Brasil – Peru – Bolívia
Introdução
Uma viagem inicia com o desejo, o planejamento, o despertar por chegar e conhecer determinado destino. O roteiro desta viagem foi despertado em um motoencontro na cidade de Cruz Alta, RS, quando retornávamos eufóricos e felizes de uma viagem à Mendoza-Ar e Santiago-Ch em pleno inverno, agosto de 2011, com uma Hayabusa. Detalhes desta viagem estão no blog.
Alguns amigos estavam por lá e resolvemos passar o sábado no encontro, afinal, vinham falar conosco e saber da aventura. Foi quando conhecemos uma turma que havia viajado à Machu Picchu, de moto. Sem dúvida, uma aventura maior que a recém realizada por nós.
Nossas almas inquietas foram despertadas para este destino. Sites, blogs, matérias de todo tipo e maneira, pessoas, tudo era fonte de informação. Em dezembro de 2011, junto ao posto do Gringo em Erval Velho, SC, encontramos um grupo de motociclistas de Blumenau, SC, rumo a Machu Picchu. Estavam preparados com uma camionete de apoio e falavam das dificuldades que esperavam encontrar. Mais uma motivação para nós, Kiko e Karol, motociclistas que viajamos desacompanhados de outras motos ou carro.
No final de 2011 e início de 2012 viajamos ao Uruguai e Argentina, conhecemos a região de Mar del Plata e Patagônia, viagem também descrita no blog.
Chegando ao Brasil a inquietude do novo desafio nos levou a trocar de moto. E trocar de estilo de moto. Procuramos e encontramos uma BMW GS 1200, modelo Sport equipada com freios ABS e aquecedor de manoplas, uma moto que cabia em nossas contas, relativamente nova, ano 2009 e com baixa quilometragem, cerca de 20.000 km rodados. Melhor que isso, o amigo Wilson, proprietário, aceitou nossa Hayabusa. Viajamos no início de março para o Paraná com o objetivo de fazer negócio. A primeira impressão com a nova moto foi muito estranha. Altura, distribuição de peso, potência do motor, faixa de rotação. Karol chegou a dizer que não se sentia bem tão alta, tão solta. Fizemos 2 testes e questionei Karol sobre a nova opção. Será que o mundo inteiro estaria errado ao andar longas distâncias com motos do estilo big trail? Fizemos o negócio.
O período adaptativo com a nova moto foi grande, até porque não chegamos a viajar longas distâncias. Quando questionado, ainda mostrava resistência em falar “bem” da BMW. Sentia falta do motor, da facilidade com a qual acelerávamos a Hayabusa. Precisamos esperar o momento certo chegar para aprovar a moto, ou melhor, para colocá-la em uso nas condições para a qual foi projetada.
Planejamento
Com a nova moto adquirida, as pesquisas sobre roteiros e destinos aumentaram. Mas levamos um banho de água fria ao recebermos informações sobre não viajar para esta região, especialmente em janeiro, época de chuvas. Era exatamente o nosso plano, sair após o natal. Chegamos a abortar a viagem e fazer outro destino igualmente famoso, Ushuaia e sul do Chile. Fui vencido pela insistência da Karol em ir pra outro lado, sair da já conhecida Argentina e, principalmente, fugir do frio, que ela odeia.
Aviso aos navegantes. Não confiem em tudo o que leem, não acreditem em qualquer conversa e não desistam dos seus planos. Fizemos a viagem no dito “período impróprio” e descobrimos ser perfeitamente possível. Machu Picchu não fecha por causa da chuva, como falam alguns. Permanece aberta todos os dias do ano, natal, ano novo. Um dos 5 maiores destinos turísticos do mundo não pode parar. Cerca de 3.000 pessoas por dia circulam pelas ruínas de Machu Picchu. Já pensou o impacto econômico caso se feche por alguns dias? Ou no período de chuvas? Então, acredite em você e faça destes os melhores dias de viagem de sua vida.
Roteiro
Baseamos o roteiro na possibilidade de fazer uma viagem sem o sentimento de ida e volta. Por toda a viagem passaríamos por locais diferentes, com destinos turísticos, tanto no Brasil quanto no exterior. Também aproveitamos alguns parentes espalhados pelo grande Brasil e optamos por revê-los. Definiu-se então o roteiro preliminar, alterado em alguns trechos durante a viagem:
Chapecó-SC até Dourados-MS, cerca de 750km
Dourados-MS até Coxim-MS, cerca de 500km. Este trecho foi alterado e alongamos até Rondonópolis, rodando cerca de 715km
Rondonópolis-MS até Chapada dos Guimarães-MT, um dos destinos turísticos, onde passamos o fim de semana
Chapada dos Guimarães-MT até Cuiabá-MT onde passamos a virada de ano na agradável companhia da prima Patrícia, Claudio, e os pequenos Ana, Bruno e Felipe
Cuiabá-MT até Nobres-MT outro destino turístico, onde passamos 2 dias e 2 noites.
Nobres-MT até Vilhena-RO. Não atingimos o destino programado, por isso dormimos na agradável cidade de Comodoro-MT, há cerca de 110km de Vilhena. Mesmo assim rodamos cerca de 800km neste dia.
Comodoro-MT até Porto Velho-RO onde passamos 1 dia e 2 noites para rever uma tia e uma prima, Mara e Thainá. Mais 750km rodados.
Porto Velho-RO até Rio Branco-AC. 500 km com necessidade de cruzar o rio Madeira de balsa, aventura bem legal e fora do habitual.
