Vamos à Casa do Senhor

Gladir Cabral

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Aprendi na infância um cântico bem antigo baseado nas palavras do Salmo 122 que dizia: “Alegrei-me quando me disseram / Vamos, vamos à casa do Senhor”. O cântico agregava as palavras das Escrituras a uma doce melodia e a gestos feitos com os dedos. Eu devia ter uns cinco ou seis anos de idade, mas guardo letra e música na memória até os dias de hoje.

A alegria de ir à casa do Senhor é uma experiência preciosa na história de uma pessoa. Entretanto, ao longo da vida e por muitas razões, essa alegria pode ser perdida. Muitos já não veem sentido em ir à casa do Senhor, e muitos outros se perguntam: onde é a casa do Senhor? Já não identificam a igreja local, a denominação eclesiástica como casa do Senhor. Sentem-se melhor fazendo suas orações sozinhos, em casa mesmo. Não foi isso mesmo o que Jesus sugeriu? – “Quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” (Mt 6.6). E a Escritura não diz que nosso corpo é templo do Espírito? E por aí vão os pensamentos.

É muito importante que tenhamos nossa vida devocional ativa em casa, na intimidade de nosso lar, de nossos pensamentos, de nossa interioridade. Mas é preciso lembrar que há uma dimensão comunitária na vida cristã. O cristianismo não é uma filosofia de vida individualista, embora muitas versões do cristianismo tenham fortes tendência para o isolamento e para o individualismo. Fomos chamados para viver em comunhão, para conviver ao lado de outras pessoas, para recebê-las em casa, para visitar outras casas, para conversar, ouvir, aprender, ensinar uns aos outros. A fé vivida apenas ao nível de nossa interioridade não cumpre plenamente os propósitos daquele que nos chamou e nos presenteou com tantos dons espirituais.

Evidentemente, esse chamado à comunhão vai além da freqüência aos cultos e à escola dominical, pois os encontros eclesiásticos também podem se tornar bastante solitários e formais. Comunhão de fato implica convivência e interação com qualidade. Dessa maneira pode haver edificação mútua. Há que se ir à casa do Senhor para ali ser edificado pelos irmãos e também edificá-los. Se cada um de nós ficar no seu canto, não haverá aprendizado, troca, mútua edificação. A Igreja é esse espaço privilegiado de crescimento espiritual, evidentemente não para ficar numa estufa, num processo eterno de engorda, entre quatro paredes, mas para levar adianta a tarefa de transmissão daquilo que nos foi anunciado.

É preciso também que haja proclamação do evangelho. A Igreja concentra esforços e oportuniza ações articuladas no sentido de anunciar a mensagem de Cristo. É o próprio Paulo que nos faz refletir: “como crerão se não há quem pregue”. A fé vem pelo ouvir, isto é, alguém precisa sair de sua interioridade e ocupar o espaço público, o espaço da realidade social, onde ocorre o encontro com outras pessoas. O evangelho se propaga pela pregação, pelo testemunho verbal e de vida, não pela geração espontânea ou pela intuição.

Finalmente, é preciso que haja adoração e louvor. E embora se possa muito bem louvar ao Senhor individualmente, e isso deve ser feito, as Escrituras (Salmos, evangelhos, Atos e Apocalipse) falam muito de oração comunitária, de pessoas reunidas para adorar ao Senhor. Por isso o convite é sempre renovado a nós: “Vamos à casa do Senhor!”


Publicado no Boletim da IP Trindade em 15.02.2009

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