Fauna e Flora

Fauna:

Levando-se em consideração a enorme dimensão da floresta Amazônia, conhecer todas as espécies de animais não é algo simples. É amplamente aceito que a fauna e a flora amazônica não foram documentadas em sua totalidade, não há uma contagem total para a região e novas espécies são frequentemente inventariadas¹. A Amazônia é o bioma brasileiro com maior riqueza de espécies da fauna, abrigando mais de 73% das espécies de mamíferos e 80% das de aves existentes no território nacional².

São cerca de trinta milhões de espécies animais³, sem contar com as ainda não catalogadas. Não há uma definição exata das quantidades de animais, uma vez que o bioma se estende por vários países. No Brasil, são ao menos 311 mamíferos, 1.300 aves, 273 répteis, 232 anfíbios e 1800 peixes continentais⁴. Nos rios podem ser encontrados mamíferos como o boto cor-de-rosa e o tucuxi, o peixe-boi da Amazônia, ariranhas e lontras. Em meio à floresta, pode-se encontrar onças pintadas (ameaçadas de extinção), tamanduás, e uma quantidade enorme de primatas como macacos-prego, macacos-aranha, curiús, macacos-barrigudos e guaribas. Segundo o ICMBio, o bioma abriga 10% das espécies de primatas do mundo.

Há uma grande diversidade de peixes no bioma, como o pirarucu, piraíba, piranha, piramboia, peixe-borboleta, tubarões, enguia elétrica, e arraias. A variedade de peixes é tão grande, que o bioma contém 85% das espécies de toda a América do Sul, são aproximadamente 2.0005. Os répteis também são abundantes na Amazônia: jacarés (incluindo o jacaré-açu – o maior de todos os jacarés, com tamanhos de até 6 metros de comprimento), tartarugas, lagartos e serpentes, como a sucuri, a famosa Anaconda, que já foi protagonista de filmes e que assusta pelo tamanho gigantesco que pode alcançar.

Além disso, há muitos anfíbios que povoam as águas e solos da Amazônia. São sapos, rãs e pererecas de diversos tamanhos e cores. No céu, podemos encontrar grande variedade de aves, como tucanos, periquitos, araras-vermelhas, uirapurus etc. No entanto, o número maior de espécies fica a cargo dos artrópodes (que englobam, principalmente, insetos, aracnídeos e crustáceos), estima-se que são 2,5 milhões de espécies. Ou seja, ao caminhar pela floresta, certamente você irá se deparar com esses bichos de todo tipo, nas mais variadas cores e tamanhos. É uma infinidade de besouros, borboletas, mariposas, formigas, aranhas, moscas, abelhas, vespas etc.⁵

Os povos da Amazônia se alimentam da fauna de maneira sustentável, há muitas gerações, por meio da caça e pesca. No entanto, há também diversos relatos de usos medicinais e ritualísticos de animais e de seus produtos. Por exemplo, a gordura do peixe-boi é usada para fazer pomadas. O veneno da rã-kambô (Phyllomedusa bicolor) é usado por alguns grupos indígenas na Amazônia para tratar diversas doenças⁶. Formigas tucandeira (Paraponera clavata)⁷ – que possuem uma ferroada bastante dolorida – são usadas em rituais de passagem da idade jovem para adulta pelo povo indígena Sateré-Mawé, nos quais os jovens colocam as mãos em luvas cheias dessas formigas, para que sejam ferroados, demonstrando sua coragem e resistência à dor. Tem-se ainda, mais contemporânea, a bototerapia, uma prática terapêutica que alia técnicas de fisioterapia e a interação com os botos cor-de-rosa para o tratamento de pessoas com problemas motores⁸.

E cuidado! Em noites de festa junina no interior da Amazônia, as mulheres podem ser encantadas por um rapaz bonito que as engravidará, e nunca mais será visto, pois na verdade é um boto cor-de-rosa que depois do ocorrido irá sumir nas águas de onde veio. O maior dos golfinhos de rio, que pode chegar a 2,55 metros de comprimento e 185 quilos, faz parte do imaginário do povo amazônico: a famosa lenda do boto cor-de-rosa (Inia geoffrensis)⁹. Se é verdade ou não, muitas acham melhor não se arriscar. Essa lenda é só mais uma expressão dessas terras onde coexistem animais de todos os tipos.

Flora:

A Amazônia é conhecida principalmente por sua floresta que se destaca pela extensão que ocupa, pela robustez e diversidade da vegetação e pela beleza de flores e frutos. Muitos estudiosos, cientistas e curiosos visitaram e visitam o bioma no intuito de conhecer sua singularidade e seus mistérios. Nesse cenário, importante lembrar de Margaret Mee¹, ilustradora inglesa, apaixonada pela floresta e que muito bem a retratou em suas obras, e é conhecida pelo feito de ter demorado 24 anos para encontrar a flor da Lua, uma rara espécie amazônica que floresce somente uma noite por ano.

