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Por Erica Hideshima — São Paulo

Trinta e quatro anos, dois ouros olímpicos, três medalhas em Mundiais, sete em Grand Prix e há 17 anos servindo à seleção brasileira de vôlei. Poderia bastar para Jaqueline, mas a ponteira decidiu encarar mais um desafio: quer se tornar líbero a partir da próxima semana, a convite do técnico José Roberto Guimarães. Ela se apresenta ao grupo na próxima segunda-feira, em Saquarema. O caminho é o mesmo do marido, o medalhista olímpico Murilo Endres.

- Com certeza este passo é um recomeço. Nunca joguei em outra posição que não fosse a de ponteira-passadora, mas acredito muito porque tenho facilidade em fazer fundo de quadra. Vou correr atrás como sempre fiz para desempenhar bem, sempre gostei muito de treinar. Sei que se quiser prolongar minha carreira na seleção, agora como líbero, esta é uma chance. Vou tentar me adaptar rápido para contribuir com o time, como sempre fiz - analisa Jaqueline.

Zé Roberto Guimarães no comando do Barueri — Foto: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

A ideia da mudança de posição já ventilava nos treinos do time de Barueri, onde Jaqueline disputou esta temporada da Superliga ao lado de Zé Roberto.

- A Jaque sempre foi uma excelente jogadora no fundo de quadra, com defesa e passe. Sempre observei o volume de jogo dela em todos os times por onde ela passou. Ela tem todas as características para que dê certo - afirma o técnico.

Antes de tomar a decisão e convidar Jaqueline para voltar a fazer parte da seleção, o treinador teve uma longa conversa com a atleta.

- Precisava olhar no olho, ver se ela realmente queria isso, se queria encarar esse desafio e a rotina das viagens. Ela me disse que queria.

A aspirante a líbero contou como foi a conversa com Zé Roberto e admite que não foi uma decisão simples a ser tomada.

- Eu chorei horrores com ele porque sempre fui jogadora de volume, mas também fazia meus pontos. Ao mesmo tempo, fiquei feliz pela confiança. O frio na barriga sempre vou ter e estou disposta a encarar novos desafios. No início achei estranho porque não é fácil mudar de posição tão rápido, ainda mais que joguei a Superliga como ponteira e na fase final eu já estava jogando bem e pontuando bastante para o time. Esqueci até de pensar em ser líbero, mas depois da nossa conversa o Zé me deu muita força porque não é fácil ir para a seleção com uma posição tão importante sem ter jogado uma Superliga como líbero. Mas estou feliz, vou poder tirar o melhor de outras ótimas líberos treinando na seleção.

Em casa, a jogadora tem como porto seguro o marido, Murilo, que também joga vôlei e já percorreu esta mesma estrada: na última Superliga, deixou de ser ponteiro para se tornar líbero. Depois de enfrentar diversas lesões no ombro, cotovelo e panturrilha, tornou-se líbero para prolongar a carreira nas quadras.

- O Murilo me fala que não teve opção a não ser virar líbero. O conselho que ele me deu foi o mesmo de sempre: correr risco, de experimentar novas experiências e representar bem o Brasil porque um dia tudo isso passa - conta Jaque.

Com os desfalques de Fabíola e Léia, que pediram dispensa por motivos pessoais, o grupo convocado por Zé Roberto disputa a Liga das Nações (antigo Grand Prix) no mês que vem. Será a chance de Jaqueline mostrar serviço para garantir uma vaga no grupo que tem o Campeonato Mundial do Japão, em setembro, como principal objetivo.

- Ela terá oportunidade de atuar. Tudo vai depender do feedback que ela vai me dar, vamos conversar bastante para saber se ela realmente consegue se adaptar à posição. Ser líbero não é fácil exige muito do atleta - completa o técnico.

De 2006 a 2014, Fabi foi a titular absoluta da posição e foi a capitã da Seleção desde 2010. Depois da aposentadoria da veterana, Zé Roberto apostou em nomes como Camila Brait, Leia e Suellen. Leia ganhou a briga pela vaga com Brait no elenco que disputou a Olimpíada Rio, e ano passado pediu dispensa por problemas pessoais. Ela voltou a ser convocada por Zé Roberto na primeira convocação desta temporada.

Em 2017, Zé Roberto convidou a ponteira Gabi Gabiru, que então jogava em Osasco, para passar pelo mesmo processo pelo qual Jaqueline passará. Mas em outubro do ano passado, já atuando pelo Rio, Gabi teve uma grave lesão e rompeu os ligamentos do joelho esquerdo durante uma partida da Superliga, o que a tirou das quadra até o fim da competição.

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