Grande “ilha” de lixo do Pacífico já tem ecossistema próprio

Área tem 1,6 milhão de quilômetros quadrados e é o maior acúmulo de lixo plástico oceânico do mundo
Grande Mancha de Lixo do Pacífico já tem ecossistema próprio
Imagem: The Ocean Clean Up/Reprodução

Criaturas encontradas facilmente em praias, como caranguejos e anêmonas, estão formando uma nova população em um lugar inesperado: na Grande Mancha de Lixo do Pacífico. 

Os detritos formam um redemoinho de mais de 1,6 milhão de quilômetros quadrados – tamanho que supera a área total de países como a Colômbia, Bolívia, França e Alemanha. A mancha fica no meio do oceano entre a Califórnia e o Havaí e é o maior acúmulo de lixo plástico oceânico do mundo. 

Segundo um estudo publicado na revista Nature, na segunda-feira (17), dezenas de espécies de organismos invertebrados estão vivendo e se reproduzindo sobre a montanha de lixo plástico que flutua no oceano. 

A descoberta sugere que a poluição plástica está permitindo a criação de novos ecossistemas de espécies que normalmente não conseguem sobreviver em oceano aberto. 

Diferente do material orgânico, que se decompõe e a afunda em meses, o lixo plástico continua sobre o oceano por anos a fio. Isso dá a oportunidade para que criaturas fiquem ali por mais tempo e, assim, criem um habitat próprio em meio aos detritos. 

O que a pesquisa encontrou 

A equipe de pesquisadores do Smithsonian Environmental Research Center examinou 105 itens de plástico pescados na Grande Mancha de Lixo do Pacífico entre novembro de 2018 e janeiro de 2019. 

Na amostra, identificaram 484 organismos invertebrados marinhos de 46 espécies diferentes. Dessas, quase 80% eram encontradas com mais frequência em habitats costeiros. 

Grande Mancha de Lixo do Pacífico já tem ecossistema próprio

Registro de pequenos invertebrados em objetos encontrados na Grande Mancha de Lixo do Pacífico entre 2018 e 2019. Imagem: The Ocean Cleanup/Reprodução

“Foi surpreendente ver a frequência das espécies costeiras. Eles estavam em 70% dos detritos que encontramos”, disse Linsey Haram, cientista do Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura dos EUA e principal autora do estudo, à CNN.

“Uma grande porcentagem da diversidade que encontramos eram espécies costeiras e não as espécies pelágicas nativas do oceano aberto que esperávamos encontrar”, disse ela.

A equipe também identificou diversas espécies de oceano aberto. “Em dois terços dos escombros, encontramos as duas comunidades juntas competindo por espaço, mas muito provavelmente interagindo de outras maneiras”, conta. 

Quais as consequências 

Ainda é cedo para entender todos os impactos da chegada de novas espécies nessa área remota do oceano. O que os cientistas sabem até agora é que a predação já ocorre entre as duas comunidades – invertebrados costeiros e espécies nativas do oceano. 

“Provavelmente há competição por espaço, que é escasso em mar aberto”, explicou Haram. “É difícil saber exatamente o que está acontecendo, mas vimos evidências de algumas das anêmonas costeiras comendo espécies de oceano aberto, então sabemos que há alguma predação acontecendo entre as duas comunidades”. 

Os pesquisadores também tentam descobrir como as espécies chegaram até lá. A hipótese é que elas “pegaram carona” em algum pedaço de plástico ou, quem sabe, colonizaram objetos que entraram em mar aberto. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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