Vinicius Pontes, acadêmico do 5° semestre de Relações Internacionais

Cazuza foi um cantor e compositor nascido em 1958, no Rio de Janeiro. O artista era conhecido por ser uma personalidade extremamente irreverente e a frente do seu tempo, pois tinha uma postura diferente em relação a assuntos considerados tabus na sociedade brasileira do período. 

Pode-se citar como exemplo disso, o fato do cantor ter assumido sua bissexualidade em entrevistas, assunto que era muito mais delicado na época em questão, e o momento em que cuspiu em uma bandeira do Brasil durante uma de suas apresentações.

Cazuza iniciou verdadeiramente sua carreira na música no auge da ascensão do rock nacional, o qual ocorreu durante os anos 80 quase no fim do período de Ditadura Militar. Com letras politicamente engajadas e profundamente inspiradas por gêneros musicais como o punk, o post-punk e o New Wave, lendas da música brasileira surgem neste período. Entre estas, surge o “Barão vermelho”, banda que Cazuza fez parte até o ano de 1984.

 Após esse ano, Cazuza iniciou uma forte carreira solo, se consagrando como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Em seus celebrados quatro álbuns de estúdio, o músico escreveu principalmente acerca de amor, desilusão, política e problemas pessoais.

Em seu terceiro álbum, intitulado Ideologia, somos apresentados a uma visão mais profunda do músico acerca da sua relação com a sua sexualidade, com a AIDS, a  política e outras questões importantes. Sendo considerado por muitos, seu melhor álbum. 

 Ideologia

O meu prazer

Agora é risco de vida

Meu sex and drugs

Não tem nenhum rock ‘n’ roll

A forma que o cantor tenta questionar as estruturas sociais e heteronormativas pode ser diretamente relacionada com as teorias mais recentes das Relações Internacionais (RI). Teorias estas, que buscam romper com o positivismo de teorias como o Neorealismo e o Neoliberalismo, que possuem uma tendência de legitimar estruturas hegemônicas em suas análises. (SARFATI,2005).

Por exemplo, pode-se citar a Teoria Queer, teoria das RI que busca analisar e questionar as estruturas heteronormativas da sociedade. Para Judith Butler (2003), uma das principais expoentes da vertente, a ideia de que simples atos definem um ser humano como “homem” ou “mulher” é equivocada, pois diversas forças sociais nos pressionam a agirmos como tal. Ou seja, não existe identidade de gênero por trás das expressões de gênero.

Dessa forma, é possível notar que não só a obra de Cazuza continua importante na contemporaneidade, mas também seus ideais, suas ações, sendo um artista essencial para a construção da música brasileira, com letras extremamente tocantes e politicamente embasadas.

Referências:

BUTLER, Judith. Gender trouble: Feminism and the subversion of identity. New York: Routledge, 1990.

BUTLER, Judith. Bodies that Matter: on the discursive limits of sex. Nova York: Routledge, 2003.

MERCHER, Leonardo. “Teoria Queer e Relações Internacionais: análise da permeabilidade acadêmica de gênero no Brasil| Queer Theory and International Relations: analysis of gender academic permeability in Brazil.” Mural Internacional 8.2 (2017): 150-164.

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.