• Olavo Soares
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Camarões 1 (Foto: Getty Images)

Camarões usou uniforme sem mangas na Copa da África (Foto: Getty Images)

A seleção de Camarões ganhou os holofotes no início de 2002 não apenas por ter sido a campeã africana daquele ano, mas também pelo uniforme preparado para a ocasião: uma camisa sem mangas. O kit, que ficou conhecido como sleeveless, seu nome em inglês, foi fornecido tanto para a camisa número 1 (verde) quanto para a número 2 (branca), e acabou sendo usado pelos camaroneses em toda a campanha no torneio continental.

A camisa foi produzida pela Puma e a empresa apresentou como motivação para o modelo a tentativa de refrescar um pouco mais os atletas. A inspiração veio do basquete: de fato, a camisa era praticamente idêntica à usada no mundo da bola ao cesto, com a diferença de ter alças mais grossas.

Camarões 2 (Foto: Getty Images)

Seleção de Camarões foi campeã continental (Foto: Getty Images)

E tudo acabou dando certo até demais para Camarões e Puma após a escolha. A seleção voou baixo no Campeonato Africano e faturou o torneio, disputado no Mali, sem levar um gol sequer. Samuel Eto'o liderava o time no qual jogava também o meio-campista Marc Vivien Foé, que morreria em campo no ano seguinte, em partida da Copa das Confederações.


Talvez a grande visibilidade no torneio local – somada ao fato de que, à época, a seleção camaronesa já estava classificada para a Copa do Japão e da Coreia do Sul – fez com que a camisa desenvolvida pela Puma obtivesse uma repercussão talvez maior do que o idealizado. Jogadores, jornalistas e torcedores discutiam se aquilo era uma invencionice de vida curta ou uma moda que chegara para ficar. Pensavam também se a redução de calor supostamente proporcionada pelo uniforme era realmente um diferencial ou um simples golpe de marketing. E ainda debatiam o componente meramente estético da coisa.

Para acabar com qualquer expectativa, a FIFA decidiu, em março de 2002, proibir a seleção camaronesa de usar o modelo sleeveless na Copa do Mundo que viria meses depois. A entidade máxima do futebol alegou que a camisa fugia das regras do jogo e também que não permitia a colocação de um brasão que comumente figura nos uniformes durante as competições maiores. O porta-voz da federação, Keith Cooper, foi mais direto (e grosseiro): “isso não é uma camisa... é um colete!”.

Camarões 3 (Foto: Getty Images)

Camarões e Puma aceitaram a restrição, mas a marca resolveu dar um jeitinho para fazer na Copa do Mundo um efeito que de certo modo lembrasse as camisas sem mangas – produziu uniformes com mangas pretas que, no corpo dos jogadores negros, realmente poderiam passar batidas por um observador menos atento.

Coincidentemente ou não, com as mangas o time de Camarões fez uma Copa do Mundo pouco inspirada. Caiu logo na primeira fase, ficando em terceiro lugar em um grupo que tinha também Alemanha, Arábia Saudita e Irlanda.

Dois anos depois, a seleção de Camarões (em conjunto com a Puma, é claro) ainda se envolveria em outra polêmica com a FIFA por causa de uniformes. O time jogou alguns jogos das Eliminatórias para a Copa de 2006 com um uniforme composto de uma peça única – algo como um traje de surfista ou ginasta. Dessa vez, a bronca foi até mais séria, e a FIFA chegou a tirar pontos (posteriormente, reviu a decisão) dos camaroneses na disputa, alegando que eles violaram as regras do jogo que determina o uso de uma camisa e um calção.