O QUE É E QUAL SUA IMPORTÂNCIA?
O Canal de Suez se encontra no Egito, na Península do Sinai, e é considerado a rota marítima mais rápida entre a Ásia e a África por ligar o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O Canal possui grande valor econômico e geopolítico, visto que é responsável por cerca de 12% do comércio global e já foi palco de diversos conflitos árabe-israelenses. Sua importância fica ainda mais evidente quando comparado com o percurso que, inicialmente, era feito pelas embarcações: o continente africano era contornado quase que por completo.
HISTÓRIA
Em um contexto histórico, a ideia da construção de um canal como o de Suez surgiu há cerca de 3200 a.C., numa tentativa do Faraó Ramsés de ligar o Rio Nilo ao Mar Vermelho, para facilitar as caravanas. Posteriormente, o pai de um rei persa, Dario, continuou tal obra. Ela foi denominada Canal dos Faraós, mas a diferença do nível da água entres ambos os extremos impossibilitou seu
uso.
O Rei Ptolomeu II, com o auxílio de gregos, desenvolveu o sistema de eclusas. As eclusas permitem a passagem de navios de regiões mais profundas para mais rasas, ou vice-versa. Elas atuam como uma espécie de elevador controlado por válvulas que aproveitam o peso da própria água. Todavia, esse sistema foi modificado, destruído e reconstruído diversas vezes, até que foi abandonado, no século VIII.
Eclusas:
Em 1850, a França iniciou estudos a fim de ligar o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho; desta vez, seria um atalho entre dois continentes que poderia diminuir até 7 mil quilômetros de viagem. Em 1859, foi criada a Companhia de Suez, e mais de 1,5 milhões de pessoas trabalharam na construção. As obras duraram 10 anos e resultaram em um canal de 164 quilômetros de extensão, 200 metros de largura e 8 metros de profundidade. A primeira travessia foi feita em 17 de fevereiro de 1867, mas a inauguração ocorreu somente em novembro de 1869. Em 1885, por sua vez, o rei do Egito vendeu o Canal de Suez para o governo britânico para pagar suas dívidas.
No ano de 1888, surgiu a Convenção de Constantinopla, que declarava a neutralidade do canal, ou seja, qualquer nação poderia utilizá-lo. Além disso, no decorrer da Primeira Guerra, houve um acordo secreto entre o Reino Unido e a França, que dividiram o Oriente Médio — tal divisão permanece até hoje na fronteira entre Iraque e Síria. A partir dessa separação, o canal ficou sob controle europeu.
CONFLITOS GEOPOLÍTICOS
O Canal de Suez é um importante fator geopolítico que já foi envolvido em diversos conflitos, tanto ocidentais quanto orientais. Em 1956, o presidente do Egito nacionalizou a Companhia do Canal de Suez e se uniu aos socialistas, como uma forma de se posicionar contra a influência europeia sobre o canal. Esse atrito culminou na Guerra da Argélia, que exigiu a intervenção das Nações Unidas e resultou na legitimidade egípcia.
Houve episódios do conflito árabe-israelense que também envolveram o Canal de Suez: a Guerra dos Seis Dias e a Guerra de Yom Kippur. A primeira, apesar de durar menos de uma semana, provocou o fechamento da rota marítima por oito anos (1967 a 1975). “Eles [Egito] achavam que interromper o fluxo de petróleo e o comércio internacional forçaria europeus e americanos a reavaliar suas posições em relação ao Oriente Médio”, diz Lincoln Paine, um especialista em história marítima, em uma entrevista à BBC.
NOVO CANAL DE SUEZ
No ano de 2015, o Egito começou um projeto de modernização do canal que ampliaria sua capacidade de 49 para 97 navios, com investimento de cerca de US $7,9 bilhões. O “Novo Canal de Suez”, como foi nomeado, seria uma demonstração da força político-econômica do país e contribuiria para a geração de empregos e aumento de renda.
EVEN GIVEN: INTERDIÇÃO DO CANAL — 2021
Em 23 de março deste ano (2021), o navio cargueiro Ever Given da companhia Evergreen encalhou no Canal de Suez e obstruiu ambos os sentidos do tráfego; ele ia da China para a Holanda. Hipóteses apontam que o incidente pode ter ocorrido em razão de fortes rajadas de vento, excesso de velocidade ou até mesmo por causa de falhas humanas na montagem do cargueiro. A rota marítima ficou bloqueada até segunda-feira, 29 de março.
A Lua cheia pode ter sido um dos principais fatores que ajudaram na retirada do cargueiro. O fenômeno da “Maré de Sizígia” consiste no alinhamento da Terra, da Lua e do Sol e ocorre em luas cheias ou novas, sendo responsável por aumentar a atração gravitacional, inclusive sobre a massa oceânica; consequentemente, o nível do oceano em determinadas localidades também aumenta. Esse processo, juntamente com tentativas de drenagem, foi essencial para a resolução do problema.
Mas quais as consequências da obstrução do Canal de Suez? Segundo a Bloomberg, empresa líder global de dados financeiros e notícias, a circulação de US $9,6 bilhões foi interrompida, o que equivale a mais de R $50 bilhões. Houve um congestionamento de duzentos navios e um prejuízo de US $400 milhões por hora.
Outro ponto é o aumento da ação pirata na costa leste africana. Além disso, é provável que todo o globo seja afetado: na Ásia, já falta café solúvel, e, na Europa, peças de automóvel. O preço dos produtos também tende a subir, e, em um futuro próximo, as consequências poderão ser vistas até mesmo no Brasil.
Por: Luana Rosa.
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