Revista Toca de Assis - Junho 2017

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PUBLICAÇÃO DA FRATERNIDADE DE ALIANÇA TOCA DE ASSIS | JUNHO DE 2017

Coração Eucarístico de Jesus


Índice Toca para a Igreja

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Formação

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O mundo tem saudades de Francisco

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Coração da Toca

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Benfeitoria

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Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ. 02019254/0001-87 Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br (19) 3886 -7 086

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De olho na rua

Publicada por

Escritório São José

Artigo especial

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Mãe da Igreja

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Um padre de coração marrom

SAV- Serviço de Animação Vocacional

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento vocacional@fpss.org.br

Com a Toca, aprendi a amar Jesus Sacramentado, a me apaixonar e zelar pela Sagrada Liturgia e a amar os pobres. Padre Renan Félix, enviada pelo autor

REVISTA

toqueiro, que me ensinou a olhar para os pobres como um ostensório no qual o Senhor também está. Apesar de nunca ter me sentido vocacionado ao Carisma, na Toca de Assis encontrei grandes amigos que intercederam por minha vocação, sendo sustentado pela oferta de cada um diante do Santíssimo Sacramento. Costumo dizer que meu coração é marrom e que nas minhas veias passa sangue toqueiro.

Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis

Publicação mensal interna da Fraternidadede Aliança Toca de Assis Presidente

Ir. Emanuel do Sacramento de Amor, fpss. Departamento de Comunicação

Ir. Judá, Leonardo de Souza e Adora Comunicação. Editora Chefe

Ir. Judá, fpss Projeto gráfico e Diagramação

Adora Comunicação Católica contato@adoracomunicacao.com (43) 3064-1633 SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO PATROCINADOR: (43)3064-1633 (43) 9 9630-3031 Revisão Textual

Camila Freitas Impressão e tiragem

5.000 exemplares Colaboradores nesta edição

Ir. Emanuel; Ir. Sara; Ir. Judá; Ir. Verônica; Sidney Paco; Carol Blazi; Leonardo de Souza; Fernando Nunes; Daniel Ávila; Murilo Messias; Jusiana Keska; Junior Morimoto;Pe. Renan Félix; Pe. Fidelis Stockl; Ir. Maria;

Prezado amigo leitor, paz e bem. No mês de junho, nosso “artigo especial” será sobre o Coração Eucarístico de Jesus e seu amor extremo por nós. Esse amor é amplo a ponto de Ele se dar a nós em forma de alimento. No “de olho na rua”, veremos que o mandamento de amar o próximo passa também pelos direitos sociais. Estes devem ser exercidos de forma verdadeira e plena. Precisam ser assegurados principalmente para aqueles que estão em situação de rua. A “Economia” será o tema de nossa “formação”. Procuraremos que o dinheiro deve servir ao homem, como ensinado pela Doutrina Social da Igreja (dsi), e não o contrário. Na coluna “mãe da igreja”, aprenderemos com o Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria cinco pontos para ter uma verdadeira espiritualidade. Todo o escravo, por amor, da Mãe de Deus deve se ater a eles. O artigo “saudades de francisco” nos mostrará um lado pouco visto de São Francisco. Contemplaremos sua humanidade! Padre Renan Félix (Comunidade Católica Nova Aliança, Anápolis/go) contará para nós, no “toca para igreja”, a experiência que teve com a Toca mesmo antes de ser padre. Além disso, evidenciará como toda a amizade dos religiosos e das religiosas o ajuda em seu ministério sacerdotal. O “coração da toca” falará sobre o Jubileu de Ouro do Templo Votivo de Adoração ao Santíssimo Sacramento em Campinas/SP, atualmente administrado pelas Filhas da Pobreza. Ele sempre fez parte da história da Toca de Assis.

