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Por Rodrigo Saviani — Londrina


Aos 40 anos, Sassá segue firme em quadra e vai para mais um desafio na vitoriosa carreira. Campeã olímpica com a seleção em Pequim-2008, ela é o principal nome do Londrina Vôlei, que inicia nesta quarta-feira a disputa na Superliga Feminina C.

Em entrevista ao ge, Sassá relembrou o ouro olímpico, falou sobre a trajetória construída no voleibol e comentou também sobre o momento da carreira. Ela destaca que o corpo já começa a dar sinais de cansaço, mas a motivação para seguir em quadra é maior ainda.

– A gente até pensa (em parar). Quando o joelho começa a doer, o ombro começa a dar uma chorada na quadra, a gente pensa. A gente sabe que carreira de atleta de alto rendimento é muito curta. E o voleibol, pelo tanto de impacto que tem, principalmente na região do joelho, a gente sente bastante isso, depois dos 35, no meu caso já 40. Mais por isso que penso na questão de parar a carreira. Pela cabeça, eu não pararia de jogar tão cedo – disse a ponteira.

Sassá vai jogar a Superliga C pelo Londrina

Sassá vai jogar a Superliga C pelo Londrina

Agora em Londrina, Sassá encara um projeto parecido com o de anos anteriores, quando esteve no Brusque e no Itajaí. A ideia dela é ajudar na formação de atletas mais novas e devolver ao esporte um pouco do tanto que conquistou.

É uma forma de retribuição de tudo que o vôlei me proporcionou ao longo da minha vida
— Sassá, campeã olímpica e agora no Londrina

– E também uma palavra que sempre carrego comigo que é ressignificar. Estar aqui hoje, fazendo o que mais amo, com saúde, tendo a oportunidade de transmitir um pouco da minha experiência para essas atletas mais novas, é o que me motiva. Eu agradeço muito por ter essa oportunidade – completou.

Sassá com o ouro olímpico de Pequim-2008 — Foto: Rodrigo Saviani/ge

A carreira e o ouro em Pequim

Wélissa de Souza Gonzaga, a Sassá, é mineira de Barbacena. São 25 anos no vôlei e uma lista extensa de títulos: ouro nos Jogos Mundiais Militares em 2019, realizados na China; cincos medalhas de ouro em Grand Prix, duas pratas em Campeonatos Mundiais e uma prata nos Jogos Pan-Americanos.

Essas são apenas algumas das conquistas mais expressivas da jogadora de 1,79 m de altura, que atua como ponteira e foi também líbero. O ápice dessa história, claro, foi em 2008, com a conquista da medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008.

– É a realização de um sonho. É o ponto mais alto para o atleta. Naqueles dias ali, a gente vive intensamente em busca dessa medalha, que é nosso sonho de consumo – afirmou.

– Na verdade, tem muita história envolvida, desde que eu comecei a jogar lá em Barbacena, com apoio dos meus pais, dos meus familiares, dos meus amigos. Na maioria das vezes sempre tive muita ajuda para correr em busca desse meu sonho que era chegar a uma seleção brasileira, disputar uma Olimpíada. Eu devo tudo isso muito a essas pessoas que me apoiaram desde o começo da carreira – contou.

A medalha é guardada com muito carinho. Tanto que é a primeira vez que Sassá a tirou de casa, em Minas Gerais, e carregou com ela para Londrina. E aquele ouro traz muitas recordações:

– Ali passa um filme. Todos os momentos de alegria, os não tão felizes. Principalmente com a seleção brasileira, que a gente teve um campeonato mundial que a gente bateu na trave e foi muito sofrido. Acabamos sendo muito rotuladas, que sempre chega e não consegue a medalha de ouro. Em 2008 foi a consagração de tudo que a gente viveu, do ciclo olímpico tão difícil, foi a coroação nessa vitória na Olimpíada de 2008.

Sassá relembrou também que a importância da medalha conquistada só veio quando chegou ao Brasil. Ali teve que percorrer em carro do Corpo de Bombeiros pela Avenida Paulista, em São Paulo, e depois na cidade natal, Barbacena.