Rio Branco-AC até Porto Maldonado-Peru. Neste dia cruzamos a fronteira para dormir em Porto Maldonado, ainda em baixa altitude e junto à floresta amazônica peruana. Aviso: fronteira peruana só funciona em horário comercial, 8h00 às 12h00 e 14h00 às 18h00, horário local. No Peru são 2 horas de atraso em relação ao horário oficial brasileiro, portanto 3 horas de atraso se estivermos no horário brasileiro de verão. Há necessidade de adquirir seguro obrigatório para os veículos, denominado SOAT, que para nossa moto custou U$ 35,00 (isso mesmo, trinta e cinco dólares), válida por 30 dias. Isso ninguém havia falado! Então, fique esperto amigo irmão viajante, os policiais nos cobraram na estrada e também na saída do país.
Porto Maldonado até Cuzco-Peru. Este seria o dia de cruzar a Cordilheira dos Andes e atingir o principal destino da viagem, a capital Inca, onda passamos 2 noites e 1 dia.
Cuzco até Ollantaytambo-Peru. Localizado no vale sagrado dos Incas, Ollantaytambo é uma cidade turística onde existem ruínas e parques arqueológicos. Fica mais próximo de Machu Picchu, por isso a passagem de trem é mais barata em comparação com a saída de Cuzco. Passamos 1 dia e 2 noites nesta maravilhosa cidade Inca.
Ollantaytambo até Puno-Peru. Este foi o início do retorno, rumo ao lago Titicaca, divisa entre Peru e Bolívia. Passamos 1 noite e uma manhã em Puno.
Puno-Peru até Copacabana-Bolívia. Cruze de fronteira e apenas 150 maravilhosos kilômetros rodados às margens do lago Titicaca. Curtimos o fim de tarde em Copacabana.
Copacabana até Cochabamba-Bolívia. Um trecho de deslocamento no qual cruzamos a capital La Paz. Não há como desviar, tem que entrar na cidade. Sugiro o que fizemos, nos informamos com um policial de motocicleta, que nos orientou e não erramos o caminho. Mesmo assim, cruzar a cidade demora tranquilamente 1h30min. Há quem demore até 4 horas. Cuidem-se amigos da estrada.
Cochabamba até Santa Cruz de la Sierra- Bolívia. Aqui mudamos o destino. Por ter chegado super cedo em Sta Cruz, resolvemos tocar adiante e andamos 150km. Mas não havia cidades e acabamos dormindo em uma lanchonete.
Santa Cruz de La Sierra-Bolívia até Corumbá-MS. Cruze de fronteira, de volta ao Brasil. Tocamos mais 200km e dormimos em Miranda, portal do Pantanal.
Corumbá-MS até Toledo-PR.
Toledo -PR até Chapecó-SC.
Total rodado: 9.128km
De Chapecó até Dourados
O primeiro dia de viagem parece que não chega. A boa ansiedade toma conta para iniciar a aventura. Foi dia 26/12, uma quarta-feira. Nos despedimos dos vizinhos aventureiros Marcelo e Eliz e também da família Bohner.
A estrada entre Ampére e Cascavel, no PR, está como sempre, remendada, com buracos, movimentada e estressante. Quando paramos em Toledo, PR, a primeira surpresa da viagem. O alforge (mala lateral) do lado esquerdo da moto cedeu com a vibração dos buracos e encostou na descarga, derretendo. Quase perdemos as ferramentas da moto. Rapidamente resolvemos com abraçadeiras plásticas e silver tape.
A chuva nos pegou praticamente na fronteira com MS. Era uma chuva boa, pois reduzia a temperatura de 40°C para 30°C. Às vezes a coluna de chuva era tão nítida que parecia água jogada de balde.
Chegamos em Dourados ao final da tarde e aproveitamos para fixar definitivamente o alforje afetado em uma oficina de motos.
Dourados à Rondonópolis
O destino inicial era Coxim, há 500km, mas a estrada boa, a ausência de cansaço e tempo bom nos fizeram tocar mais 200km até Rondonópolis, MT.
Rondonópolis à Chapada
Cerca de 270km, chegamos antes do meio-dia. Mas a chuva fina e a altitude de Chapada (800 msnm) nos fizeram sentir frio, mesmo com temperatura de 20°C.
Em Chapada
Chegamos sexta-feira, 28/12 e planejamos sair na segunda, dia 31/12. Achar dormitório não foi fácil, pois as pousadas tinham pacotes para o fim de ano com valores que variavam de R$ 550,00 até absurdos R$ 1.000,00. Não desistimos e encontramos a pousada Paraíso do Cerrado, que cobrou um valor justo.
A Chapada é uma região mística, cheia de boas energias. Não precisa acreditar em duendes para sentir isso. Todo o clima de férias, ar puro e fresco da altitude de 800msnm e beleza da região contribuem para isso.
Chapada dos Guimarães tem estreita ligação com outro importante destino de nossa viagem, a Cordilheira dos Andes. Formada há milhões de anos, pode-se resumir e dizer que terremotos e eventos simultâneos esmagaram o terreno e construíram a Cordilheira, a planície do Pantanal e o planalto central brasileiro, onde se localiza a Chapada dos Guimarães, justamente uma de suas bordas. Por isso tamanha concentração de cânions, mirantes, cachoeiras, cavernas, lagos. A origem arenítica das rochas (entenda por isso areia) faz com que a paisagem seja constantemente erodida e transformada pelos ventos e chuvas.
Ainda na 6ª feira apreciamos um lindo por do sol, próximo ao morro do Sindacta, no local conhecido como Alto do Céu.