Capa

Santíssimo Sacramento - Maricá-RJ por Adora Comunicação Católica

Uma boa leitura a todos! Departamento de Comunicação

U

ma das mais profundas alegrias que nos alcançam, pela graça de sermos católicos, é a possibilidade de sermos alimentados e formados por Nosso Senhor na diversidade e na beleza de tantos Carismas que florescem no seio da Santa Mãe Igreja. Tive a graça de conhecer a Toca de Assis já nos primeiros anos de minha caminhada com Nosso Senhor. Na verdade, a Toca foi a primeira fraternidade que frequentei fora do ambiente paroquial. Conheci os “toqueiros” por causa de jovens das paróquias próximas que, na época, estavam na fraternidade. Contudo, só no Corpus Christi de 2015 visitei pela primeira vez a chácara São Miguel, casa feminina que ficava na cidade Guaratinguetá/sp. Como morava no Rio de Janeiro, tive a graça de frequentar assidua-

mente a casa da Praça Seca e ser benfeitor desta. Durante toda minha caminhada vocacional, fui nutrido pelo Ca-risma dos Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento. Com eles, aprendi a amar Jesus

"A Toca de Assis me ensinou a olhar para os pobres como um ostensório no qual o Senhor também está!" Sacramentado, a me apaixonar e zelar pela Sagrada Liturgia e a amar os pobres. Posso testemunhar, sem medo, que foi a Toca que me ensinou a olhar para os pobres como meus irmãos. Há poucos meses, estive em missão em Guiné-Bissau, na África. E, tocando na vida daquele povo sofrido e pobre, mas alegre e cheio de esperança, louvei Deus pelo Carisma

Há quase três anos, sou sacerdote. Hoje, sou missionário da Comunidade Católica Nova Aliança e moro em Anápolis/GO, perto de uma das casas da Toca de Assis. O Carinho de Deus integra minha história e meu coração sacerdotal. Por fim, quero agradecer a cada um dos toqueiros que - com seu testemunho de perseverança, pobreza e zelo, e com suas vidas doadas ao Senhor - formam o coração de tantos jovens - como formaram o meu - para que estes sejam padres aos moldes de Jesus Cristo. Posso afirmar, a partir de minha vivência, que cada oferta, cada sofrimento, cada lágrima foram e são fecundos. Muito obrigado!

P.e Renan Félix Comunidade Católica Nova Aliança Anápolis - GO

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Sacrificar-se por Deus Nossa Senhora - RJ, por Adora Comunicação Católica

Esvaziar-se de si e do amor próprio é o sinal de uma verdadeira devoção.

A

palavra “devoção”, em nosso tempo, tem sido desgastada e ligada ao paganismo e às práticas vazias. Mas São Luís Maria fala-nos das formas da verdadeira devoção. Trata da espiritualidade desse ato consagrado. Em seguida, listo e explico as colocações de São Luís sobre esse assunto: 1. A verdadeira espiritualidade é Interior. Gera a intimidade com o amor de Deus, revelando o sentimento esponsal por Ele. 2. A verdadeira espiritualidade é terna. Faz com que se recorra a Maria em todas as necessidades do corpo e da alma, com simplicidade, confiança e ternura.

3. A verdadeira espiritualidade é santa. Leva a alma a evitar o pecado e imitar as virtudes de Nossa Senhora, em especial Sua profunda humildade, Sua fé viva, Sua obediência cega, Sua contínua oração, Sua mortificação universal, Sua pureza divina, Sua ardente caridade, Sua paciência heroica, Sua doçura angélica e Sua sabedoria divina. 4. A verdadeira espiritualidade é constante. É sólida, incansável. Com ela, quando o fiel cair, terá a confiança em recomeçar. 5. A verdadeira espiritualidade é desinteressada Não busca a si, mas a Deus. Não é consagrada para o lucro próprio, mas para o bem das almas.

