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Isabel Swan, a velejadora de cinema

Dona de um bronze olímpico, atleta-cineasta divide seu tempo entre a campanha para Londres e os registros de imagens para seu documentário

Por Rio de Janeiro

 A conversa com o espelho tomava horas de seus dias. Naquele fim de 2009, Isabel Swan se preparava para uma cena que pretende ver na tela do cinema daqui a cinco anos. Não, não interpretaria a personagem que pergunta se há no mundo alguém mais bela do que ela. Treinava sim, para emprestar um pouco da emoção brasileira à apresentação que tentava convencer os membros do COI a escolher o Rio como sede das Olimpíadas. Cumpriu bem seu papel. Enquanto esteve em cima daquele palco e nos bastidores, uma câmera acompanhava atentamente seus gestos e palavras. As imagens estavam sendo captadas para o documentário "Sailing to the Olympics", que vem produzindo em parceria com uma amiga francesa. A velejadora é a personagem principal, mas quer voltar seu olhar de cineasta para histórias paralelas.

Isabel conseguiu se formar em Cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF) depois de conquistar, ao lado de Fernanda Oliveira, o bronze nos Jogos de Pequim-2008. Em um dado momento da campanha olímpica, o curso teve de ficar em segundo plano. Precisou se mudar para o Rio Grande de Sul para treinar, mas levou na bagagem uma câmera. Começou a fazer curta-metragens, não se cansava de registrar suas velejadas e viagens. Algumas delas deram origem ao "Com Rumo", 24 minutos para recordar parte da trajetória dela e da equipe verde-amarela até o evento chinês. Acompanhe um trecho no vídeo acima.

- Sempre gostei muito de cinema porque se pode criar o que quiser. A linguagem é vasta e é bom trabalhar este lado também. A vida sem arte é sem graça. Agora estou fazendo um documentário, juntamente com Corinne Damas, antropóloga e também formada em Cinema, e que deve ser lançado até 2016. Ela grava imagens minhas, e eu outras, em competições. Já foi até a raia dos Jogos de Londres-2012 e a Copenhagen, na escolha da sede. O documentário é um pouco sobre a vida do atleta olímpico. A campanha de Pequim será a coluna vertebral, mas quero outras referências, contar outras histórias de projetos sociais, de atletas que não têm dinheiro para comprar um tênis. Isso é o Brasil - disse.
 

Vela Isabel Swan e Martine Grael  (Foto: Divulgação / ZDL)Isabel e Martine sonham com uma medalha nos Jogos de Londres (Foto: Divulgação / ZDL)

Quando está sentada numa poltrona, como simples espectadora, Isabel prefere ver, na telona ou na telinha da TV, situações que funcionem como o retrato do país. Nessa categoria, "Deus e o diabo na terra do sol", de Glauber Rocha, tem um lugar especial na lista. É fã também da linguagem de José Padilha, de "Tropa de Elite".

- Por mais que exista a crítica à estética da favela é bom de ver. Tem realidade demais. Não tenho preferência por um gênero. Gosto é de filme bem feito, seja ele drama ou ação. O mais recente de que gostei foi "Cisne Negro". "E.T." também é uma referência forte que tenho.
 

Nunca recebi convite para atuar. Não sei se aceitaria. Talvez sim... Mas não dá para abraçar o mundo."
Isabel

Tão forte quanto a vontade de ainda seguir no esporte por mais duas Olimpíadas. A campanha para 2012 tem Martine Grael, filha de Torben Grael, no mesmo barco. Conta com um técnico americano e com o patrocínio de empresas, que resolveram apoiar a empreitada após conversas com Isabel durante a estada em Copenhagen. A concorrência interna é boa, mas a dupla está confiante. Antes de lutar pela vaga em Londres, as parceiras pensam no alto do pódio nos Jogos Mundiais Militares, marcados para julho, no Rio.  A partir de agora, os estudos voltarão, aos poucos, a ser colocados de lado.

- Estou fazendo MBA em Gestão de Projetos. É uma área abrangente e pode ser usada inclusive para cinema. Tudo está sendo bem planejado. Para estudar tem que ter muito esforço, só que  quero muito ter um plano B. Não posso fazer o curso de forma normal, mas em 4 anos, porque viajo muito no primeiro semestre. Treino pela manhã e me esforço para ir às aulas à noite. Pretendo seguir no cinema. É um meio maravilhoso de comunicação e atinge muita gente. Adoro fotografia, mas direção é uma área que também me atrai bastante. Tarantino e Almodóvar são meus preferidos. Nunca recebi convite para atuar. Não sei se aceitaria. Talvez sim... Mas não dá para abraçar o mundo. É uma coisa ou outra, pois o objetivo é velejar até Rio-2016.

Depois disso, Isabel Swan - que por duas letras não tem o mesmo nome da personagem da saga 'Crepúsculo' -, deseja escrever um novo capítulo em sua história. Estará com 32 anos, idade escolhida para deixar de ser filha e virar mãe.