Sábado reservamos o passeio na caverna Aroe Jari (lê-se arôe djári) e gruta do lago azul. Enfrentamos 30km de asfalto e 10km de estrada de chão. Mas o que parecia ser uma ótima estrada de chão batido logo deu lugar a um areião espesso, onde a moto afundava com facilidade. Fomos ao chão 4 vezes no areião, 3x na ida e 1x na volta. E não adiantou muito murchar os pneus, o peso da moto, a ausência de prática neste terreno e pneus inadequados fazia a dianteira da moto afundar e….tombo. Claro que nada de grave acontecia, mas cair também cansa…rs.rs.rs. Aceitamos o socorro que veio de Kombi, deixamos a moto embaixo de alguns arbustos ao lado da estrada e seguimos de carona.
O passeio junto ao cerrado é lindo. Percorremos cerca de 8 km em toda a trilha, que permite observar árvores, frutas e animais do cerrado. As formações rochosas são magníficas e criam paisagens lindas. Aroe Jari é a 2ª maior caverna de origem arenítica do Brasil. É formada por uma grande e ampla abertura onde se forma uma gruta enorme, que se liga à caverna por um corredor.
Mais adiante na trilha chega-se a lagoa azul, parte da mesma formação rochosa da caverna. A água realmente reflete a cor azul, fruto da existência de algas.
Neste passeio encontramos 2 cobras, uma pequena e venenosa coral e uma caninana pendurada em uma árvore, só olhando a passagem dos turistas. A trilha é de nível médio, portanto um mínimo preparo físico é necessário. Um passeio altamente recomendável. Faríamos novamente.
A vida em Chapada corre calma. A cidade é invadida por turistas e moradores de Cuiabá em busca de clima agradável. Na volta do passeio paramos no centro para almo-jantar (sim, mistura de almoço com jantar) típico do turista que não pode perder o tempo no almoço. Moto chama moto e outros aventureiros, viajantes e amigos. Logo estávamos conversando com o pessoal das mesas ao lado e recebendo energias, incentivos e carinho. Esse é o espírito de quem viaja e gosta de moto.
O domingo foi reservado para desbravarmos as belezas da região, por conta e vontade própria. Visitamos a Cachoeira da Martinha e almoçamos no Morro dos Ventos.
Cuiabá
Segunda-feira, 31/12 fomos à Cuiabá na casa da prima Patrícia e do Claudio e dos pequeninos Ana, Bruno e Felipe. Churrasco de almoço, passeio à tarde pela cidade. Foi ótimo ver a família unida e feliz. Agradecemos a atenção e o carinho. Esperamos retribuir em breve.
Nobres
Aqui esclareceremos muitas dúvidas. Nobre, MT, é conhecida por apresentar passeios de flutuação em rios e paisagens semelhante a Bonito-MS. Com solo calcário, que se deposita no fundo dos rios, a água permanece límpida, transparente. Mas os passeios não estão em Nobres e sim próximos de Bom Jardim, um distrito de Nobres distante 60km de estrada de chão. Portanto, não se engane, se quiser aproveitar Nobres vá para Bom Jardim…rs.rs.rs.rs.
Chegamos dia 1°/01/13 a tarde e nos dirigimos para uma agradável pousada. Fomos para o Aquário Natural, um dos passeios de flutuação da região, distante 15 km da pousada, em estrada de chão. Como às águas são quentes, não há necessidade de utilizar roupas de neopreme como em Bonito. O equipamento se resume há um chinelo Crock, salva-vidas, máscara e snorkel.
A visão do aquário Natural impressiona, parece uma paisagem, um cenário, uma montagem em meio a mata. Mergulhar junto de tantos peixes, em água límpida, transparente é emocionante e incrível. Após uns minutos no aquário, seguimos a trilha para o passeio de flutuação no rio. Neste momento o tempo fechou e a chuva torrencial se abateu.
O passeio foi delicioso, mas o retorno preocupava. Agora tínhamos 15 km de estrada enlameada pela frente, sem cascalho. Encaramos o desafio. Abastecemos a moto com a gasolina reserva e seguimos. Um mata-burro estava danificado, e tivemos que parar pra arrumar. O lamaçal da estrada era de arrepiar. Caminhões e camionetes andavam de lado na estrada. Por fim comemoramos o deslocamento sem tombo.
Bom Jardim não tem muitas opções, apenas um restaurante, onde todos se encontram. Logo você faz amizade e divide experiências. Encontramos um casal de SP, viajantes solitários, de carro, além da Daniele, da Alemanha, mochileira que estava percorrendo o Brasil de ônibus ao longo de 3 meses.
Noutro dia fizemos o passeio da Cachoeira do lago Azul, distante uns 30 km de nossa pousada, em estrada de chão. Tivemos que passar um pequeno rio na estrada, mas não choveu neste dia.
A paisagem é linda. O local está dentro de uma área de terra do SESI, em trabalho de construção. Existe uma trilha para atingir a cachoeira, que igualmente surpreende à primeira vista como um cartão postal.
A água límpida estava esverdeada por causa das chuvas do dia anterior, mas ao longo do dia gradualmente clareava a ponto de vermos os peixes. A queda de água de cerca de 70 metros é imponente. E, acreditem, existe uma vertente de água quente, cerca de 30°C, ao lado da queda de água. Impressionante.