As correntes são um sinal de nossa escravidão de amor a Jesus Cristo e Virgem Maria. Nesses cinco pontos, ele traça a atmosfera espiritual do verdadeiro escravo de amor. De maneira mais profunda, é possível afirmar que é essência desta espiritualidade o sacrifício por Deus, ou seja, a ação de completar em nossa carne a imolação de Cristo (Cl 1, 24). São Luís discorre também sobre algumas práticas comuns que devemos buscar. Aconselho aos leitores

que ainda não possuem o livro adiantar-se na aquisição. Façam a leitura dessas práticas, que estão no terceiro capítulo do Tratado. O uso da cadeiazinha de Nossa Senhora Quero apenas tirar a dúvida sobre uma das práticas exteriores recomendadas por São Luís: o uso das cadeiazinhas de Nossa Senhora, correntes que não podem ser de ouro, prata ou metal precioso. Ele diz: “É muito louvável, muito glorioso e útil para aqueles e aquelas que assim se fazem escravos de Jesus em Maria, que usem umas cadeiazinhas de ferro” (tdv 236). Estas são um sinal de nossa escravidão de amor a Jesus Cristo e Virgem Maria e devem ser abençoadas antes do uso. São sinais exteriores, por isso não são tão essenciais nem obrigatórias. Portanto, aqueles que, por algum motivo, não aderirem ao uso não se sintam constrangidos. Apesar disso, reitero que, segundo São Luís, é admirável usá-las. Acredito que, aos que fizeram a leitura dos artigos anteriores, é nítido que isso não é um amuleto nem um objeto mágico e muito menos um acessório de moda. No próximo artigo, daremos continuidade ao estudo dos ensinamentos de São Luís. Veremos o quarto capítulo do Tratado.

fernando nunes

adora comunicação católica

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“O dinheiro deve servir, e não governar!” (Evangelii Gaudium, 58) Cartaz da Campanha da Fraternidade de 2010

vina e o de endeusar este como se fosse sinal de predestinação e salvação, quem pensa assim vê a “salvação” como algo puramente terrestre. Não é o dinheiro o problema, mas o amor a ele que é a raiz de todos os males (1Tm 6,10). “As riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benef ícios para os outros e para a sociedade – Como poderíamos fazer o bem ao próximo – interroga-se Clemente de Alexandria – se todos não possuíssem nada?” (c d s i 329). Bento XVI afirma que a economia e as finanças podem ser mal utilizadas pelos homens egoístas: “mas é a razão obscurecida do homem que produz estas consequências, não o instrumento por si mesmo. Por isso não é o instrumento que deve ser chamado em causa, mas o homem, a sua consciência moral e a sua responsabilidade pessoal e social!” (Caritas in veritate, n.36)2 .

A

palavra economia vem do grego oikos, que formou o elemento “eco”, e significa “casa, lar, domicílio, meio ambiente”. Portanto, economia significa a arte de administrar a casa. Hoje é a ciência que trata da produção, da distribuição e do consumo de bens. Para a Doutrina Social da Igreja (dsi ), a economia é só uma 6

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dimensão da complexa atividade humana (cdsi 1 375). A dsi respeita todas os âmbitos do homem e subordina as necessidades materiais e instintivas às interiores e espirituais (cdsi 376). Ao falar de economia, evitemos dois extremos: o de achar que o dinheiro é condenado pela lei di-

A Igreja reconhece a iniciativa econômica como direito humano, como assinala São João Paulo II: “é forçoso aqui notar que, no mundo de hoje, entre os outros direitos, é com frequência sufocado o direito de iniciativa econômica. [...] A experiência demonstra-nos que a negação deste direito ou a sua limitação, em nome de uma pretensa ‘igualdade’ de todos na sociedade, é algo que reduz, se é que não chega mesmo a destruir de fato, o espírito de iniciativa, isto é, a subjetividade criadora do cidadão. Como resultado surge, deste jeito, não tanto

Ciara Lubic, fundadora do Movimento dos Focolares

Economia

uma verdadeira igualdade, quanto um ‘nivelamento para baixo’” (Carta Encíclica Sollicitudo Rei Socialis n. 15)3. A atividade econômica deve ter como sujeito todos os homens e todos os povos para assumir um caráter moral (CDSI 333). Vivida moralmente, é vista pela Igreja como uma mútua prestação de serviço, uma oportunidade de o homem viver a solidariedade com os outros, mediante a produção de bens e o crescimento de cada um. A empresa é vista como capacidade de servir ao bem comum por meio da produção e dos serviços úteis (CDSI 338). Uma dimensão do agir humano está na criatividade, esta é um potencial do trabalho humano: “a riqueza principal do homem é, em conjunto com a terra, o próprio homem” (cdsi 337).

