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COB vê Brasil no rumo certo para o
top 10 e considera 2015 ano-chave

Depois do melhor ano pós-olímpico, entidade vê trabalho caminhando bem para atingir ao menos 27 medalhas; próxima temporada dará visão ampla do cenário internacional

Por Rio de Janeiro

Header 2 anos para Rio 2016 (Foto: Infoesporte)



Os passos dados até a metade da "ponte" foram considerados satisfatórios. Uns mais firmes, outros mais surpreendentes, alguns mais curtos. Mas os 27 pódios conquistados em mundiais e copas do mundo no primeiro ano do ciclo olímpico e o posicionamento no ranking de algumas esperanças de pódio do país em 2016, na atual temporada, fazem o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) acreditar que o trabalho está na direção certa. No mesmo período, em 2009, foram apenas nove. A dois anos da Cerimônia de Abertura das Olimpíadas do Rio, o objetivo de dar um salto agressivo na classificação geral, deixando o 15° lugar para figurar no top 10, segue intacto. O número mágico parte de 27 medalhas, 10 a mais do que a melhor campanha da história - sem contar o total de ouros -, em Londres 2012. O que pelo estudo representaria a necessidade de ter medalhistas em até 15 modalidades.

Mosaico Olimpíadas faltam 2 anos (Foto: Arte / Globoesporte.com)1) Arthur Zanetti* - ginástica artística 2) Jaqueline - vôlei 3) Cesar Cielo** - natação 4) Fabiana Beltrame - remo
5) Juliana - vôlei de praia 6) Róbson Conceição - boxe 7) Marina, Cecília e Manuela Canetti - polo aquático 8) Mauro Vinicius (Duda) - salto em distânci9) Ana Marcela Cunha - maratona aquática 10) Tiago Splitter - basquete 11) Lucão - vôlei 12) Rafaella Silva - judô13) Alexandra - handebol 14) Fabiana Murer - salto com vara (Foto: Arte / Globoesporte.com)




Para isso, a entidade desenvolveu um software exclusivo que possibilita o monitoramento de cada atleta, o estabelecimento de metas, cruzamento e avaliação de resultados e atendimento às principais necessidades para uma melhor preparação técnica, física e mental. Também a cada três meses, os resultados das modalidades são avaliados.  

- Tem sempre altos e baixos. Isso aqui é um documento vivo. Tem gente que entra, tem gente que desce. Tiveram entradas e saídas nesse período, sim. Mas isso faz parte do dia a dia do nosso negócio. A meta motiva o atleta, é uma provocação sadia. É ousada, mas nossa vida é de desafios. Essa é uma oportunidade importante para desenvolver o esporte brasileiro. Hoje, nós temos os recursos financeiros necessários (US$ 600 milhões para o quadriênio) e estamos trabalhando para que as surpresas sejam maiores - disse o superintendente executivo de esportes do COB, Marcus Vinícius Freire.

montagem telas Rio 2016 projeto (Foto: Thiago Lavinas)Quatro telas do software desenvolvido pelo COB para acompanhar os atletas brasileiros até as Olimpíadas de 2016


A canoagem mostra potencial para ser uma delas. Principalmente com o grupo de canoa, formado por Isaquias Queiroz, Nivalter Santos, Erlon de Oliveira e Ronilson Matias. De acordo com Jorge Bichara, gerente geral de performance esportiva, o técnico espanhol Jesus Morlán, dono de cinco medalhas olímpicas, vem desenvolvendo um trabalho muito sério desde a sua chegada, no ano passado. Após sua contratação, Isaquias vem evoluindo rapidamente e colocando títulos no currículo. Em 2013, foi campeão mundial no C1 500m (modalidade não olímpica) e bronze C1 1.000m; venceu a disputa do C1 500m e foi vice no C1 5.000 na Copa do Mundo. Na atual temporada, na mesma competição, ganhou um ouro C1 500m, uma prata no C1 1000m e um bronze no C1 5.000m.

Se a canoagem aparece entre as modalidades apontadas como "contribuintes" no plano estratégico do COB, vôlei, vôlei de praia, natação, judô, vela e futebol são as integrantes do grupo de "vitais". É sobre ele que se debruçam as maiores expectativas e a necessidade de aumentar o número de pódios para tornar mais tranquilo o caminho até o top 10. Nas quadras, os times de Bernardinho e José Roberto Guimarães são esperanças de medalhas douradas, mesmo que estejam passando por um processo de renovação, que tenham perdido algumas de suas referências. A última delas foi a líbero Fabi, que em junho pôs fim à sua trajetória vestindo a camisa verde-amarela. No vôlei de praia, houve mudança no sistema de seleções e também de parcerias, mas Marcus Vinícius Freire aposta no potencial dos atletas e no bom histórico para ter o Brasil mais uma  vez representado no pódio.  

