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Schlittler tenta retomar judô e sonha com futuro no mercado financeiro

Prata no Rio 2007 e bronze no Mundial do mesmo ano, judoca brasileiro vai se formar em economia no fim do ano, quando pretende voltar aos torneios

Por São Paulo

Por um tempo, os quimonos ficaram guardados no armário. Na mochila, deram espaço a livros e a outros materiais de estudo. Ao ficar afastado dos tatames por uma série de lesões e até por uma suspensão por doping (da qual foi absolvido mais tarde), João Gabriel Schlittler resolveu virar seu foco para a vida acadêmica. Entre idas e vindas na faculdade, viu que, enfim, era hora de terminar seu curso em economia. Mas, prestes a se formar, o judoca, prata no Pan do Rio e bronze no Mundial de 2007, também na cidade carioca, decidiu que era hora de voltar. Enquanto se prepara para apresentar sua monografia no fim do ano, passou a treinar com a seleção brasileira de pesados, na expectativa de retomar de vez a carreira.

Com a participação nos Jogos de Pequim no currículo, Schlittler, de 28 anos, não tem pressa. Tenta recuperar o ritmo de treino aos poucos, sem forçar a barra. Sem condições de brigar por uma vaga no Mundial do Rio, em agosto, planeja o retorno às competições apenas no fim do ano. Até lá, vai dividir seu tempo entre os livros e os tatames.

João Gabriel Schlittler judô (Foto: João Gabriel Rodrigues)João Gabriel Schlittler  tenta retomar carreira depois de se dedicar aos estudos (João Gabriel Rodrigues)

- Eu estou na reta final. Faltam só a monografia e algumas provas, já estou mais tranquilo. A parte ruim, que é aquele início, aquele meio, já passou. Tive de trancar muitas vezes por causa das competições, então voltava um pouco fora dos eixos. Era difícil. Tudo isso de certa forma me resolveu em questões que incomodavam. Porque eu realmente dou valor aos estudos, tenho um incentivo familiar muito forte. Sempre achei que, depois do judô, eu tinha de ter uma profissão. Com isso, tinha essa preocupação. Esse tempo que fiquei separado do judô foi suficiente para focar nisso – disse Schlittler, que ficou sem clube depois de o Flamengo desfazer sua equipe de judô.

O judoca tem dois irmãos que já trabalham na área. Quando deixar o judô, pensa em focar sua carreira no setor de macroeconomia ou investir no mercado financeiro. O mundo das bolsas de valores atrai todo economista, diz Schlittler.

- É uma área mais específica. Todo economista, independentemente da área que trabalhe, acaba trabalhando na área de finanças. Nem que seja para lidar com investimentos próprios. Todo economista é um pouco ambicioso. Então, aproveito o conhecimento que tenho para ter um lucro um pouco maior (risos). Tenho utilizado um pouco (risos). Mas vou acabar a faculdade, talvez faça uma especialização depois que dê para conciliar com o esporte. E, então, tomo decisões melhores.

João Gabriel Schlittler judô (Foto: João Gabriel Rodrigues)Schlittler treina com Hugo Pessanha e Baby
em São Paulo (Foto: João Gabriel Rodrigues)

Quando se viu com uma rotina mais livre, Schlittler procurou Ney Wilson, coordenador da Confederação Brasileira de Judô. Mesmo afastado dos tatames, sempre manteve seu treinamento físico. Perguntou, então, sobre a possibilidade de voltar aos treinamentos com a seleção. Durante uma semana, foi convidado a participar das atividades em São Paulo, antes do embarque para o GP de Miami, neste fim de semana. Ao entrar no ginásio do Ibirapuera, o judoca diz ter causado surpresa a antigos companheiros.

- Acho que foi até inesperado para alguns. Porque me afastei um pouco por causa da faculdade, mas mantive sempre o treino físico. Eu saí um pouco desse meio. O preparador físico da seleção também é meu preparador pessoal. Então, sempre mantinha a confederação avisada sobre como eu estava, mas os atletas não recebiam essas informações. Quando eu voltei, disseram: “Você voltou, andou sumido”. Teve uma surpresa geral. Não tinha avisado ninguém.

Schlittler tenta voltar justamente no melhor momento da categoria acima de 100kg. Depois do bronze de Rafael Silva, o Baby, nos Jogos de Londres, o Brasil tem três judocas entre os dez melhores do mundo no ranking da Federação Internacional de Judô – além do medalhista olímpico, segundo da lista, o país tem David Moura, sexto, e Walter Santos, sétimo. Apesar da concorrência, o judoca elogia a fase atual.

- O pesado evoluiu bastante no mundo. Os atletas dessa categoria têm feito trabalhos diferentes. Não dá para ser um trabalho igual aos mais leves.  E o Brasil vem com uma safra muito boa de atletas, que nunca teve nessa categoria.