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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional
Abram Szajman Diretor Regional
Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial
Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo
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© Gustavo Piqueira © Edições Sesc São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados Texto e imagens Gustavo Piqueira Capa e Projeto gráfico Gustavo Piqueira e Samia Jacintho/Casa Rex Diagramação Gustavo Piqueira e Carol Vapsys/Casa Rex Revisão Trisco Comunicação, Ísis De Vitta
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) p666
Piqueira, Gustavo A pirâmide do Piques: São Paulo narrada pelo Largo da Memória / Texto e imagens de Gustavo Piqueira. – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020. – 256 p. il. isbn 978-65-86111-03-3
1. São Paulo. 2. Memória. 3. Largo do Piques. 4. Largo da Memória. I. Título. cdd 980.81
Edições Sesc São Paulo Rua Serra da Bocaina, 570 - 11º andar 03174-000 - São Paulo SP Brasil Tel. 55 11 2607-9400 edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes /edicoessescsp
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ENCRUZILHADA DE TEMPOS
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. Pierre Nora
Uma cidade é trama de presenças heterogêneas: pessoas, lugares, edificações, modos de viver, formas de expressão, circuitos de bens variados, entre tantas outras. Além da diversidade que as caracteriza, tais presenças são percebidas com maior ou menor vigor a depender do contexto, do ponto de vista e dos interesses em jogo. Para tentar abarcar essa complexidade, foram mobilizadas áreas do conhecimento também diversas, da geografia ao urbanismo, da história à antropologia, dos estudos culturais às artes. Nas últimas décadas, tem merecido especial atenção um olhar direcionado às camadas de tempo que configuram as cidades, subvertendo agendas orientadas exclusivamente para o futuro – a memória urbana está em pauta. Isso coincide com a crise da própria ideia de cidade. Crescimento desmedido, desigualdade galopante, exaustão dos modelos socioeconômicos vigentes, desconexão com aspectos naturais – enumerar os sintomas parece menos árduo do que fabular soluções. Num quadro como esse, investigar os passados é um exercício que se articula com dois vetores: a convicção de que o enfrentamento dos dilemas atuais passa por uma compreensão de seus antecedentes; e certa descrença em relação às agendas de futuro. Assim, a relevância adquirida pelo campo da memória é algo esperado. Não se trata, entretanto, da adesão a uma leitura oficial ou unívoca do passado, mas da constatação de que o já-vivido constitui um mosaico em permanente revisão, um tabuleiro em que diversos sujeitos clamam pela visibilidade de suas narrativas. Em A Pirâmide do Piques — São Paulo narrada pelo Largo da Memória, Gustavo Piqueira convida os leitores a incursões por esse território de disputas.
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Para tanto, o autor joga luz sobre um elemento da paisagem paulistana pleno de ambivalências. De marco emblemático da acanhada cidade do século XIX, o lugar em questão – seja obelisco ou pirâmide, chamado de Largo do Piques ou da Memória – foi sendo aos poucos escanteado pelo ritmo vertiginoso da metrópole. Nesse processo reside uma perversa ironia: se, num primeiro momento, foi o trânsito de mulas que ajudou a dar significância àquela porção de terra nas encostas do ribeirão Anhangabaú, mais tarde, outras formas de mobilidade – a ferrovia, o carro, o metrô – estiveram ligadas às aceleradas transformações urbanas que retiraram do Piques a centralidade simbólica e funcional. Ao esmiuçar as dinâmicas do tempo tendo como ensejo um local da história paulistana tão emblemático quanto pouco conhecido, o autor mobiliza aspectos centrais do debate contemporâneo sobre memória: os critérios de valorização e desvalorização patrimonial vigentes em cada contexto; a dificuldade dos órgãos de proteção em face à sanha especulativa; a pluralidade de vozes a ser mobilizada para investigar determinado objeto histórico; o jogo entre as funções de monumento e documento que um bem cultural assume etc. A publicação de obras que aproximem as questões urbanas da problemática do patrimônio cultural está ligada à democratização da memória social. Envolver os cidadãos em tais debates significa, além de acolher as demandas de grupos já organizados, sensibilizar mais pessoas para o assunto. Afinal, as cidades de amanhã serão mais inclusivas à medida que mais gente participar das histórias que sobre elas se contam. Danilo Santos de Miranda – Diretor do Sesc São Paulo
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Sรฃo Paulo vista do Viaduto do Chรก, 2019.
