospital após serem esfaqueados.

Revista na entrada de estádio na Copa das Confederações — Foto: Thiago Dias

DISCRIMINAÇÃO

A Fifa colocou em prática na Copa das Confederações uma campanha antidiscriminação que dava poder aos árbitros para até suspender um jogo se detectasse ofensas, como racismo ou homofobia. Além disso, observadores da entidade estavam nas partidas para monitorar os torcedores. Nenhum caso de racismo foi divulgado pela Fifa ou por veículos de imprensa.

No início da competição, a entidade anunciou que havia alertado o México sobre o comportamento de parte da torcida, que entoou gritos homofóbicos contra o goleiro português Rui Patrício. A federação do país fez um comunicado oficial pedindo para os fãs mudarem a atitude, com receio de o time ser punido na competição.

Comunicado da federação mexicana pede aos torcedores que mudem comportamento para evitar punições da Fifa — Foto: Reprodução

ÁRBITRO DE VÍDEO

Provavelmente, o VAR foi o assunto mais comentado da Copa das Confederações. Desde o início, a Fifa deixou claro que o torneio seria apenas mais um teste do sistema, que já havia sido usado nos últimos Mundiais de Clubes e Sub-20. A meta é conseguir a aprovação da International Football Association Board (IFBA) – entidade responsável pelas regras do jogo – para contar com a tecnologia na Copa do Mundo.

Para os responsáveis da Fifa, o teste foi positivo, já que evitou “erros claros” dos juízes. Porém, a iniciativa não se tornou unanimidade entre jogadores e técnicos, que se dividiram entre críticas e elogios. A maior reclamação foi sobre o tempo perdido por alguns árbitros para tomarem a decisão final.

Reveja alguns lances:

Confira gols da Copa das Confederações que tiveram a análise do árbitro de vídeo

Confira gols da Copa das Confederações que tiveram a análise do árbitro de vídeo

Confira lances da Copa das Confederações que tiveram a análise do árbitro de vídeo

Confira lances da Copa das Confederações que tiveram a análise do árbitro de vídeo

COMUNICAÇÃO

Aprender a falar russo não é das tarefas mais fáceis. Ler e identificar as palavras, sem ter noções básicas do idioma, é uma missão quase impossível. O alfabeto cirílico foi a maior dificuldade dos turistas que visitaram o país na Copa das Confederações. A maioria das sinalizações é na língua local. Em Moscou e São Petersburgo, é mais comum encontrar placas e cardápios em inglês, situação bem diferente em Sochi e Kazan.

Nos estádios, boa parte dos voluntários não dominava o inglês, mas em todas as sedes haviam alguns que falavam até português e espanhol. Vale destacar que até o presidente do COL, Vitaly Mutko, não é fluente em inglês e tem muita dificuldade em se expressar sem ser em russo, o que é motivo de piadas entre os jornalistas estrangeiros.

Cardápio de uma tradicional lanchonete, multinacional, em São Petersburgo: alfabeto diferente dificulta aprendizado das palavras — Foto: Thiago Dias

ESTRELA OFUSCADA

Maior estrela do torneio, Cristiano Ronaldo arrastou multidões aos estádios e aos hotéis por onde Portugal passou. O craque chegou a ser eleito o melhor em campo nas três partidas da primeira fase, fez dois gols e parecia liderar o campeão europeu rumo à final. Mas o camisa 7 não brilhou quando o time mais precisou, passou em branco na semifinal, viu Bravo pegar três pênaltis e ainda foi embora da Rússia mais cedo, sem precisar disputar o terceiro lugar contra o México porque foi liberado pela comissão técnica para visitar os filhos recém-nascidos.

Cristiano Ronaldo deixa a Copa das Confederações após derrota de Portugal para o Chile nos pênaltis, em Kazan — Foto: Grigory Dukor/Reuters

O CAMPEÃO

Ataque mais positivo (12 gols), três artilheiros (Werner, Stindl e Goretzka, com três) e craque do campeonato (Draxler). Com média de idade de apenas 23,9 anos, a seleção alemã deixou a Rússia com a taça e ainda mais candidata ao título da Copa do Mundo de 2018.

– Vidal disse antes da final que o Chile queria conquistar o troféu para se tornar o melhor time do mundo. Então, a Alemanha continua sendo o melhor time do mundo. Venceu a Copa do Mundo e agora a Copa das Confederações. É isso que esse título significa – disse o técnico Joachim Löw.

Seleção alemã levanta a taça no gramado da Arena Zenit: primeiro título do país na Copa das Confederações — Foto: Grigory Dukor/Reuters

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