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Por Emilio Botta — São Paulo


O México vive uma espécie de maldição quando o assunto é Copa do Mundo. Nas últimas sete participações, os mexicanos acabaram eliminados na fase oitavas de final. E a perspectiva para o Catar está longe de ser otimista.

A busca pela "quinta partida", em alusão a uma possível classificação às quartas de final, parece distante em meio aos últimos resultados.

Oscilando nos últimos jogos e com rendimento longe de agradar a crítica e os torcedores, o México chega para a Copa pressionado por um bom resultado e também por uma mudança que vai além da seleção nacional. A estreia é nesta terça-feira, às 13h (de Brasília), contra a Polônia, pela primeira rodada do Grupo C, no Estádio 974.

– O México está indo nesse clima de desconfiança e incerteza. Os resultados na reta final não foram bons, não são muito convincentes. Apesar de ter um treinador competente, com um histórico e currículo grandes, visivelmente ainda não encontrou uma linha, uma equipe dê a ele consistência e a segurança que todo treinador busca, mas acho que tem uma belíssima geração, um time forte – disse o técnico brasileiro André Jardine, campeão olímpico com a seleção brasileira em 2021, em Tóquio, e que comanda o San Luis desde o início deste ano.

Seleção do México — Foto: Divulgação/México

Invasão de estrangeiros

O debate no futebol mexicano nos últimos anos tem sido a possibilidade de limitar a utilização de jogadores estrangeiros pelos clubes. Segundo especialistas, o alto número de "gringos" no campeonato local tem impedido a descoberta de novos talentos no país.

Atualmente, a Liga Mexicana libera cada clube para utilizar até dez jogadores estrangeiros. A título de comparação, o Brasil permite apenas a metade. No próximo ano, a tendência é de que o número no México seja limitado a apenas nove em um movimento de diminuição gradual.

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O grande número de estrangeiros, principalmente jogadores argentinos, uruguaios e colombianos, é apontado como principal fator para a crise da seleção mexicana, que vive uma fase de poucas descobertas de talentos.

André Jardine tem feito sucesso no futebol mexicano no comando do San Luis — Foto: Divulgação/Atlético de San Luis

André Jardine concorda que o alto número de estrangeiros tem afetado de certa forma o desenvolvimento da seleção do México.

– É uma liga forte, mas uma liga bem invadida pelos estrangeiros, acho que esse é um dos pontos que enfraquece a seleção mexicana. O número de estrangeiros é bastante grande, que estão em praticamente em todos os clubes. Eles já visam no próximo torneio diminuir uma vaga de estrangeiros, que hoje é de dez e vai passar para nove. Acho que a tendência com o tempo é diminuir ainda mais, porque realmente quem acaba sofrendo com isso é a seleção mexicana, tendo poucos jogadores atuando em grande nível.

– Eles atacam muito o mercado sul-americano, têm apenas alguns brasileiros porque consideram jogadores caros, que já ganham bem no Brasil. É um grande mercado, grande liga, organizada, competitiva. Eu apontaria o principal ponto o volume de estrangeiros muito grande, o que retira um pouco o espaço dos mexicanos. O México não é um grande exportador, muitos titulares não jogam na liga mexicana, mas não como o Brasil que tem um time inteiro jogando a Premier League, por exemplo.

– Minha leitura é essa, mas mesmo assim é um time forte que tem chance de se encontrar nessa reta final, na primeira fase. Se o Tata encontrar uma formação que lhe dê consistência e segurança, o México pode surpreender porque tem bons valores, jogadores e um bom treinador. Pode encontrar um caminho que surpreenda a todos e possa chegar longe na Copa, não descarto – disse Jardine.

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Técnico amado por Messi, não pelos mexicanos

A crise existencial também passa pelo comandante da seleção não ser mexicano. O argentino Tata Martino, conhecido pelos trabalhos no Barcelona e na Argentina, tem sofrido inúmeras críticas por ainda não ter conseguido encontrar uma formação ideal.

A pressão sobre Tata Martino cresceu após o técnico deixar fora da lista final para a Copa dois dos principais jogadores mexicanos dos últimos anos: os atacantes Chicharito Hernández e Carlos Vela. Estrelas no futebol dos EUA, ambos teriam causado problemas extracampo na última convocação antes do Mundial.

Na seleção mexicana desde o início de 2019, Martino convive com críticas locais pelas escolhas feitas. O argentino substituiu o colombiano Juan Carlos Osorio, que comandou o México na Copa de 2018, na Rússia, sendo eliminado nas oitavas de final pelo Brasil.