Info Evolução das medalhas do Brasil nas Olimpíadas (Foto: Infoesporte)



No gramado, a expectativa é que um tabu seja quebrado. Que o único título que o futebol brasileiro não tem seja conquistado diante de sua exigente torcida. O COB conta com as duas. 

- O Gallo já vinha conversando com a gente há um tempo. Estamos retomando as discussões de planejamento para os próximos anos. Ficamos felizes com a importância que a CBF está dando para os Jogos Olímpicos. Estamos bem satisfeitos - afirmou Bichara.

De acordo com o dirigente, o ano-chave, capaz de dar um bom retrato do cenário internacional e do que poderá ser a campanha brasileira, será 2015. O Brasil trabalha para repetir a teoria da vantagem em casa. Na história olímpica, os países-sede deram um salto de qualidade no quadro de medalhas devido ao investimento na preparação. Nas duas edições anteriores, China e Grã-Bretanha brilharam. Os chineses passaram de um total de 63 pódios (32 ouros) para 100 (51), em 2008. Já os britânicos saíram de 47 (19 ouros) para 65 (29).

- Cada ano tem uma característica e uma dificuldade. O pós-olímpico é de transição, surgimento de novos atletas e o descanso de alguns. É um ano que permite fazer experiências. Este segundo vai ser importante para a avaliação dos esportes coletivos (Mundiais de vôlei e basquete). Os dois últimos serão de aperfeiçoar, vão permitir que tenhamos a certeza de que temos condições reais de alcançar a meta estabelecida. E, nas modalidades que fazemos um investimento estratégico, ver se consolidarem no cenário internacional. Na ginástica artística feminina, por exemplo, vai ser a hora de fazer as jovens entrarem nesse cenário. Também temos algumas surpresas que estamos preparando para apresentar só em 2016. Todos os países têm isso. Faz parte do jogo esconder algo. Estabelecemos parceiros e temos cuidado do nível de informação que transita. 

Nem COB nem Confederações revelam a estimativa de medalhas por modalidade. Esses detalhes do plano correm internamente. Mas como exercício, tomando por base os resultados nas principais competições até esta primeira metade do ciclo, hoje seria possível distribuir em 15 das 41 modalidades as 27 medalhas estimadas pelo comitê. Veja no quadro:

Info Onde Brasil espera conquistar 27 medalhas (Foto: Infoesporte)







Além de conquistar mais pódios nas modalidades "vitais" e identificar e apoiar atletas nas "contribuintes", também está havendo um reforço de ações para o sucesso das ditas "potenciais" (como o boxe e a ginástica). Assim como o investimento para desenvolver aquelas que entram no grupo de "legado" (hóquei sobre grama, rúgbi, badminton e esgrima), visando aos Jogos de 2020 e 2024.

- Nós não tivemos 12 anos deste financiamento, mas esperamos que continue nesse patamar para que possamos tornar e manter o Brasil como uma potência olímpica - disse Marcus Vinícius Freire.

Info Esportes com mais medalhas na história (Foto: Infoesporte)


Confira abaixo o balanço e as projeções para os próximos dois anos feitos por representantes da ginástica artística, natação, maratonas aquáticas, judô e atletismo.

01

ginástica artística

Arthur Zanetti vence nas argolas do Brasileiro de ginástica artística (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)Arthur Zanetti é esperança de ouro (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

Campeão olímpico das argolas em Londres 2012, Arthur Zanetti se manteve no topo no ano pós-olímpico. Depois de reclamar da falta de apoio à modalidade e de declarar que poderia competir por outro país, o ginasta teve seus pedidos atendidos. Resolvido o problema, ganhou tudo o que se propôs a disputar, incluindo o Mundial da Antuérpia. Na metade do ciclo, ele diz que a preparação vai bem, obrigado. Manteve a equipe multidisciplinar e busca agora um estudo de melhora da performance de treino.  