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O verĂŁo se assinala tanto pelas moscas e mosquitos como pelas rosas e noites estreladas. Marcel Proust, Jean Santeuil.
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o começo do século XIX, o britânico James Henderson definiu São Paulo
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como uma cidade em um estado de mediocridade, mas agradavelmente situada num terreno um pouco elevado. A baixa empolgação não parece ter sido uma opinião isolada: o advogado paulistano Francisco de Assis Vieira Bueno recordou a São Paulo de sua infância, nos anos 1830, como uma cidade circundada de campos estéreis, inçados de saúvas, apenas matizados pelos capões e restingas; a lavoura circunvizinha, limitada à cultura de mandioca e de poucos cereais, não lhe oferecia elementos de riqueza. E sapos. Muitos sapos que povoam o Anhangabaú e do outro lado o Tamanduateí, e os charcos de suas várzeas, e quem nas noites de calor estacionasse nas pontes do Lorena, Acu e do Carmo, ouvia sua tristonha e variegada orquestra, não sem encantos para quem é propenso à melancolia. Na cidade, não havia hospedarias, porque os viajantes vindos do interior eram poucos, em razão de as viagens a cavalo, por maus caminhos, serem difíceis, e por serem ainda mais poucos os que vinham do exterior, pela mesma razão, e pela falta de motivo que os atraísse. Os visitantes que se animassem a vir, apesar da “falta de motivo”, encontravam-se quase restritos às opções listadas por Vieira Bueno para alcançar a colina demarcada pelos vales de dois rios à qual se restringia a acanhada cidade desde sua fundação, em 1554. Existem em São Paulo três pontes principais, duas sobre o Anhangabaú e a terceira sobre o Tamanduateí. Esta última era a Ponte do Carmo. Já para vencer o Vale do Anhangabaú, que apesar do minúsculo ribeirão impunha uma considerável barreira natural com suas encostas de até vinte metros de altura, cruzavam-se as pontes do Acu ou do Lorena.
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Todas as três desapareceram. A Ponte do Carmo deu lugar a viadutos que interligam os dois lados da Avenida Rangel Pestana. Em 1865, a Ponte do Acu passou a se chamar São João Batista. De ponte, virou rua; de rua, avenida. Hoje, sem o Batista no nome, é um dos símbolos de São Paulo. Já a Ponte do Lorena nunca deu origem a esquinas que mexeriam com o coração de Caetano Veloso, e a identificação de seus traços pelo tecido urbano — tarefa simples tanto para a Ponte do Acu quanto para a do Carmo — é missão quase arqueológica.
