Ronaldo tinha só 17 anos quando foi convocado por Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo de 1994. Ele, porém, não era o atleta mais jovem no torneio dos Estados Unidos. O posto era do zagueiro Rigobert Song, nascido dois meses e 17 dias antes do Fenômeno.
Hoje, aos 46, o camaronês tentará levar um dos times mais jovens do Mundial do Catar às oitavas. A estreia é nesta quinta, às 7h (de Brasília), contra a Suíça.
Presente como atleta nas Copas de 1994, 98, 2002 e 2010 e em oito Copas Africanas das Nações, Song faz sua estreia como técnico. É a primeira vez que um camaronês está à frente do cargo numa Copa.
– Sei que posso ajudar. Digo à nova geração que eles sabem que são profissionais e sabem o que fazer, estou tentando apoiá-los e ajudar como posso como técnico. Tento aconselhar para não cometermos os mesmos erros do passado – disse o ex-zagueiro.
O próprio Song já cometeu erros em Copas do Mundo. Dois deles fizeram o jogador empatar numa estatística com Zinedine Zidane, astro da França que também virou treinador. Os dois são os únicos jogadores da história a serem expulsos em duas edições de Copas do Mundo. Song levou vermelhos em 1994 e 1998. Já Zizou levou um cartão em 1998 e o outro, inesquecível, na final da Copa de 2006, quando acertou uma cabeçada no peito do italiano Materazzi.
Há seis anos, já aposentado, Song viveu um drama pessoal ao sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficar em coma por dois dias num hospital em Yaoundé, na capital de Camarões. Os médicos chegaram a dizer que ele estava "lutando pela vida." Transferido a um hospital francês, ele teve tratamento bancado pelo governo do país e, meses depois, já estava 100% recuperado.
Com as quatro convocações, Song foi primeiro africano a disputar quatro Copas, recorde que foi igualado pelo ex-atacante Samuel Eto'o em 2014. Hoje, aliás, Eto'o é o presidente da Federação de Camarões. Ou seja, o ex-companheiro agora é chefe de Song.
– Joguei quatro Copas do Mundo e agora posso dizer que terei uma como técnico. Você sente as mesmas coisas. A única diferença é que agora não estou em campo e tenho de transmitir as emoções aos meus jogadores. Mas o objetivo é o mesmo e vamos fazer tudo o que pudermos para ter certeza de que tiraremos o melhor deles. Claro que é diferente estar em campo e no banco, mas estou em boa posição para fazê-los dar o melhor. É transmitir meu conhecimento para ajudar. O grupo é muito forte, talvez eu possa deixa-los ainda mais fortes – disse ele, confiante.
Tio de Alex Song, ex-Arsenal e Barcelona, o hoje treinador começou sua carreira como atleta em Camarões, mas chegou ao Metz, da França, aos 18 anos. Passou pela Salernitana, da Itália e, em 1998, tornou-se o primeiro camaronês a atuar pelo Liverpool, da Inglaterra.
A reta final da carreira aconteceu na Turquia, onde defendeu Galatasaray e Trabzonspor, até a aposentadoria em 2010. Na seleção camaronesa, foi campeão da Copa Africana das Nações em 2000 e 2002. É recordista em número de jogos na Seleção, com 137, e cinco gols.