Nobres até Comodoro
O dia amanheceu com forte chuva e sem luz elétrica. Tínhamos 2 opções de estrada, 60 km até Nobres, de estrada de chão, agora lama, ou retornar via asfalto para Cuiabá e seguir cortando o estado na direção de Cáceres. Escolhemos o caminho do asfalto, mais seguro porém mais longo. Sem luz, não havia como abastecer. Nossa reserva já havia sido utilizada no dia 01 de janeiro e rodamos em estrada de chão cerca de 80km. Arriscamos deslocar mais 170 km com a gasolina contida no tanque, certamente menos de 8 litros. Tocamos na ponta dos dedos, e chegamos em Cuiabá no limite da reserva. Neste trecho, mais de 20km/l.
Após a movimentada Cuiabá, a estrada dá lugar ao isolamento. Um posto aqui, uma parada acolá. E você não pode se dar ao luxo de escolher sua parada, na dúvida, não hesite, abasteça mesmo que o posto seja questionável. Voce ainda se depara com cenas inusitadas, como uma boiada de gado nelore atravessando e sendo conduzida pela estrada.
A planície do pantanal começa a perder força e após algumas serras atravessamos o divisor de águas entre as bacias do Paraná e Amazônica. As chuvas que caem na bacia do Paraná se dirigem para a calha deste rio, que se junta ao rio Paraguai e Uruguai para formar o rio da Prata, entre Uruguai e Argentina. Portanto, a água que cai lá em cima, no norte do Brasil, na bacia do Paraná, chega até nossas terras aqui do sul. Já a chuva que cai na bacia do Amazonas se dirige para os rios desta região, os gigantes Madeira, Negro, Solimões, Jari e Amazonas. Os peixes da bacia do Paraná não existem na bacia Amazônica, e vice-versa. Assim, o Dourado, peixe rei dos rios aqui no sul, não existe na bacia Amazônica. Nem aqui existe o gigante Tucunaré. Uma aula ao vivo de geografia, história, costumes e hábitos.
A paisagem dá lugar a árvores gigantescas, na beira da estrada, superiores a 30, 40 m de altura que se destacam na densa floresta amazônica. Este contato ainda na estrada revela o poder desta floresta. Encontramos animais mortos na beira da estrada, tatus, antas, capivaras, cobras e tamanduás.
Comodoro foi a cidade destino, na divisa entre MT e RO. Agradável, tem bons hotéis na beira da estrada pois é uma cidade dormitório dos amigos da estrada. Aqui comemos um delicioso peixe ao molho de urucum, espetacular.
Comodoro até Porto Velho
Mais um trecho de grande deslocamento e sensação de descoberta, pois se ouve falar desta região longínqua do Brasil, onde poucos passam. Estar em Rondônia deu uma sensação de distanciamento do lar, e a aventura sobre a moto realmente começava.
A divisa de MT com RO nos brindou com a chuva torrencial da Amazônia, típica desta época do ano. É uma chuva intensa, forte, mas passageira. Na dúvida, pare e espere alguns minutos que ela passa. Recomendaram, e estou repassando, não andar sob forte chuva nesta região, pois a pouca visibilidade e quantidade de água no asfalto encobrem possíveis buracos, que podem causar um tombo.
Entre Pimenta Bueno e Ariquemes há trechos onde o asfalto dá lugar a enormes buracos e estrada de terra. Perigoso, por isso a necessidade de viajar sempre durante o dia.
Na chegada em Porto Velho paramos para abastecer e logo fomos abordados por motociclistas da cidade, que se apresentaram e gentilmente se colocaram à disposição.
Porto Velho
A capital de Rondônia é jovem, assim como o estado. Ainda existe a sensação de dois mundos, o organizado e central versus a bagunça da periferia. A cidade se desenvolveu às margens do rio Madeira, onde está a igualmente famosa estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Pela manhã nos encontramos com os novos e recentes amigos no Ponto do Motociclista. Logo a turma se reuniu e o papo sobre 2 rodas rolava solto. Dicas importantes foram reveladas por quem mora nesta região e está acostumado com aquelas estradas.
Alguém aí sabe da travessia de água sobre a pista no início da Cordilheira dos Andes peruana? E sabe que essa água, proveniente da chuva e do degelo, carrega material orgânico, barro e forma um limo escorregadio como sabão? Pois então fique ligado, pois muitos destes colegas de Porto Velho também não sabiam e caíram nestas passagens de água sobre a pista. Um grande abraço a esta turma gentil, amiga e camarada de Porto Velho. Contem conosco aqui no sul. Esperamos retribuir de alguma forma.
Ao fim da tarde conhecemos a estrada de ferro e fizemos um passeio de barco no Madeira, acompanhados de um dos mais lindos pôr do sol do Brasil.
Em Porto Velho a família Moroso tem parentes, tia Mara e a prima Thayná. Muito bom revê-las após 12, 13 anos. Não conseguimos visitar a madrinha Tere, mas fica outro abração para sua família.
Porto Velho até Rio Branco
O dia iniciou nublado e a chuva, desta vez fraca, logo chegou. Sem demora estávamos cruzando o rio Madeira via balsa. Quem desejar, se apresse, pois as pontes estão quase prontas e a balsa será desativada.
Em uma das paradas para abastecimento, Karol entrou em um restaurante anexo ao posto para usar o banheiro. Fui junto, e pedi água e energético. Logo se aproximou um senhor simpático, compositor de músicas e nos deu um de seus CD`s. Nos falava sobre a futilidade das músicas de hoje, a banalização das letras que, em uma análise mais profunda está destruindo as famílias e suas bases. Ficamos encantados com a sabedoria e conhecimento do novo amigo, também motociclista. Usa sua pequena CG para andar por todo o norte divulgando solitariamente seu trabalho. Uma luta incansável, de formiguinha, vendendo seu trabalho de porta em porta e nas filas de carros ao longo das rodovias. Sucesso amigo.