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Ponte do Carmo 27
Ponte do Acu
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Ponte do Lorena
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O futuro prometia mais. Era pela Ponte do Lorena que entravam na cidade alguns dos mais importantes propulsores da então incipiente economia local: os tropeiros que chegavam pelo final do Caminho de Sorocaba, hoje Rua da Consolação. Seu nome deve-se a Bernardo José Maria de Lorena, governador que assumiu a capitania em 1788 com ímpetos modernizantes e mandou construir a pequena ponte de pedra quase plana, com parapeitos sem ornamentos, para unir o núcleo urbano à outra encosta do vale. Ele também foi responsável pela primeira via pavimentada a cruzar a Serra do Mar, igualmente batizada em homenagem a seu criador: a Calçada do Lorena. A trilha do então chamado Caminho de Sorocaba existia antes mesmo da chegada dos europeus e, nos primórdios da São Paulo de Piratininga, ligava o local da fundação do vilarejo à aldeia indígena de Pinheiros, que era o pouso certo para quem estivesse a caminho do sertão, onde se buscavam índios por escravizar, mormente nas raias do Paraguai. O trecho inicial do percurso a partir do colégio jesuíta tornaria-se uma das mais conhecidas vias da cidade, a Rua Direita. De lá, bastava seguir descendo a encosta da elevação para o lado do Piques e subindo depois o campo e as matas em direção à aldeia de Pinheiros. Em princípios do século XVIII, o ouro descoberto nas Minas Gerais causou uma série de transformações no território. A mais profunda delas a gradual transferência do núcleo da Colônia de seu centro original, o Nordeste, rumo ao Centro-Sul, processo que culminou na troca de Salvador pelo Rio de Janeiro como capital do Brasil em 1763 e, quase cinquenta anos depois, na instalação da corte portuguesa na cidade. O impacto das mudanças reverberou em São Paulo, impulsionando a vocação da vila como entreposto da crescente atividade comercial na região, sobretudo por causa de sua localização geográfica privilegiada com relação ao porto de Santos. As mercadorias circulavam em animais de carga conduzidos por tropeiros que cruzavam do Rio Grande do Sul a Minas Gerais com suas comitivas. Descer e subir a Serra do Mar, contudo, não era missão das mais fáceis. Pelo contrário: mesmo após a abertura da Calçada do Lorena, a travessia continuava extremamente penosa e o transporte de gêneros impossível de ser realizado por cavalos. Quem se apresentava como o animal mais talhado para a tarefa eram as mulas, e logo foram surgindo feiras de muares caracterizadas por uma grande animação. A mais conhecida era a de Sorocaba. Logo, é possível considerar que as duas obras de Lorena, a ponte na chegada do Caminho de Sorocaba e o calçamento da descida até Santos, faziam parte de um único sistema que visava incrementar o fluxo de entrada e saída dos principais agentes econômicos do período.
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Mesmo movimentado (para os padrões paulistanos da época), o lugar no qual
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se situava a Ponte do Lorena carecia de qualquer atrativo: não passava de uma área rodeada por barrancos e ladeiras. O Piques. Não se sabe a origem exata do nome Piques, cujo primeiro registro data de 1727. Hipóteses, das razoáveis às disparatadas, não faltam. Entre elas, a de que Piques se referia ao sobrenome da família que habitara a região por décadas; ou à brincadeira infantil homônima, que fazia alusão à topografia íngreme que precisava ser descida “a pique”, que servia como sinônimo de “rixa”, pois era lá onde os tropeiros resolviam suas querelas; ou, ainda, que designava o local onde se reuniam lavadeiras piqueiras.
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Desenho do britânico William John Burchell, de 1827, uma das primeiras representações gráficas de São Paulo.
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Igreja e convento de São Francisco
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Ao final da ladeira, a Ponte do Lorena, de fácil identificação na imagem.
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Toda essa região da metade inferior da imagem era conhecida como Piques.
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m 1808, levantou-se um muro de arrimo para
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conter o barranco que antecedia a ponte, o primeiro “Paredão do Piques”, feito de taipa. Mas foi em 1814, quando o engenheiro militar Daniel Pedro Müller recebeu o encargo de construir a Estrada do Piques pelo Caminho de Sorocaba, que o local ganhou uma feição urbana definida. A obra envolveu a edificação de um segundo paredão, mais resistente, que resultou na abertura de uma rua sobre ele, a Rua do Paredão. Ela nascia de uma bifurcação do trecho final da estrada que desembocava na Ponte do Lorena e se estendia até a entrada da chácara do barão de Itapetininga, fazendo esquina com a Rua da Palha. Müller, então, ampliou a Rua da Palha para que ela também cruzasse com o fim do Caminho de Sorocaba. Assim, interligadas, as três ruas passaram a delimitar um pequeno largo triangular. Nele, foi erguido um obelisco. O primeiro monumento da cidade de São Paulo.
