Era para ser um amistoso comemorativo referente à candidatura ibérica para a Copa do Mundo de 2018, mas o que se viu no Estádio da Luz, em Lisboa, foi um baile de Portugal sobre a atual campeã mundial, nesta quarta-feira. Após excelente primeiro tempo de Cristiano Ronaldo, que só não marcou um golaço por conta de um vacilo de Nani, os lusos colocaram a Espanha na roda e golearam por 4 a 0 com muitos gritos de "olé". Carlos Martins, Hugo Almeida, e Hélder Postiga, duas vezes, definiram o placar.
Foi a segunda derrota pesada da Fúria após a campanha vitoriosa na África do Sul. Em setembro, os espanhois foram a Buenos Aires e voltaram com um 4 a 1 na bagagem diante da Argentina de Tevez, Messi e companhia. Ao menos pelas eliminatórias da Eurocopa de 2012 eles não fazem feio: três vitórias em três jogos pelo Grupo I.
Os portugueses, por sua vez, confirmaram a ascensão desde a eliminação para a própria Espanha nas oitavas de final da última Copa. Sob o comando de Paulo Bento, que substituiu o suspenso e demitido Carlos Queiroz, os lusos somaram sete pontos em quatro partidas pelo Grupo H. A torcida, no entanto, decepcionou. Apesar de o jogo ter começado às 21h no horário local, pouco mais de 20 mil pessoas compareceram, no menor público da temporada no Estádio da Luz.
Cristiano Ronaldo: show em 45 minutos
Momentos depois dos hinos nacionais já era possível constatar que a rivalidade entre os espanhois do Barcelona (Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta e Villa) e os portugueses do Real Madrid (Ricardo Carvalho, Cristiano Ronaldo e Pepe), que voltarão a se enfrentar no próximo dia 29, no Camp Nou, falava mais alto.
a bola com Iniesta, herói na África do Sul (Reuters)
Principalmente por conta de Cristiano Ronaldo. O melhor do mundo em 2008 fez um primeiro tempo daqueles. Mesmo com dores na panturrilha, motivo que o fez ser poupado e substituído no intervalo, o astro merengue brincou de jogar bola diante de 10 titulares da Espanha na finalíssima do Mundial contra a Holanda, no Soccer City, em julho.
Seu primeiro ato veio aos 7 minutos, quando a seleção lusa já havia assustado com Nani, em chute que obrigou Casillas a espalmar e mostrar por que fora o melhor goleiro do ultimo Mundial, com menos de dois minutos. Mas voltemos a falar de CR7: após driblar Busquets, sofreu entrada duríssima do próprio volante do Barça. Não demorou um minuto para revidar.
Embora desse espaço na defesa, a campeã do mundo não fazia má partida e assustou aos 10 e 30, com Iniesta e David Silva - o último perdeu grande chance de cabeça.
Portugal, no entanto, abusava da velocidade dos seus pontas - Ronaldo e Nani - e controlava a partida. Aos 21, Nani descolou bom passe para Postiga, que tentou tocar por cima de Casillas. A bola voltou e saiu pela linha de fundo.
Aos 35, veio o lance que poderia ter sido capital: Cristiano Ronaldo foi lançado na esquerda, deu um lindo corte em Piqué, que passou em branco, e encobriu o arqueiro espanhol. Em impedimento, Nani cabeceou quando a bola já havia ultrapassado toda a linha do gol. Não só tentou “roubar” a obra do companheiro, como também deu motivo para o árbitro Antony Gautier anular o golaço com a ajuda do assistente. Incorretamente, diga-se, o que causou a revolta de CR7. O astro atirou a braçadeira de capitão no chão e falou alguns palavrões em direção a Nani, que se desculpou.
A pressão já era considerável que, no minuto seguinte, Piqué salvou com a cabeça gol certo de Carlos Martins. Aos 44, no entanto, não teve jeito. Cristiano Ronaldo novamente recebeu no lado esquerdo do ataque, deu um elástico inverso em Busquets e soltou a bomba cruzada. Casillas até espalmou, mas Carlos Martins não perdoou no rebote: gol do meio-campista, jogador do Benfica.
Com ‘outros times’, Portugal sobra e goleia
A partida teve sua primeira cara de amistoso quando foram anunciadas seis substituições para o segundo tempo, três em cada lado. A Espanha “perdeu” Xavi, Piqué e Villa, mas podia contar com Fábregas, Marchena e Torres. Possui um elenco que pode cobrir carências em quase todas as posições. Já Paulo Bento tirou Cristiano Ronaldo, poupado com dores na panturrilha. A situação era bem diferente.
Ainda assim, Portugal sobrou na segunda etapa. O segundo gol saiu aos três minutos. Nani ligou João Moutinho na direita. O jogador do Porto avançou e cruzou rasteiro para Hélder Postiga, que pegou de letra. A bola ainda desviou em Sergio Ramos antes de entrar. Golaço.
maestro da Fúria saiu no intervalo (Getty Images)
Nani, que não tinha má atuação, poderia se redimir do lance polêmico aos seis minutos. Ficou cara a cara com Casillas, mas preferiu encobrir. O chute não saiu como ele queria e o goleiro praticamente não pulou para defender.
A Espanha acordou e criou boas chances ao longo da segunda etapa. Chute de Xabi Alonso, voleio de Fábregas, conclusão de Cazorla, cabeçada de Llorente... Todas com perigo, mas para fora.
Portugal fez o inverso. Foi ao ataque para matar o jogo. Aos 23, João Moutinho aproveitou jogada de Danny e deu lindo passe para Postiga. Em condição legal, o atacante tirou do goleiro e fez o terceiro. O quarto saiu somente nos acréscimos. Hugo Almeida aproveitou mau posicionamento da zaga espanhola, invadiu sozinho e concluiu com precisão no canto direito. Goleada que não vale vaga nas quartas de final da Copa, mas que serviu para lavar a alma do portugueses e - por que não? -, ligar algum sinal de alerta para a equipe de Vicente del Bosque.
Portugal: Eduardo (Rui Patrício), João Pereira, Ricardo Carvalho (Pepe), Bruno Alves e Bosingwa; Raúl Meireles, João Moutinho e Carlos Martins (Manuel Fernandes); Nani (Paulo Machado), Helder Postiga (Hugo Almeida) e Cristiano Ronaldo (Danny). Técnico: Paulo Bento.
Espanha: Casillas, Ramos, Puyol (Arbeloa), Piqué (Marchena) e Capdevila; Busquets, Xabi Alonso (Llorente) e Xavi (Fábregas); Silva, Villa (Torres) e Iniesta (Cazorla). Técnico: Vicente del Bosque.