Chegamos a Rio Branco ao final da tarde e nos deparamos com uma cidade simpática, pequena para uma capital, limpa, agradável. Foi uma descoberta surpreendente. Caminhar pelas ruas do centro, pela beira-rio revitalizada com seus bares, restaurantes e todo o movimento do povo local ao pôr do sol foi ótimo. Karol provou o típico Tacacá, comida regional composta por um caldo verde quente acompanhado de folhas verdes e camarão. Pela cara, não aprovou.
Ainda em Rio Branco, pela manhã, fizemos a troca de óleo do motor e uma revisão geral na moto. Tudo OK.
Rio Branco até Porto Maldonado, entrada no Peru
De Rio Branco nos dirigimos a Brasiléia, que faz fronteira com a Bolívia e depois para Assis Brasil, que faz fronteira com o Peru. Saindo do Brasil há uma enorme aduana. É necessário pegar os documentos de saída do Brasil para dar entrada no Peru. A fronteira peruana funciona apenas no horário comercial, 8h00 às 12h00 e 14h00 às 18h00 do horário local, que tem 2 horas de atraso em relação ao horário oficial brasileiro. Como estávamos no horário de verão, a diferença era de 3 horas.
A documentação para entrada no Peru requer o documento oficial de saída do Brasil e carteira de identidade recente. Para a moto existe outro procedimento, no qual se identifica o veículo, proprietário e motorista. É um pouco bagunçado, mas nada de grave. Mandam tirar Xerox de alguns documentos, mas ao lado da aduana tem lojinhas que fazem câmbio e tiram Xerox. Não fomos informados da necessidade de um seguro obrigatório para o veículo. Posteriormente descobrimos que o seguro obrigatório é necessário e chama-se SOAT.
Na fronteira encontramos um grupo de motociclistas brasileiros da região central do Brasil, Goiânia e Brasília. Estavam em 4 motos, 2 Honda 750 do início dos anos 90, uma F outra Indy, uma Bandit 1200 e uma V-strom 1100.
Dormimos na cidade de Porto Maldonado, única opção neste trajeto. Mesmo assim a cidade, que fica encravada na floresta amazônica em baixas altitudes, é feia, suja e sem opções de hotel e restaurantes. Dormimos no hotel Cabaña 5, creio que o único adequado da região. A ponte sobre o rio está pronta, portanto, aposentaram a famigerada e temida balsa, conhecida por funcionar como um vaga-lume hora funcionava, hora não funcionava…rs.rs.
Porto Maldonado até Cuzco, cruzando a Cordilheira dos Andes
No início do dia fomos abastecer e fazer o seguro obrigatório, a SOAT, feita dentro do Peru, em pequenas lojas tipo despachantes. Pagamos U$ 35,00 (Trinta e Cinco Dólares) pela SOAT, válida por 30 dias. Mas demoramos 1h30min pois não havia o documento na cidade, então tivemos que esperar chegar. O tempo passou rápido trocando ideias com os amigos motociclistas brasileiros, que se aventuravam com 2 Sete-Galo rumo a Cordilheira.
Em uma das cidades ainda na parte baixa da estrada paramos encher o tanque e comprar folhas de coca. Os nativos garantem que mascá-la reduz os efeitos nocivos da altitude, como falta de ar, cansaço, sonolência, vômito e dor de cabeça. Encontra-se facilmente em qualquer loja da beira da rodovia, ao preço de $ 3,00 (Três Solis), cerca de R$ 2,70 por pacote.
Logo começou a chover fraco, mas constante. Roupas de chuva para evitar nos molharmos e nada de subir a cordilheira. Estávamos apreensivos e ansiosos por subir a cordilheira, uma aventura incrível a cada subida, daquelas do tipo que você não sabe se conseguirá chegar, pois as condições da estrada e do tempo determinam a viagem. Também nos preocupava as escorregadias passagens de água sobre a pista. Realmente os peruanos deram mancada. Ao invés de colocar tubulação embaixo da estrada, simplesmente rebaixaram o asfalto, como uma grande lombada ao contrário. Este rebaixamento da estrada é de concreto, e não de asfalto. Realmente e dica se verificou e valeu. Existe água escorrendo devido ao degelo e chuvas, logo cria-se uma camada de lama e limo incrivelmente lisa. Parávamos a moto a cada passagem de água e passávamos em 1ª marcha, lentamente.
A estrada segue paralela ao rio, que estava cheio, revoltoso em função da chuva e degelo. Quem viaja na época da seca, entre maio e novembro, vê o rio sem água, apenas pedras. As duas imagens são lindas e revelam o comportamento distinto das épocas do ano.
Notamos que se anda muito e sobe-se pouco. A estrada é uma verdadeira serpente, cheia de curvas. Monitoramos a temperatura externa para saber o momento de colocar as roupas térmicas. Quando atingiu cerca de 21°C, 20°C, encontramos um local coberto para realizar a tarefa. Karol, bastante friorenta, usou calça e camisa tipo 2ª pele térmica, além de 2 coletes térmicos, jaqueta, calça e roupa impermeável. Eu utilizei apenas os coletes térmicos, jaqueta, calça e roupa impermeável.
Chovia, e eu acreditava que em algum momento subiríamos acima das nuvens, de modo a ver o sol e o céu azul. Ledo engano. A chuva nos acompanhou até o ponto de maior altitude. A temperatura caiu para 4°C e eu me perguntava: nesta temperatura, teremos neve. E foi o que ocorreu, na parte mais alta, aos 4.750 msnm a neve caia, mas não a ponto de acumular no asfalto e impedir nossa passagem. Mas o frio nos impediu de registrar algumas fotos da cordilheira.