Assim como Margaret, muitos buscam conhecer as belezas escondidas dentro da Amazônia. A totalidade exata de espécies ainda é um mistério, o que se sabe são estimativas que aumentam a cada dia. Segundo o MMA, as árvores de grande porte totalizam 2.500 espécies (1/3 de toda a madeira tropical do mundo) e são mais de 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul)². São mais de 2.000 espécies de plantas identificadas como de utilidade na alimentação e na medicina, bem como na produção de óleos, graxas, ceras, etc.³

O que mais chama a atenção quando se chega na floresta é o tamanho das árvores. É mágico se deparar com uma Samaúma, considerada sagrada para muitos povos, cujo tronco é muito volumoso. Suas raízes aparentes constituem uma base firme para a árvore e, inclusive, são usadas por índios para se comunicar a quilômetros de distância – ao bater nas raízes produz-se um alto e grave som. Por outro lado, imagine uma árvore de 88 metros de altura, quase do tamanho de um prédio de 30 andares: assim é a maior árvore registrada no bioma, um Angelim Vermelho (Dinizia excelsa), localizada em um santuário de árvores gigantes, na divisa do Pará com o Amapá⁴.

Outras árvores amazônicas são muito conhecidas pelos seus frutos. Seja a majestosa castanheira, cujos frutos, chamados de ouriços, são utilizados para a produção de artesanatos, e as castanhas apreciadas por todo o mundo. É uma infinidade de árvores de grande importância no bioma, dentre elas: o açaí, a seringueira, andiroba, pupunha, mogno, cedro, cacau, cupuaçu, guaraná e tucumã. Suas utilidades para o povos locais são muitas, desde alimentação, geração de renda, uso da madeira, resinas e látex, utilização nos preparos medicinais e ritualísticos, até a presença no imaginário popular, em contos, lendas e causos.

Um bom exemplo disso, é a singularidade da vitória-régia, a flor símbolo da Amazônia, que nos convida a mergulhar em um universo de belezas exóticas. Essa espécie é considerada uma das maiores plantas aquáticas do mundo, da qual há relatos de usos medicinais e na culinária. Dela brota uma flor de beleza inigualável, fonte de inspiração para a lenda popular que narra que uma jovem indígena que tanto admirava a Lua sumira depois de tentar tocá-la no seu reflexo nas águas de um rio. A Lua sentiu pena daquela jovem, agora perdida, e a transformou em uma a vitória-régia, uma flor gigante, com pétalas que se abrem nas águas para receber a luz da Lua⁵.

Nas terras Amazônicas, é comum ouvir falar nos famosos pratos⁶ pato no tucupi e no tacacá, uma espécie de sopa feita com tucupi (molho feito de mandioca brava), camarões e folhas de jambu (uma hortaliça que deixa a boca dormente). Aliás, essas folhas também são usados para fazer a famosa cachaça de jambu e há relatos da sua utilização na medicina popular, devido a seu efeito anestésico⁷. Alimento que ganhou o Brasil e até outros países, não podemos deixar de lado o famoso açaí, um fruto altamente nutritivo que ganhou muitos adeptos da alimentação saudável. Pela Amazônia é consumido com farinha de tapioca e peixe, mas se espalhou pelo Brasil na sua versão doce, preparada de diversas formas, principalmente com banana e xarope de guaraná.

Falando nele, o guaraná também vem da Amazônia. Segundo o folclore amazônico⁸, ele teve sua origem a partir da morte de um menino indígena, assassinado pela divindade do mal. Tupã, então, orientou sua mãe a enterrar os olhos do menino nas proximidades da aldeia, onde tempos depois brotou uma planta, cujas sementes se assemelham muito a olhos humanos. Esse pequeno fruto tem propriedades estimulantes, é usado em pó, como xarope, em medicamentos e, além disso, como matéria-prima do famoso refrigerante que leva o seu nome.

Assim, a floresta Amazônica nos encanta com todas suas belezas, cores e sabores sem fim. Com diferentes troncos, folhas grandes e pequenas, de todas as formas e texturas, flores e frutos para todos os gostos. Toda a diversidade que a floresta tem é presença viva no imaginário popular, revelando uma relação antiga entre as plantas e os povos da floresta. Buscar compreender seus mistérios é romper os limites que separam a humanidade da natureza. É aceitar que, sim, a vitória régia deve ser preservada, pois mais do que uma belíssima flor, símbolo da Amazônia, é uma índia que morreu ao venerar a Lua.