O fim da economia não está nela mesma, mas na boa distribuição humana e social. O que a sustenta é o trabalho humano. São Francisco buscou uma forma alternativa de fazer economia por meio do trabalho, ele ensina: “e os irmãos que

"As riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os outros..." sabem trabalhar trabalhem e exerçam a mesma arte que conhecerem [...][, que] pelo trabalho possam receber todas as coisas necessárias, exceto dinheiro” (RnB4 7,3.4.7). Para São Francisco, o conceito de economia não era o de acúmulo, mas o

Referências 1 CDSI: Compêndio da Doutrina Social da Igreja. 2 Carta Encíclica Caritas in veritate de Bento XVI, 2009. 3 Carta Encíclica Sollicitudo Rei Socialis de São João Paulo II, 1987. 4 RnB: Regra não Bulada de São Francisco em Fontes Franciscanas.

de gerir bem a vida, suprindo as necessidades básicas. Em 1991, Chiara Lubic, fundadora do Movimento dos Focolares, propôs para o Brasil a Economia de Comunhão (EcD). Embasada em princípios cristãos, coloca o ser humano e os valores do evangelho no centro da administração financeira. Esse é um exemplo concreto, que prova ser possível que a economia promova uma sociedade com valores perenes. Para quem quiser saber mais sobre a EcD, sugiro que veja uma reportagem feita pela TV Canção Nova: <www.youtube.com/watch?v=NyiicFjOrbo>. Também recomendo a leitura de um artigo com uma visão franciscana da economia, o qual pode ser encontrado em: <www.itf.org.br/ uma-visao-franciscana-da-economia-2.html>.

Ir. sara maria filha da pobreza do santíssimo sacramento

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Os cinquenta anos do Templo Votivo e sua importância para a Toca de Assis. Graças e louvores sejam dados a todo momento ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento. Eucarístico Diocesano. De vários lugares do estado de São Paulo, do Brasil e inclusive do exterior, peregrinos se prostraram diante do Diviníssimo Sacramento. 2

Sob o sopro do Espírito, V. Ex.ª Rev.ma Dom Paulo de Tarso teve uma inspiração por meio da qual perpetuou a glorificação Eucarística na Obra de Adoração Perpétua em Campinas: ofereceu a Jesus Sacramentado um culto perene de adoração, reparação e amor. O povo campineiro abraçou essa causa e respondeu com fidelidade ao dever de manter, com piedade, a perpetuação desse culto eucarístico.

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P

ara nós, Filhos e Filhas da Pobreza, é sempre uma alegria contemplar o mistério eucarístico e saber que, ao longo dos tempos, inúmeras inspirações vêm construindo o Reinado Eucarístico de Jesus. Partilho aqui a graça de fazer parte da históriade um lugar que é um sopro do Espírito e não só me edifica como consagrada, mas também o faz com to8

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das as Filhas da Pobreza: o Templo Votivo do Santíssimo Sacramento (Campinas/sp). Embora estejamos aqui em missão desde 12 de outubro de 2003, sua história é um pouco mais antiga que a nossa e, no mês de julho, completará 50 anos. Em maio de 1942, Campinas viveu um dos mais belos dias de sua trajetória religiosa: o I Congresso