Mesmo com as manoplas aquecidas da BMW, as pontas dos dedos ficaram frias. Já os pés, bom, estes não tem jeito, perde-se a sensação. Estávamos famintos, não tínhamos almoçado ainda. Foi quando nos deparamos com a placa TRUCHA FRITA. Imediatamente paramos e adentramos de capacete e tudo no local, uma espécie de acampamento, de chão batido, com algumas pessoas comendo em algumas mesas distribuídas no local. Não havia como sentarmos, então ficamos em pé. Estávamos nos Andes peruanos, e o povo não fala o castelhano, e sim a língua indígena local denominada Quechua (lê-se quétchua). Através de sinais e gestos, pedimos 2 pratos de truta e chá. O cozinheiro fritava as trutas tiradas dos rios da região, frescas e selvagens, no meio da tenda, o que aquecia o ambiente. Foi, sem dúvida, a melhor truta de nossas vidas. Comemos em pé, com as mãos, para aquecer os dedos.
A partir deste momento iniciamos a descida da Cordilheira. A chuva deu um tempo, mas a estrada era implacável. Curva em cima de curva, 1ª e 2ª marchas o tempo todo. Mesmo desejando chegar, pois a noite se aproximava, não havia meios. A estrada ditava o ritmo. Chegamos a Cuzco ao final do dia, 19h00 local, com chuva fina e trânsito entupido. Fomos direto ao centro, não tínhamos hotel. Algumas voltas e encontramos um. Não era momento de pesquisar ou procurar outro hotel. Coube no bolso e a qualidade era ótima, bem localizado no centro histórico.
Cuzco
A capital do império Inca é linda, nos encantou à primeira vista na manhã seguinte. Passeamos pelo centro e fizemos o city tour nos ônibus credenciados. Vale a pena mesmo dispensar um ou mais dias, se possível, para explorar a cidade.
Adivinha quem encontramos no centro? Os amigos brasileiros, das motos 7 Galo. Risada e mais risada, eles chegaram muito mais tarde que nós em Cuzco.
Valle Sagrado e Ollantaytambo
Pela manhã nos dirigimos a Ollantaytambo, uma pequena cidade encravada no Valle Sagrado Inca. Nesta época de chuvas diversos rios e cursos de água se direcionam para o rio principal, Urubamba, na beira do qual os Incas desenvolveram várias vilas e compõem um roteiro turístico através de vários sítios arqueológicos.
Chegamos a Ollantaytambo apreciando a bela estrada e natureza, vales e montanhas. Encontramos um hotel que ficava à beira do rio, de frente para as ruínas. Adquirimos as passagens de trem entre Ollantaytambo e Aguas Calientes, cidade onde ficam as ruínas de Machu Picchu. As passagens de trem custaram U$ 123,00 (Cento e Vinte e Três Dólares) por pessoa.
A tarde conhecemos as ruínas e passeamos na cidade, encantadora. Ainda hoje as galerias de águas são as mesmas construídas pelos Incas.
Aguas Calientes e Machu Picchu
Acordamos cedo e pegamos o trem as 6h00 local. Dizem ser melhor chegar cedo em Machu Picchu. Para nossa surpresa e um pouco de desânimo, estava chovendo, fraco. A viagem de trem de cerca de 40km demora 1h30 serpenteando as montanhas, à beira do rio Urubamba.
Em Aguas Calientes você deve adquirir os ingressos para a entrada em Machu Picchu, cuja venda se localiza na praça central. O valor pago foi de cerca de $ 128 Solis, cerca de R$ 100,00 (Cem Reais) ou U$ 50,00 (Cinquenta Dólares) por pessoas.
Com os ingressos em mãos, você já pode se dirigir às ruínas, a pé se tiver coragem de subir a montanha. Caso queira, há serviço de micro ônibus, levando e trazendo turistas a todo momento. O valor da ida e volta de ônibus é de U$ 19,00 (Dezenove Dólares) por pessoa.
Chegamos a Machu Picchu e a aglomeração de turistas era enorme. Acertamos com a guia Érica o valor de U$ 60,00 (Sessenta Dólares). O conhecimento e experiência do guia vale todo o passeio. De nada adianta chegar ao grande destino da viagem e não reconhecer os lugares ou entender sua distribuição, modo de vida, os porquês que buscamos. E por mais que você leia, assista filmes e se informe, ao chegar no local ficará encantado e ao mesmo tempo perdido. O passeio guiado durou cerca de 2 horas e percorremos detalhadamente toda a cidade, com as devidas explicações.
Para nossa surpresa, o tempo estava encoberto, mas a chuva havia parado. De um momento para outro o tempo melhorava e encobria na mesma velocidade, mas mesmo assim o cenário é encantador. Ficamos até o início da tarde contemplando, revisitando e despedindo da maravilhosa Machu Picchu.
Aguas Calientes parece ser encantadora. Além dos banhos termais, a cidade atrai turistas de todo o mundo. Por isso os preços são bem salgados, digamos, preço pra europeu. A dica é levar água e lanches.
O trem retornou de Aguas Calientes até Ollantaytambo ao final da tarde, e a viagem incluiu um divertido desfile de costumes e roupas peruanas de muito bom gosto, confeccionadas com a lã de llama, alpaca e ovelha de qualidade internacional. Preço também..rs..rs..rs.
Adivinha quem encontramos em Machu Picchu? Sim, os amigos brasileiros das 7galo.