Continuação da Rua da Palha
Rua do Paredão
Caminho de Sorocaba
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Construída de pedra de cantaria pelo mestre Vicente Gomes Pereira, a coluna
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pontiaguda de pouco mais de oito metros de altura recebeu o nome oficial de Obelisco da Memória. Na voz das ruas, porém, não foi nem Obelisco, nem da Memória: virou a Pirâmide do Piques. Müller afirmou, em ofício de 12 de outubro de 1814, que o obelisco fora erguido em memória — daí seu nome — ao triunvirato que governava a cidade. Outras teorias, porém, sugerem diferentes motivos para sua construção. Sejam quais forem os personagens ou efemérides de fato homenageados, é provável que a Pirâmide do Piques tenha sido feita para desempenhar o duplo papel com frequência destinado aos obeliscos e tanto funcionar como um marco de orientação urbana quanto constituir-se numa peça simbólica, um monumento público para enobrecer a cidade que, timidamente, começava a crescer.
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Aproveitando-se de sobras de outras construções, o engenheiro também edificou, no vértice inferior do largo, um chafariz para matar a sede das tropas recém-chegadas a São Paulo. Seu abastecimento provinha do canal que ligava o Tanque Reúno — formado por nascentes e águas do riacho Saracura, afluente do Anhangabaú — à Luz. O muro de represamento do tanque situava-se, aproximadamente, no local onde hoje está o Viaduto Martinho Prado e, até fins do século XIX, a água corria em canal a céu aberto. Se levarmos em conta que, no período, lavavam-se no manancial indistintamente cavalos, moleques e imundícies de toda espécie, a menor das quais é a roupa suja, e que o matadouro de São Paulo ainda ficava situado no bairro do Bixiga, perto da rua Santo Amaro e seus detritos seguiam pelo ribeirão do Saracura e depois pelo Anhangabaú, atravessando a cidade, é de supor que a água do chafariz do Piques não brotasse das mais límpidas.
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Ponte do Lorena
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O “Campo dos Curros” corresponde à atual Praça da República.
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Cemitério da Consolação, inaugurado em 1858.
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O nome de batismo do obelisco foi estendido tanto para a continuação da Rua
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da Palha aberta por Müller quanto para o próprio largo. Ambos perduram até hoje: Ladeira da Memória e Largo da Memória. De passagem por São Paulo em fins da década de 1850, o suíço J. J. Tschudi não se animou muito. Numa das encostas íngremes de um morro, há um pequeno parque público, pouco frequentado, onde está um obelisco de tijolo (Pirâmide (!) do Piques). Outros registros, porém, revelam que o local ganhara relevância e também um certo charme: três décadas antes, Saint-Hilaire relata ter entrado na cidade por uma rua larga, cheia de pequenas casas bem conservadas e, depois de ter passado diante de um lindo chafariz e ter em seguida atravessado a ponte do Lorena, construída de pedras, ponte sobre o ribeirão Anhangabaú, cheguei à hospedaria do Bexiga. Já Antonio Egydio Martins conta, em seu livro de 1911, que a Pirâmide do Piques na noite de 06 de setembro de 1857 foi iluminada, assim como o paredão e todas as casas do lugar, para festejar o aniversário da Independência do Brasil, tocando ali a banda de música do Corpo de Permanentes e um grupo de estudantes, acompanhado de muitas pessoas de todas as classes sociais, deu entusiásticos vivas análogos ao grandioso fato que naquele dia era comemorado. Até mesmo na única documentação visual mais extensa da São Paulo antes do café, a primeira série de fotos tiradas por Militão Augusto de Azevedo, em 1862, os retratos do Piques despontam no grupo de maior destaque e figuram, ainda hoje, entre os mais reproduzidos. Não sem motivo: na foto em que Militão posiciona sua câmera na altura do obelisco, por exemplo, é possível ver como o local se constituía num excelente mirante para se admirar a cidade, cujos recursos são ainda limitados pela indústria pouco vultosa, defeito compensado pela notável beleza de sua situação, e de seu horizonte visual. Se Balzac tivesse decidido ambientar O Pai Goriot em São Paulo e não em Paris, a Pirâmide do Piques seria aposta certa para servir como locação para o célebre desafio lançado por Rastignac à cidade: — Agora é entre nós dois!
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