Em 12 de julho de 1942, após a solene Santa Missa Campal, Jesus Sacramentado foi depositado no Ostensório do Congresso e levado em procissão até o Trono da Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral, sede provisória da Obra de Adoração Perpétua. Diante do Deus Eucarístico, formulou-se o Voto de levantar em Campinas um Templo. Este se dedicaria somente à adoração ao Santíssimo Sacramento. Na data do jubileu de prata de Dom Paulo de Tarso, 25 anos após a mencionada obra de

adoração perpétua, o Templo Votivo foi inaugurado pelo então bispo Dom Antônio Maria Alves Siqueira. Esse dom, dado por Deus à Arquidiocese de Campinas, sempre acompanhou nossa história. Nos primeiros anos de nossa fraternidade, quando éramos apenas um grupo com alguns jovens, era aqui que nos reuníamos para a adoração ao Santíssimo Sacramento, antes e depois das pastorais de rua da praça da Basílica do Carmo, localizada a poucos metros do Templo Votivo. Neste lugar nasceu nossa espiritualidade eucarística. Esse mesmo dom que nos alcançou continua a alcançar inúmeLegenda da foto 1 e 2 - Tempo Votivo, por Adora Comunicação Católica

ros homens e mulheres que fizeram e fazem parte deste lugar de encontro com Deus. Sou testemunha disso. É muito bonito contemplar a transformação que a adoração, o silêncio e a contemplação realizam

Um lugar que é um sopro do Espírito Eucarístico de Jesus nas pessoas. É como o orvalho sobre a terra, não o vemos se formar, mas, aos poucos, envolve a terra e, quando notamos, umedeceu-a e auxiliou em sua fecundidade. Concluo esta breve partilha com

uma frase, que encontrei nos escritos do Templo Votivo, de Madre Sade Qued da Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, esta congregação zelou pelo Templo Votivo desde sua inauguração até 2003. Essa irmã se destacou por seu amor e por sua piedade eucarística e é lembrada com muito carinho pelos frequentadores mais antigos do Templo. Ela diz: “Lá no alto do trono Eucarístico, está o autor da graça! Jesus! O fruto que a terra ostenta. Aqui em baixo, estão os frutos celestes que a vida eucarística traz à terra. São os impulsos de virtudes, de bem, de paz, de fervor nas almas dos adoradores e de quantos recebem a ação do grande cramento”.

ir. judá

filhas da pobreza do santíssimo sacramento

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Santíssimo Sacramento - Maricá-RJ por Adora Comunicação Católica

Coração Eucarístico de Jesus “Não é pequena a parte que na Eucaristia teve o seu Coração, sendo tão grande o amor do seu Coração com que Ele nô-la deu” (Pio XII). O Catecismo da Igreja Católica diz: “Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: ‘O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim’ (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o Sagrado Coração de Jesus, trespassado pelos nossos pecados e para nossa salvação é considerado sinal e símbolo por excelência… daquele amor com que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens” (cic § 478).

Eucaristia Reflitamos sobre o mistério celebrado e vivido e sobre a relevância do preceito dominical

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TOCA DE ASSIS | NOVEMBRO DE 2016

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algo a mais – deu-lhes a Si mesmo. A partir de então, recebendo este Alimento santíssimo, podiam estar constantemente com Jesus. Ele mesmo habitava em seus corações e os cumulava de santidade”.1 Que dom é a Eucaristia! Como devemos amá-la! Temos, no altar, o Coração verdadeiro de Jesus em seu corpo vivo; resta-nos adorá-lo, amá-lo e desagravá-lo de tantos pecados que se cometem contra esse Sacramento de Amor. A festa do Coração eucarístico de Jesus Em junho, veneramos, de modo particular, o Sagrado Coração de Jesus. Essa solenidade é celebrada na semana depois da festa do Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi). Existe uma íntima ligação entre a Eucaristia e o Sagrado Coração de Jesus, entre a devoção eucarística e a veneração do Coração de Jesus. A Eucaristia é o fruto mais sublime do Amor do coração de Jesus e, ao mesmo tempo, este Coração está presente e vivo na Eucaristia.