Ollantaytambo até Puno, à beira do Lago Titicaca
Nosso retorno iniciava neste momento. Retornamos a Cuzco contemplando o Valle Sagrado. O altiplano andino é lindo. Andamos aos 4000msnm em lindas paisagens, de montanha, deserto e neve eterna nos morros mais altos, as vezes até perto da estrada.
Adivinha quem encontramos na estrada? Sim, os amigos de 7galo. Avistamos as motos num restaurante e paramos para almoçar. Risada e mais risada. Acompanhamos a turma por um tempo, mas logo nos despedimos e seguimos.
Viagem extremamente agradável, com temperatura amena de 15°C mudou. A chuva trouxe frio e as temperaturas caíram para a casa dos 5°C. Achei que teríamos neve, mas não ocorreu o fenômeno.
Atravessamos a cidade de Juliaca, poucos kilômetros antes do nosso destino, Puno. Imagina uma bagunça de trânsito, com chuva. Sofremos para achar a saída usando muito o PPS, Pergunte Pra Saber.
Na chegada em Puno, blitz geral. Fomos abordados pelo policial, mostramos os documentos, SOAT e fomos liberados. Achei que haveria propina, mas não. Tranquilo.
A cidade de Puno é altamente turística, mas o centro é antigo, velho, digamos desleixado. Pelo dia difícil, merecíamos um hotel bom. Encontramos à beira do lago um preço justo.
Puno – Lago Titicaca
A manhã foi reservada para visitarmos as ilhas flutuantes de Uros. Pegamos o barco no porto, próximo ao centro.
Adivinha quem entrou no mesmo barco? Sim, os brasileiros das 7galo. Risadas e mais risadas, foram abordados pelos policiais na entrada de Puno e tiveram que dar propina$$$. Por um momento, chegamos a pensar que estes 4 amigos aventureiros eram enviados de nossas famílias para nos cuidarem na viagem pois havia 7 dias que nos encontrávamos diariamente. Divertidíssimo. Valeu grande turma do planalto central. Mostraram que as 7galo são fortes e valentes.
As ilhas de Uros são um mundo à parte. É uma cultura milenar que vida no lago para evitar as brigas entre tribos em terra firme. Desenvolveram inicialmente a vida em cima de barcos e posteriormente adaptaram esta técnica para construir plataformas flutuantes. Unidas umas às outras, forma-se uma ilha.
Hoje este povo vive praticamente do turismo, mas mantém seus hábitos e modo de vida. Valeu muito a pena. Lindo, encantador, uma cultura quase perdida.
Puno-Peru até Copacabana-Bolívia
A viagem entre Puno e Copacabana é lindíssima, beirando o lago Titicaca que parecia refletir o azul do céu em suas águas. A cidade de Copacabana fica próxima da fronteira Peru-Bolívia.
No cruze de fronteira, tivemos que realizar uma série de procedimentos, para nós pessoa física e para o veículo. Novamente Xerox de documentos, que podem ser tirados nas lojinhas anexas.
Na aduana Boliviana, mesma coisa. Procedimento pra nós e para a moto, Xerox e preenchimento de fichas. Não é necessário seguro veicular obrigatório para período inferior a 30 dias na Bolívia.
Copacabana nos surpreendeu. Agradável, bonita, com ar de cidade de praia, na beira do lago existe uma praia, cheia de barracas que vendem trutas. Como estávamos em baixa temporada, pudemos escolher um ótimo hotel, de frente para o lago, a um preço justíssimo. Aliás, o melhor hotel da viagem.
De Copacabana há barcos e passeios para a Isla del Sol, local sagrado para a cultura Inca pois, acredita-se, ali nasceram os primórdios desta cultura e do homem Inca. Também há ruínas e passeios para no mínimo uma manhã ou tarde.
Copacabana até Cochabamba
A despedida do Lago Titicaca se deu através de uma balsa.
Nos dirigimos para La Paz, cerca de 200 km de Copacabana. Muitas informações negativas sobre La Paz nos deixaram apreensivos. E com razão. A cidade pode ser resumida como uma mar de casas de tijolos aparentes, sem qualquer acabamento ou pintura, cobertas com teto de zinco. Os reflexo do sol incomoda, mas o trânsito é muito pior. A certa altura, paramos e pedimos informação para um policial que estava de moto. Gentilmente ele mandou que o seguíssemos e nos levou até o caminho correto, uma espécie de contorno viário dentro da cidade. Nos mantivemos neste caminho principal e não tivemos problemas em sair da cidade. Quer dizer, o trânsito é o problema.
Como abastecer na Bolívia? O governo de Evo Morales nasceu para criar igualdade, certo? Errado. Lá turista paga 3x mais pela gasolina. Isso mesmo. Os postos cobram uma dita taxa e não abastecem fora desta condição. O valor da gasolina, de cerca de R$ 1,20 a R$ 1,30 pula pra quase R$ 4,00. Ótimo para o turismo, não acha?
Pior que isso é a polícia boliviana. Cada vez que vê um estrangeiro, morde a propina. Temos vários vídeos gravados.
Entre La Paz e Cochabamba cruzamos a Cordilheira dos Andes. A estrada está em reforma e duplicação, por isso toda atenção. Não tivemos chuva na Cordilheira, mas um susto enorme. A estrada estava bloqueada para nossa passagem, descendo a cordilheira, em apenas uma das mãos. O trânsito no sentido contrário fluía apenas em uma das pistas. O muchacho liberou nossa passagem, e iniciamos o deslocamento com cuidado. Ao entrar em uma curva à direita nos deparamos com um caminhão subindo pela mesma pista. Não havia espaço para o caminhão e a moto. Literalmente paramos a moto à beira da estrada, na borda direita, quase na valeta, e o caminhão passando ao nosso lado, com a carreta encostando, raspando no alforje esquerdo. Não entendemos como não caímos nesta hora….”las manos de Dios”…..
