A atacante Cristiane se apresenta em São José dos Campos (SP) no mês de outubro para defender o time do Vale do Paraíba somente até o fim do ano. Assinar contratos curtos com clubes do Brasil já virou rotina para a maior artilheira da história das Olimpíadas. O motivo? Segundo a goleadora, a estrutura do futebol feminino brasileiro está cada vez pior.
- Está piorando muito. Não tem calendário anual, estrutura, competições fortes, incentivo à modalidade, nada. O futebol feminino do Brasil está andando pra trás - critica a jogadora, que vai defender São José nos Jogos Abertos do Interior e na Copa Libertadores.
José no futebol paulista (Foto: Globoesporte.com)
Cristiane fará sua segunda passagem rápida por São José (primeira foi em 2007). Ela também assinou contratos de meses com Corinthians e Santos. Mas para jogar em alto nível e com reconhecimento financeiro, a atacante precisa deixar o país. Em 2013 o plano é voltar à Liga nos Estados Unidos. A jogadora estava atuando no futebol da Rússia, sofrendo com o frio e a distância.
- A proximidade com a família pesa muito para jogar no Brasil. Não me faltou oportunidade pra continuar jogando lá fora. Mas o lado financeiro não é tudo. Na Rússia eles valorizam as jogadoras, mas é preciso estar se sentindo bem, feliz para jogar e lá é um país difícil pra se viver. Seria perfeito se pudesse jogar no meu país com uma estrutura profissional.
Olimpíadas 2016
Sobre a preparação da seleção brasileira para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, Cristiane deixa um alerta: o Brasil está muito atrás das favoritas à medalha de ouro em 2016. E, provavelmente, será eliminada mais uma vez antes das finais.
- Deveríamos ter aproveitado o sucesso da modalidade quando nossa seleção se destacou pela primeira vez lá atrás, com a Marta surgindo, todas começando. O tempo passou e tudo piorou. As meninas não têm suporte algum. É triste, mas França, Canadá, Japão, Estados Unidos, enfim, são seleções que estão com total apoio, trabalhando, evoluindo - opina.
a maior artilheira olímpica (Foto: Reuters)
Cristiane já teme pelas futuras entrevistas que dará ao fim das Olimpíadas e também da Copa do Mundo de Futebol Feminino, que será realizada em 2015, no Canadá.
- Na hora de falar à imprensa, nós jogadoras nem sabemos mais o que dizer. As justificativas acabaram. A verdade é que estamos muito atrás. Não dá pra reunir a seleção faltando três, quatro meses para começar a competição. Aí são convocadas jogadores que estão sem clube, desempregadas. Não dá. A expectativa em cima é muito grande, mas falta apoio.
Renovação
Em 2016, Cristiane terá 31 anos de idade. Marta terá 30 (e deixou em dúvida sua participação nas próximas Olimpíadas). Mas como está o trabalho nas categorias de base da modalidade?
- A renovação é muito importante. Seria a salvação. Mas as meninas do Sub20, por exemplo, não conseguiram seguir no Mundial. Só talento não basta. É preciso profissionalizar o futebol feminino brasileiro. Logo, logo vamos ter que começar do zero de novo em um trabalho a longo prazo.
Águia do Vale
O São José está na semifinal do Campeonato Paulista de Futebol Feminino contra a Portuguesa. Ainda sem Cristiane, a equipe enfrenta a Lusa neste sábado, às 10h30, no Estádio Martins Pereira, em São José dos Campos, em busca do título inédito. A equipe já faturou a Copa Libertadores (2011) e a Copa do Brasil (2012).
- Adoro São José, é um time muito forte, com grandes amigas, jogadoras experientes. Vou honrar com toda dedicação o time e fazendo o possível para divulgar e incentivar o esporte.