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Se quisermos saber qual é o amor que Jesus tem pelos homens, recordemos a instituição da Eucaristia. No Evangelho lemos: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou” ( Jo 13,1). O que significa esse amor ao extremo? “Amar até o extremo” não se refere só ao amor que Cristo demonstrou entregando Sua vida por nós na Cruz – sobre o qual Ele disse: “Ninguém possui amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” ( Jo 15, 13) –, vai mais longe. Aponta para a doação total de Si na Eucaristia, em que partilha a Si mesmo como comida e bebida, de tal 12

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modo que possa viver em nós, encher-nos com Seu amor e tornar-nos cada vez mais semelhantes a Ele. Santa Teresa de Calcutá afirmou: “Quando olhamos o crucifixo, entendemos o quanto Jesus nos amou. Quando olhamos a Hóstia Sagrada, entendemos o quanto Jesus nos ama

Cristo fez brotar do tesouro de seu Coração o mistério da Eucaristia. agora”. Pois na Eucaristia Jesus entrega-se a Si mesmo como dom – Seu Corpo e Seu Sangue – até o fim do mundo, porque esta é a lógica de Seu amor: “levou até o extremo o

seu amor por nós” (Cf. Jo 13, 1). São João Paulo II explica: “Ali, durante a Última Ceia, pouco antes de Sua morte, o Senhor Jesus deu o pão aos apóstolos e disse: ‘Tomai e comei todos: isto é o Meu Corpo’. Do mesmo modo lhes deu o vinho, dizendo: ‘Tomai e bebei todos: este é o cálice do Meu Sangue’. E nós cremos que, embora os Apóstolos sentissem na boca o sabor do pão e do vinho, verdadeiramente consumiam o Corpo e o Sangue de Cristo. E este era o sinal do Seu amor infinito. Com efeito, quem ama está pronto a dar à pessoa amada tudo aquilo que possui de mais precioso. O Senhor Jesus tinha poucas coisas neste mundo para poder oferecer aos Apóstolos. Contudo deu-lhes

Algumas Igrejas particulares e comunidades religiosas celebram, na quinta-feira, depois da Festa do Sagrado Coração, a Festa do Coração Eucarístico de Jesus. A razão particular desta é comemorar o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo dentro do mistério eucarístico. A Igreja anima os fiéis a se aproximarem com confiança desse santíssimo mistério e a abrasarem seus corações diante do amor divino, o mesmo amor que abrasou o Coração de Jesus quando instituiu a Santíssima Referências 1 - João Paulo II, Discurso no dia 7 de junho de 1997, 1; Osservatore Romano Edição portuguesa 14 de junho de 1997, 17.

Eucaristia. Papa Pio XII, na Carta Encíclica Haurietis Aquas, trata do culto ao Coração eucarístico de Jesus: “Não será fácil entender o ímpeto do amor com que Jesus Cristo se deu a nós por alimento espiritual se não é fomentando a devoção ao coração eucarístico de Jesus; a qual [...] nos recorda aquele ato de amor supremo com que, entornando todas as riquezas do seu coração, a fim de prolongar a sua estada conosco até a consumação dos séculos, o nosso Redentor instituiu o adorável sacramento da eucaristia”. Hino das Laudes da festa do Coração eucarístico Ó Coração de Jesus, Santíssimo Sacramento, Que a todo o mundo oferece o eucarístico alimento. Milagre de caridade à qual se junta o poder De para sempre de todo aos homens se oferecer. Em nosso altar tu ocupas o teu divino lugar, E quem chega, dia ou noite, te encontra sempre a esperar. Sempre a jorrar tuas graças junto à chama que palpita Ninguém se retira triste, quando te triste visita. Em banquete nos é dado, pão do céu, fonte de vida: Teu corpo é nosso alimento, teu sangue é nossa bebida. Ó Coração de Jesus, faze-nos sempre buscar-te, Porque ninguém, como tu conheces do amor a arte. Amém. Legenda da foto 1- A ùltima Ceia 2- Jesus sacerdote.