Cochabamba é uma cidade grande, uma das mais importantes da Bolívia ao lado de La Paz e Santa Cruz de La Sierra, a cerca de 2400msnm. Encontramos um hotel no centro. Karol subiu e eu iniciei a revisão da moto e troca das pastilhas de freio traseiras. Também arrumamos o jeitinho brasileiro de comprar gasolina sem ágio para estrangeiros. Parei um taxista, entreguei nosso galão vazio e pedi que o enchesse no posto e retornasse, lhe pagando a respectiva corrida. Assim, enchemos o tanque e nossa reserva pelo preço justo.
Cochabamba até Santa Cruz de La Sierra
A saída de Cochabamba para Sta. Cruz é parte final da descida da Cordilheira dos Andes, junto a floresta. Tem-se a impressão que não se para de descer. A estrada está ruim, com diversos pontos de deteriorados, barrancos caídos e alguns pontos de remendo. Parece o Brasil neste trecho. Só paramos de descer quando atingimos a planície do pantanal boliviano.
As dicas para abastecer não param por aí. Se você observar um galão de combustível em frente a qualquer estabelecimento, pode parar que tem venda de gasolina. Pode ser uma lanchonete na beira da estrada, uma loja de ferramentas, um postinho de troca de óleo. Creio que o Evo Morales desenvolveu este comércio informal e estocagem ilegal de combustível justamente para alavancar a renda destas pessoas. Legal né…
Chegamos a Sta Cruz cedo, com sol alto, descansados. O objetivo era dormir por ali. A cidade é industrializada, pavimentada, nos pareceu muito organizada para os padrões bolivianos. Digamos, uma exceção..rs..rs. Mas resolvemos tocar em frente, aproveitar a luz do dia. Sabíamos da dificuldade de pouso à beira da estrada, mas seguimos.
Cerca de 100 km rodados e a estrada ficava cada vez mais vazia. Comecei a enrolar o cabo pois o fim da tarde estava próximo e no horizonte o céu estava preto. Não demorou e a tempestade chegou. Percorremos 150km após Sta Cruz e estávamos em uma vila. Paramos a moto e conversamos com uma garoto em uma bicicleta, questionando onde poderíamos nos abrigar, hotel, alojamento, lanchonete, qualquer coisa. Ele indicou uma lanchonete há poucos metros. Foi o tempo de chegar, colocar a moto embaixo da cobertura da lanchonete e o mundo veio abaixo na forma de chuva e vento, temporal dos feios. Ali chegamos, ali ficamos. Dormimos por ali mesmo, em um quarto que futuramente será uma pousada. A vantagem é que estava limpo, mas o cenário era de guerra. Barro, sujeira, lixo por todo o terreno.
Rumo ao Brasil
Deste ponto até a cidade de Porto Suares/Bolívia e Corumbá/Brasil a estrada é ótima, construída de concreto, completamente deserta. Creio que cruzamos uns 20 carros em 450 km de estrada. E cuidem-se com abastecimento, pois não há postos. O único que encontramos, paramos e, conversando com o proprietário, o mesmo encheu nosso galão de gasolina ao preço boliviano. Estacionamos a moto fora do pátio do posto e completávamos o tanque da moto com a gasolina do galão. Aos viajantes, cuidado extremo com animais na pista. Vimos diversos bovinos ao longo de todo o trajeto.
Porto Suarez é um destino de compras de muitos brasileiros, especialmente da região centro-oeste, mas também São Paulo. Sim, o contrabando de eletrônicos e outras cositas más mantém o local ativo.
A fila na fronteira era enorme, fruto destes turistas e da fiscalização. Já cansados, cruzamos a fronteira sem dar baixa nos documentos bolivianos….rs.rs.rs.rs… acho que estamos na lista negra da Bolívia, personas não gratas….também não queremos mais ir pra lá….dispensável. Talvez o Salar de Uyuni.
Tocamos mais 200km desde a fronteira até a cidade porta do pantanal mato-grossense, Miranda. Esta rodovia é denominada Estrada Parque Pantanal pois corta a região estando ligeiramente mais elevada que o restante do terreno. Assim, na época das cheias, as águas não atingem o asfalto. Dá pra ver inúmeros animais do habitat pantaneiro. Contamos alguns, como veado, garças, uma família de capivara com a mamãe e seus filhotes e muitos, muitos jacarés. Paramos pra bater fotos destes incríveis bichos em seu habitat.
Miranda até Toledo
De Miranda para Maracaju pegamos um trecho de 60km de estrada de terra, boa pra andar, de chão bem batido. De Maracaju para Dourados e daí pra frente o mesmo caminho da vinda.
Chegamos em Toledo ao final da tarde. Que cidade agradável, bonita, organizada, planejada, de avenidas amplas e largas, povo educado. A noite fomos para o lago e surpreendentemente não havia carros parados ouvindo som alto como tipicamente temos em Chapecó. Creio que Toledo deve servir de exemplo para demais cidades deste porte.
Toledo até Chapecó
O mesmo trecho de estrada ruim entre Cascavel e Ampere. Foi um trecho de sentimento ambíguo, alegria de retornar ao lar após esta maravilhosa aventura e despedida destes 24 dias de estrada.