– Muita gente falava do quanto você se torna exemplo, do quanto você é olhado e admirado. É algo que a gente não tinha noção até pisar no Brasil com a medalha, já com o título. Tanto na recepção da Paulista, com carro de bombeiros. Na minha cidade em Barbacena também teve o desfile de carro de bombeiros. Ali que cai a ficha do quanto foi expressiva essa conquista e do quanto mobilizou tanta gente.

Sassá com a seleção brasileira: várias conquistas — Foto: Divulgação/Praia Clube

Referência para as mais novas

Agora no Londrina, Sassá vive o outro lado de uma experiência que ela viveu no começo da carreira. Em 2000, a então promessa do vôlei fazia parte de um estrelado elenco do Vasco, que tinha Márcia Fú, Fernanda Venturini, Ida e outros nomes da seleção.

Após 22 anos, Sassá é a referência para outras jogadoras, que não escondem a satisfação de estar ao lado de uma campeã olímpica em quadra.

– Às vezes eu paro e penso: cara, ela é campeã olímpica. Tudo que ela viveu, tudo que ela passou, tudo que ela teve que superar para chegar até aqui e ainda estar com esse gás, com essa vontade, com esse amor e paixão pelo vôlei, é lindo de ver – disse Flávia Gimenes, central do Londrina.

– É uma coisa que a gente não tem muita noção. Às vezes eu olho para a quadra e falo: caramba, é a Sassá, estou jogando com a Sassá. É uma campeã olímpica. É meio inacreditável, na hora a ficha meio que não cai. Até agora acho que não caiu – contou.

Sassá admite que ainda se espanta de alguma forma com essa admiração, mas também destaca o quanto fica feliz com esse reconhecimento:

– Quando foi comigo, obviamente eu fiquei deslumbrada vendo tantas craques ao meu lado, tive a oportunidade de me espelhar em Fernanda Venturini, Márcia Fú, Ida, que para mim era uma geração que eu sempre me espelhei bastante. Hoje assim com elas, eu não consigo ver esse outro lado, de eu sendo o exemplo. Lógico, a gente fica muito feliz com esse reconhecimento, principalmente quando elas chegam, perguntam alguma coisa, pedem alguma informação, é o momento mais feliz que eu tenho para passar para elas.

Momento da carreira e futuro no vôlei

Agora no Londrina, Sassá espera ajudar com a consolidação do vôlei na cidade. A última vez que o time disputou uma competição nacional foi em 2018, sendo finalista da Superliga B.

– Desde o primeiro momento que eu cheguei em Londrina, eu fui muito bem recebida, muitas pessoas me conheciam. Elogiaram bastante a iniciativa do projeto, de trazer uma atleta olímpica para realmente fortificar ainda mais o voleibol aqui em Londrina. Eu espero contribuir da melhor maneira possível, a toda essa expectativa, e que a gente consiga alcançar nossos objetivos.

Já sobre o futuro, Sassá ainda não sabe quando deve parar, mas tem claro alguns objetivos. Ela quer mesclar a formação de atletas com o trabalho de alto rendimento.

– É uma coisa que pretendo conciliar: iniciação com trabalho em alguma equipe de alto nível. Tem equipes tradicionais com categorias de base. Faz falta um trabalho de base forte. A gente vê, principalmente nos dias de hoje, que falta fundamento. Algo que passa despercebido, mas que faz falta quando chega em uma categoria adulta – explicou.

Superliga C

A Superliga C, terceira divisão da competição nacional de vôlei, é dividida em quatro regionais. A chave que o time de Londrina vai disputar terá sede em Irati, junto com as donas da casa e outras quatro equipes: São José dos Pinhais-PR, Chapecó-SC, Itajaí-SC e Foz do Iguaçu-PR.

As seis equipes se enfrentam em turno único. Quem fizer mais pontos é a campeã da chave e garante vaga na Superliga B de 2023, que tem início previsto em janeiro.

Com Sassá, o Londrina estreia nesta quarta-feira, às 21h, contra o Itajaí-SC. Clique aqui para conferir a tabela completa.

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