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Ato de consagração ao Coração eucarístico de Jesus Das Servas da Santíssima Eucaristia (Akita/Japão) Sacratíssimo Coração de Jesus, verdadeiramente presente na Santa Eucaristia, eu consagro o meu corpo e alma a serem inteiramente unos com o Teu Coração, que está continuamente a ser sacrificado em todos os altares do mundo e louvando ao Pai rogando pela vinda do Seu Reino. Por favor, recebe esta minha humilde oferta. Usa-me segundo a Tua Vontade para Glória do Pai e salvação das almas. Santíssima Mãe de Deus, nunca permitas que me separe do Teu Filho Divino. Por favor, defende-me e protege-me sempre como Teu filho/ Tua filha especial.

P.e Fidelis Stockl

Ordem dos Cônegos Regulares da Santa Cruz

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Morador em Situação de Rua - Quito/Equador por Adora Comunicação Católica

“Amarás teu próximo” Pastoral de Rua - Quito/Equador por Adora Comunicação Católica

“Assim também a fé, se não tiver obras, está completamente morta” (Tg 2, 17). todo o teu espírito […] e o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-39). A experiência pessoal com o amor de Deus nos torna aptos a amar o próximo. Contudo, percebemos que a humanidade se afastou de Seu Criador e, para conviver de forma civilizada, passou a criar leis, decretos e normas, quando, na verdade, o amor é a lei suprema capaz de transformar a vida humana.

V

ivemos em uma sociedade repleta de leis, talvez porque a maior e mais importante não seja vivida: a Lei do Amor. Todos nós queremos que nossos direitos sejam respeitados; entretanto, não falamos muito de nossos deveres. Nosso individualismo tem nos tornado alheios aos direitos de nossos irmãos. Você sabia que os moradores de rua têm direitos e que existe uma Política Nacional para a População em Situação de Rua? Sim, existe. Ela foi instituída pelo Decreto n.º 7.053, de 23 de dezembro de 2009. Precisamos conhecer e compartilhar a legislação que protege os moradores de rua para que sejamos “multiplicadores” de informações. Com isso, poderemos ajudá-los de forma efetiva. Toda pessoa em si-

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tuação de rua tem direito à vida com saúde, trabalho, educação, segurança, moradia, assistência social e lazer. Mas, na realidade, todos esses sujeitos têm seus direitos violados. Se as leis humanas não são cumpridas, é porque há muito tempo os homens não obedecem às leis divinas. Não nos reconhecemos como iguais, se desrespeitamos os outros sem que isso nos pese na consciência. Vivemos uma cultura de corrupção em nosso dia a dia, em nossas atitudes e em nosso modo de pensar. Essa é a regra, não a exceção. No Antigo Testamento, Deus disse ao povo eleito: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18b). No Novo Testamento, Jesus, O Filho de Deus, reforça o mandamento: “amar ao Senhor Teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de

Necessário se faz usarmos os meios de comunicação social para compartilhar o bem comum, o amor mútuo, o cuidado para com nossos irmãos desprovidos do mínimo necessário para sua dignidade enquanto filhos de Deus. O conhecimento e a informação são mecanismos para enfrentar e até mesmo combater a ignorância que leva à violação dos direitos da população em situação de rua. Para nós, cristãos, é uma forma de tornar viva nossa fé e testemunhar o amor e a misericórdia de Deus na vida de muitos que perderam a esperança, o desejo de sonhar e de acreditar que “deles é o Reino dos Céus”. Peçamos o auxílio da BemAventurada e sempre Virgem Maria. Que Ela nos ensine a amar e a servir Deus e os irmãos e as irmãs! Amém!

Ir. maria de Deus

filhas da pobreza do santíssimo sacramento

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São Francisco, o homem santo

prisioneiros. O ambiente era úmido, escuro; não havia janelas. A higiene inexistia. A comida e a água desciam por uma corda. Ele viveu um ano nessa situação precária, depois de ter passado pelo trauma de uma guerra.

