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Por André Gallindo, Márcio Iannacca e Rafael Honório — Rio de Janeiro


Nos gramados, o ano de 1970 foi sublime para o futebol brasileiro: afinal, foi quando a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial, no México. Mas fora dos estádios, a realidade era completamente outra no Brasil: no auge da ditadura militar, os cidadãos conviviam com a linha dura do General Emílio Garrastazu Médici, então presidente. O jornalista Fernando Gabeira viveu as duas realidades na pele e lembra bem do primeiro jogo da Seleção na Copa de 1970, no 4 a 1 contra a Tchecoslováquia.

- Na época, eu dirigia o departamento de pesquisas do Jornal do Brasil e estava participando de um movimento político. Acabei preso e estava na cadeia no início da Copa do Mundo. Eu ouvi, mas não ouvi o jogo contra a Tchecoslováquia. Eu conseguia imaginar o que estava acontecendo pelos gritos e fogos do lado de fora da cela. Eu, ali na solitária, entendi que o Brasil tinha feito três gols, mas não sabia quantos os tchecos tinham marcado. Mas eu supus que tínhamos sido vitoriosos, porque era difícil vencer o Brasil por 4 a 3 - lembra Gabeira.

Gabeira estava preso no início da Copa do Mundo de 1970 — Foto: Agência Estado

Com o grande destaque da Seleção comandada por Zagallo, o governo militar brasileiro começou a utilizar a supremacia nos campos em prol da sua imagem. Era o governo mais repressivo da história do Brasil, mas Médici explorou bem a vitória sobre a Tchecoslováquia como uma propaganda política. Os slogans "Ninguém segura este país" e "Brasil: ame-o ou deixe-o" eram usados em larga escala.

- Nós sabíamos que a vitória do Brasil significaria um reforço de imagem para a ditadura e, com isso, nosso adversário estaria mais forte. Nós achávamos que conseguiríamos torcer contra, mas não aguentamos. No meio do caminho, estávamos todos torcendo pela seleção: "Se a ditadura avançar um pouco não tem importância. O que vale mesmo é ganharmos essa Copa". E ela foi muito bem ganha, com jogo muito bonito, com vitória larga - recorda Gabeira.

Depois de "concluir" a vitória brasileira na estreia, Gabeira foi transferido para o Presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Durante o Mundial do México e graças ao sequestro do embaixador alemão (ele e outros companheiros do movimento foram trocados pelo político), o jornalista foi solto e se exilou na Argélia, na África. Com isso, ainda teve tempo de assistir à vitória brasileira sobre a Itália, por 4 a 1, na grande final.

- A Argélia naquele momento era um centro de recepção de revolucionários do mundo inteiro: passaram por lá os Panteras Negras (dos EUA) e também os movimentos de libertação da África. A ida para a Argélia permitiu que a gente pudesse acompanhar a final pela televisão. E ver pela TV é completamente diferente de acompanhar em uma solitária. Lembro muito bem do último gol: que foi um gol que selou a partida e ficou na memória como o símbolo da vitória naquela Copa - disse Gabeira.

Jairzinho, Pelé e Tostão comemoram a conquista do Tricampeonato Mundial. — Foto: Agência Estado

Além de Gabeira, muitos outros brasileiros viraram refugiados durante a Copa do Mundo e puderam acompanhar a vitória brasileira no México. Outros não tiveram tanta sorte e acabaram torturados, presos e mortos pela ditadura militar brasileira.

O Esporte Espetacular relembra os 50 anos do Tri a partir deste domingo, dia 14. Serão dois episódios especiais contando os bastidores, as curiosidades e ouvindo os heróis do título no México, em 1970. O primeiro episódio vai ao ar no dia 14 e o segundo no dia 21 de junho, quando se celebrará exatamente 50 anos que o Brasil derrotou a Itália na final e conquistou a Taça Jules Rimet.

O SporTV começou a retransmitir todos os jogos do Brasil na Copa de 1970 nos dias do mês que foram disputados. Especiais do Baú do Esporte são exibidos logo em seguida. Confira a programação dos próximos:

  • 14/06, domingo
    22h - Brasil x Peru
    (em seguida, o programa "Lendas - Tostão")
  • 17/06, quarta-feira
    22h30 - Brasil x Uruguai
    (em seguida, o programa "Jogos para Sempre" sobre a partida)
  • 21/06, domingo
    22h - Brasil x Itália
    (em seguida, o programa "Jogos para Sempre - Gerson")

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