- O Mundial da China é o grande objetivo nesta temporada. Devo modificar a série. Sei que agora sou o foco, todos querem ganhar de mim e eu não quero deixar (risos). Para 2016, sei que os olhos vão estar voltados para mim por ser uma esperança de ouro. Estou fazendo meu treino forte, não estou me cobrando. Nosso dever já fizemos em Londres. Queria ser campeão e consegui. Agora tudo vai ser lucro para mim. Não fico criando expectativas. Acho que nos Jogos do Rio, outros ginastas da seleção masculina vão dar resultado. Em várias competições estamos pegando final, outros estão conseguindo ser medalhistas em etapas da Copa do Mundo. A equipe tem bastante potencial. Até agora tudo está dando certo, todos os meus pedidos estão sendo atendidos. Para os próximos dois anos, gostaria de ter mais competições por equipe e uma etapa da Copa no Brasil. Seria de grande importância - disse. 

O centro de treinamento da seleção - que era uma de suas reivindicações desde o fechamento do Velódromo do Rio - já tem nova sede definida. A previsão do COB é que as obras de adequação da área de aquecimento da Arena da Barra estejam prontas em dezembro. No mesmo mês, as portas estarão abertas. Para a felicidade de Alexander Alexandrov. Desde a sua contratação, o renomado treinador russo cobrava pelo local. À frente da equipe feminina, ele trabalha para colocar mais medalhas olímpicas no currículo, que já conta com 15. A aposta da CBG é Rebeca Andrade. 

02

natação e maratonas aquáticas

Ana Marcela Cunha, maratona aquática (Foto: Satiro Sodré/CBDA)Ana Marcela Cunha é líder do ranking na maratona aquática e está na briga por medalha em 2016 (Foto: Satiro Sodré/CBDA)

Trocas. De endereço, de técnico, na preparação. O período tem sido de ajustes para os principais nomes das piscinas. Cesar Cielo trocou o comando de Alberto Silva pelo do americano Scott Goodrich. Foi ao Mundial de Barcelona, faturou o inédito tricampeonato nos 50m livre no primeiro teste depois das cirurgias feitas nos joelhos. Elegeu 2014 como o ano de "menos pressão e de ajustes" e voltou a trocar de treinador. Passou a ser orientado pelo australiano Scott Volkers e mudou-se para Belo Horizonte. Até o momento, é dono da melhor marca do mundo na temporada nos 50m livre - 21s39. Seguido de perto por Bruno Fratus, que tomou o caminho de Auburn (EUA) para treinar sob a batuta de Brett Hawke.

Já Thiago Pereira resolveu mudar a parte técnica. O medalhista olímpico, que encerrará a parceria com o treinador Alberto Silva após o Pan-Pacífico, apostou num treinamento funcional, semelhante ao que Ryan Lochte utiliza em sua preparação. Queria arriscar enquanto há tempo para isso.

- Esse grupo chega bem maduro para essas Olimpíadas. O ano de 2014 para Thiago e Cielo é de reciclada no trabalho e a partir daí não há tempo para nada, não há tempo para erro. A medalha não tem uma fórmula, não tem uma receita. São muitas variáveis. No ano que vem, vamos ter uma situação mais clara de como estão os adversários no mundo para poder fechar o trabalho. Não quero falar sobre o número de medalhas que esperamos ganhar. Falar nisso antes de vencer tudo é temeridade e acho até pouco saudável. Estamos todos concentrados no que temos que fazer, e a responsabilidade aumenta a cada dia. Expectativa não joga, não nada e ganha medalha. Após o Pan-Pacífico, vamos sentar e programar dia a dia até 2016. Vamos ter ideia do que realmente a gente precisa e o que pode ser ajustado. Não vai acontecer milagre - afirmou Ricardo de Moura, supervisor técnico da CBDA.

Matheus Santana aparece como uma boa esperança. Recordista mundial júnior, o velocista de 18 anos faz a entidade imaginar a possibilidade de ver o 4x100m livre brigando por um lugar no pódio.

- Vamos esperar que não caia sobre ele uma expectativa exagerada. Vamos ver como ele se sai nos Jogos Olímpicos da Juventude. Por enquanto, as coisas estão sendo feitas conforme o previsto. 

Nas maratonas aquáticas também. As cinco medalhas conquistadas no Mundial de Barcelona, três delas por Poliana Okimoto, e a atual liderança do ranking alcançada por Ana Marcela Cunha apontam para uma condição de favoritismo em 2016.

 - Por tudo o que tem feito, nada mais justo do que estar entre os destaques. Acredito que a maratona voltará a fazer grande. É uma esperança. Está demonstrando um bom caminho. 