"Eis que estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos" (Mt 28, 20).

Seu pai o resgatou, e isso só foi possível porque São Francisco estava doente. Ele contraiu malária na prisão, ficou fraco e frágil, demorou dois anos para se recuperar. Em seguida, teve a experiência com os leprosos, começou a entrar em conflito com o pai e foi deserdado. Virou motivo de chacota em Assis e passou a ser considerado louco. Depois, conheceu seus primeiros companheiros, iniciou-se a Ordem, a qual cresceu e sofreu conflitos e estigmatização.

Q

uando ouvimos falar de um santo e, em especial, de São Francisco – que marcou sua época, fundou uma ordem e, após 800 anos, é lembrado, admirado e amado por todo o mundo, inclusive por aqueles que não são cristãos –, imaginamos alguém que viveu a radicalidade, a penitência, recebeu os estigmas e contemplava a natureza. Ele vivenciou tudo isso. Mas a proposta, neste mês, é conhecer a pessoa de São Francisco, sua essência. A figura dele envolve mitos e mistérios. O “mito” se tornou, na linguagem corrente, sinônimo de ficção e de relatos falsos ou exagerados. Porém, entendemos que ele é uma ideia amplamente expandida, que, em certos casos, se torna uma certeza, embora ocorram erros ou enganos. Então, quem foi São Francisco? Até o século XVIII, muitos estudiosos compuseram biografias sobre São Francisco. Porém, durante muitos séculos, estava disponível apenas a de São Boaventura. Nela, é apresentado um São Francisco, segundo a linguagem da época e a literatura hagiográfica, angélico, seráfico. São Boaventura foi ministro geral da Ordem Franciscana, a qual vivia grandes conflitos internos e, consequentemente, desconfortos com a Igreja de Roma. Por conta

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disso, ele quis unificar a imagem de São Francisco, tratada com exageros pelos frades espirituais. Solicitou que todos os escritos sobre a vida de São Francisco anteriores ao dele fossem recolhidos e queimados, prática comum naquela época. Isso fez com que, por muito tempo, apenas a mencionada biografia fosse conhecida. Esta tem um grande valor hagiográfico e literário, mas fala pouco de São Francisco como pessoa, exalta mais sua santidade. Somente a partir de 1894, com Paul Sabatier, começou-se a buscar o lado histórico de São Francisco. E, ainda hoje, este é um dos santos que mais desperta o interesse de historiadores. Isso trouxe um granLegenda de foto 1 e 2 - Obras de São Francisco, por autor desconhecido.

de benefício para nós, para sua ordem e para a Igreja, pois permite que compreendamos a pessoa tão simples e tão profunda que foi São Francisco. Como um homem que – além de ter estatura baixa, ser franzino e não possuir beleza física – era semianalfabeto, não era teólogo e deixou poucos escritos pode despertar tanto interesse e admiração? Vejamos uma rápida biografia dele. Era de família burguesa e queria ser cavaleiro. Participou da guerra entre Perugia e Assis, foi preso e adoeceu na prisão. Lembramos que a prisão, na Idade Média, era um fosso cavado no chão, com vários

Quantas situações ele enfrentou em seus 43 anos de vida, de burguês a pobre, de famoso a desprezado. Quantas dúvidas, angústias e medos deve ter sentido. Contudo, é lembrado como um santo alegre e feliz, porque sabia que era amado por Deus, que se encarnou e se fez homem, assumiu nossas fragilidades. São Francisco só tinha um desejo: seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Olhando para sua vida, vemos que ele alcançou seu propósito. Que ele nos incentive a percorrer esse caminho de busca e entrega. Que esta ocorra com tudo aquilo que somos, inclusive com nossas fraquezas e limitações. Que no fim de nossa vida possamos ter a alegria que ele teve.

IR. VERÔNICA

filhAs da pobreza do santíssimo sacramento

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