Gerardo Tata Martino, técnico do México — Foto: Reuters

Antes da contratação de Martino, o brasileiro Tuca Ferretti comandou interinamente o México em seis amistosos, vencendo um e sendo derrotado cinco vezes. Logo na sua chegada, Tata Martino deixou claro que tinha conhecimento da pressão pelo fato de a seleção não conseguir avançar das oitavas de final na Copa do Mundo.

– Sei qual é a inquietude de vocês e do povo a respeito de onde deveriam chegar, mas não quero deixar de mencionar, porque passei por outros lugares, e de valorizar o fato de jogar sistematicamente as oitavas de final. Às vezes, os resultados se dão por obra da casualidade, mas o que queremos é uma equipe com uma ideia de jogo que esteja a vista de todos. E se conseguirmos isso, o objetivo estará mais próximo – disse o argentino na chegada ao México.

Atuando no Pumas, um dos mais tradicionais clubes do futebol mexicano, desde 2021, o meio-campista brasileiro Higor Meritão vê uma pressão muito forte sobre o técnico e os jogadores.

– A nossa percepção aqui no México é a mesma [muita pressão sobre a seleção]. O técnico vem sofrendo muitas críticas da imprensa e da torcida. Tanto o treinador quanto os jogadores chegam à Copa do Mundo muito pressionados – disse o jogador brasileiro.

Higor Meritão em ação pelo Pumas, do México — Foto: Divulgação/UNAM

Ausência de craques

O México é carente de um grande craque e de uma geração que volte a empolgar e despertar entusiasmo nos torcedores. Nas últimas sete edições da Copa do Mundo, a seleção passou por diversas fases e teve grandes jogadores em campanhas que foram consideradas abaixo do que se esperava pela qualidade dos respectivos elencos.

Nomes como Jorge Campos, Rafa Márquez, Blanco, Borgetti, Pável Pardo, Claudio Suárez, Luis Hernández e até Hugo Sánchez passaram e não conseguiram trazer ao país grandes conquistas ou uma campanha além das oitavas de final no Mundial.

Apesar disso, o México foi campeão olímpico em 2012, bronze em 2020, além de um título da Copa das Confederações (1999) e diversas conquistas da Copa Ouro Concacaf e Jogos Pan-Americanos.

Rafa Márquez disputou e foi titular do México em cinco Copas — Foto: Reuters

Atualmente, a seleção mexicana se divide entre veteranos e jogadores com larga experiência como pilares. Não há um jogador jovem considerado promissor neste momento e que seja colocado como esperança para o futuro do México pensando, por exemplo, na Copa do Mundo de 2026.

– Eu, particularmente, acredito que a seleção mexicana passe para as oitavas de final. A partir daí, fica mais complicado fazer alguma previsão. O futebol mexicano é extremamente intenso. Os jogadores batalham muito durante os 90 minutos de todas as partidas. São verdadeiros guerreiros em campo. E é isso o que eu espero da seleção mexicana no Mundial. O jogador mais renomado dessa seleção é o goleiro Ochoa, que sempre brilha nas Copas do Mundo.

– O México também conta com outros jogadores qualificados, como Hirving Lozano e Alexis Vega. Mas eu também sinto a falta de um grande craque para desequilibrar as partidas e comandar a equipe. A torcida ficou decepcionada com a ausência do Chicharito Hernández, que fez uma ótima temporada na MLS – analisa Meritão.

O goleiro Ochoa e o meia Andrés Guardado, com 37 e 36 anos, respectivamente, devem disputar a última Copa do Mundo. Raúl Jiménez, Funes Mori (argentino naturalizado mexicano) e Lozano, chegariam ao próximo Mundial precisando de novas peças para um elenco envelhecido. Por isso, a transformação no futebol mexicano deve ser intensa para o próximo ciclo.

– Estamos felizes por termos passado todo esse tempo e por todos esses obstáculos para poder estar em um Mundial. Tivemos eliminatórias complicadas, mas na reta final a equipe esteve bastante bem. Nos classificamos bem, temos que estar tranquilos porque é um momento para desfrutar. Acho que temos que fazer a nossa parte dentro de campo para fazer o que temos feito, que amamos muito a ideia do futebol e as pessoas têm que fazer isso nas arquibancadas ou na casa onde eles estão. Eu acho que é o momento de todos irem em uma só direção e buscar a alegria para todos – disse Ochoa, que aos 37 anos disputará a sua quinta Copa pela seleção mexicana.

As últimas sete participações do México na Copa do Mundo:

  • 1994: eliminado pela Bulgária nas oitavas
  • 1998: eliminado pela Alemanha nas oitavas
  • 2002: eliminado pelos Estados Unidos nas oitavas
  • 2006: eliminado pela Argentina nas oitavas
  • 2010: eliminado pela Argentina nas oitavas
  • 2014: eliminado pela Holanda nas oitavas
  • 2018: eliminado pelo Brasil nas oitavas

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