03

judô 


judô rafaela Silva mundial Paris (Foto: G.Sabau / IJF)Rafaela Silva, ouro no último Mundial
(Foto: G.Sabau / IJF)

Após o melhor resultado de sua história em Mundiais (faturou sete medalhas), o objetivo do judô para a outra metade do ciclo é colocar o maior número de atletas na zona de ranqueamento olímpico. Ficar como cabeça de chave no sorteio e ter a vantagem de enfrentar adversários mais fracos na primeira rodada dos Jogos é a vantagem que a CBJ quer ter. 

- Hoje estamos muito bem. Mas queremos colocar todas as categorias bem ranqueadas. Falar em quantidade de medalhas é muito cedo porque existe a possibilidade de aparecer alguém que não se imaginava. A Ketleyn Quadros foi lá em Pequim 2008 e foi medalhista. Felipe Kitadai e Baby (Rafael Silva) a mesma coisa em Londres. Queremos melhorar as quatro medalhas (uma de ouro) de 2012 - disse Ney Wilson, gestor técnico de alto rendimento da CBJ.

De acordo com o dirigente, a maior fragilidade no momento diz respeito a dois pesos femininos: 63kg e 70kg. 

- Não é nada que não possa melhorar. Mas preocupa, e a lupa está em cima delas. Estamos trabalhando no  processo acelerado de renovação, para ver jovens chegarem mais rapidamente. As que já compõem estamos fazendo um trabalhando diferenciado. 

Ney Wilson não acredita que a pressão de competir em casa possa atrapalhar o desempenho dos judocas brasileiros.

- Já fazemos um trabalho psicológico há bastante tempo. E nós sempre estamos sob pressão o tempo inteiro. Em Londres fomos visados por resultado. Nós estamos acostumados a competir em casa. Durante os Jogos não vamos ficar na Vila. Nosso local de treino vai ser isolado de toda a delegação. Estamos fazendo um trabalho detalhado neste ciclo. Temos agora uma comissão fixa, remunerada, que pode dar maior disponibilidade para atender nossos atletas de maneira individualizada.

A seleção passou a contar também com a experiência da técnica japonesa Yuko Fujii, que treinou a equipe britânica nas Olimpíadas de 2012. 

04

atletismo

duda atletismo mundial polonia (Foto: Getty Images)Duda, bicampeão mundial indoor de salto em distância
(Foto: Getty Images)

Pela primeira vez desde as Olimpíadas de Barcelona 1992, o atletismo voltou sem medalha de uma edição dos Jogos. Foi assim em Londres 2012. Para tentar corrigir o rumo e voltar a contribuir com o quadro de medalhas, a nova diretoria da CBAt  trabalha de olho nos atletas de saltos (vara, triplo e distância), revezamentos, decatlo, arremesso de peso e lançamento de dardo. Após um 2013 sem os resultados esperados e medalhas no Mundial da Rússia, o Brasil voltou a se destacar no cenário internacional. Este ano, Mauro Vinícius Silva, o Duda, foi bicampeão mundial indoor do salto em distância. Fabiana Murer lidera o ranking mundial do salto com vara com a melhor marca da temporada.

- Infelizmente não se corrige uma questão de ganhar medalhas em um ciclo. Muito pouco muda, mesmo com investimentos financeiros. É pouco tempo para se preparar um novo atleta. Precisaríamos de dois ciclos olímpicos para mudar esse panorama. Neste sentido, estamos trabalhando na estruturação do projeto de base do Brasil visando 2020. O que está sendo feito para 2016 é dar todo o apoio aos atletas que temos no momento, para que possam desenvolver ao máximo seus potenciais e venham se tornar competitivos, inclusive para o quadro de medalhas. Mas isso é um plano especial que pode dar certo ou não, pois os atletas são praticamente os mesmos que estiveram em Londres. Alguns resultados já chamam a atenção: estamos com os quatro revezamentos classificados para o Mundial da China, em 2015. Ainda contamos com alguns atletas entre os 10 do mundo este ano, como é o caso da Fabiana e do Duda - afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento.

Para potencializar as chances, o COB em parceria com a CBAt, contratou o americano Michael Johnson. O bicampeão olímpico dos 400m trabalha com o 4x400m masculino. As velocistas também tomaram o rumo dos Estados Unidos. A preparação vem sendo feita em Miami, sob a supervisão de Amy Deem.

Entre as ações visando um melhor desempenho, foi montada uma equipe multidisciplinar para auxiliar atletas e treinadores.

- A equipe é composta de médicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, massoterapeutas, fisiologistas. Estamos dando total atenção a essas particularidades e em especial à questão psicológica.

* Foto de Ricardo Bufolin
** Foto de Orlando Bento (Minas T.C)