Referências (Fauna):
(1) PNUMA/OTCA. Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia: Geo Amazônia. 2008. Disponível em <www.mma.gov.br/estruturas/PZEE/_arquivos/geoamaznia_28.pdf>. Acesso em 17 dez. 2019.
(2) ICMBio. Livro Vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018. Disponível em <www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187>. Acesso em 21 jan. 2020.
(3) EMBRAPA. Contando Ciência na WEB. Bioma Amazônia. Disponível em www.embrapa.br/contando-ciencia/bioma-amazonia. Acesso em 21 jan. 2020.
(4) PNUMA/OTCA. Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia: Geo Amazônia. 2008. Disponível em <www.mma.gov.br/estruturas/PZEE/_arquivos/geoamaznia_28.pdf>. Acesso em 17 dez. 2019.
(5) CÂMARA DOS DEPUTADOS. Mais Informações sobre a Amazônia Legal. Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia. Disponível em <www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cindra/amazonia-legal/mais-informacoes-sobre-a-amazonia-legal>. Acesso em 15 abr. 2020.
(6) VENTAS, Leire. O veneno de rã que é usado como remédio na Amazônia. BBC – News Brasil. BBC Mundo: 14 de mai. de 2016. Disponível em <www.bbc.com/portuguese/geral/2016/05/160509_sapo_amazonia_remedio_mv>. Acesso em 15 abr. 2020.
(7) Ritual da Tucandeira: grupo indígena se prepara para reaver terras ancestrais. InfoAmazônia. 26 de jun. de 2019. Disponível em <infoamazonia.org/pt/2019/06/portugues-ritual-da-tucandeira-grupo-indigena-se-prepara-para-reaver-terras-ancestrais/#!/story=post-19549>. Acesso em 15 abr. 2020.
(8) Botos ajudam no desenvolvimento de jovens com problemas motores. Globo News. 15 de out. de 2013. Disponível em <g1.globo.com/globo-news/noticia/2013/10/botos-ajudam-no-desenvolvimento-de-jovens-com-problemas-motores.html>. Acesso em 15 abr. 2020.
(9) HOLLATZ, Claudia. Diversidade molecular do boto-rosa (Inia geoffrensis) da Amazônia brasileira e do boto-cinza marinho (Sotalia guianensis) da Baía de Sepetiba e Paraty. 89p. Tese (Doutorado em Genética) – Instituto de Ciências Biológica, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. Disponível em <www.pggenetica.icb.ufmg.br/defesas/73D.PDF>. Acesso em 15 abr. 2020.

Referências (Flora): 
(1) SILVA, Laura Montserrat. Margaret Mee e a Ilustração Científica. Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes – ECA/USP. Disponível em <www2.eca.usp.br/cms/index.php?option=com_content&view=article&id=66:margaret-mee-e-a-ilustracao-cientifica&catid=14:folios&Itemid=10>. Acesso em 15 abr. 2020.
(2) MMA. Bioma Amazônia. Ministério do Meio Ambiente, 2019. Disponível em: <www.mma.gov.br/biomas/amaz%C3%B4nia>. Acesso em 17 dez. 2019.
(3) PNUMA/OTCA. Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia: Geo Amazônia. 2008. Disponível em <www.mma.gov.br/estruturas/PZEE/_arquivos/geoamaznia_28.pdf>. Acesso em 17 dez. 2019.
(4) ALEIXO, Rafael. Santuário com árvore que chega a 88 metros foi descoberto na divisa do Amapá com o Pará. Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia. Governo do Estado do Amapá. 03 de set. 2019. Disponível em <www.setec.ap.gov.br/noticia/0309/santuario-com-arvore-que-chega-a-88-metros-foi-descoberto-na-divisa-do-amapa-com-o-para>. Acesso em 17 dez. 2019.
(5) A lenda da Vitória Régia, fruto da paixão de Naiá pela Lua. Disponível em < www.xapuri.info/cultura/mitoselendas/lenda-vitoria-regia-paixao-naia-lua>. Acesso em 17 dez. 2019.
(6) ARIMA, Kátia. 12 deliciosos pratos típicos da Amazônia. Revista Viagem. Manaus, 08 de nov. 2019. Disponível em <deviagemeturismo.abril.com.br/materias/fotos-12-deliciosos-pratos-tipicos-da-amazonia/>. Acesso em 17 dez. 2019.
(7) Planta Eclética. Pesquisa Fapesp. Edição 263. Jan. 2018. Disponível em <revistapesquisa.fapesp.br/2018/01/16/planta-ecletica/>. Acesso em 17 dez. 2019.
(8) BRUMATTI, Gabriela. Dia do folclore: conheça a lenda do guaraná. Globo, 2018. Disponível em < https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2018/08/22/dia-do-folclore-conheca-a-lenda-do-guarana.ghtml>. Acesso em 17 dez. 2019.