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13 livros vermelhos

Circulam pela internet imagens de 13 livros empilhados. Várias imagens de vários 13 livros diferentes. Cada um posta a sua e usa a hashtag #13livrosvermelhos e outras tantas com o nome do Lula envolvido. O que importa é que a imagem deixe clara a proposta clara dos valores envolvidos: 13 + livros + vermelhos. A esquerda é bem criativa e inteligente.

Em 2018, o candidato vermelho no segundo turno era o Haddad. O movimento inteligente consistia em levar um livro com você pra votar. E, claro, postar nas redes sociais. Tinha de obras políticas a deboches quando ao que ocorre com o Brasil, do Manifesto Comunista, do Marx e do Engels, ao Febeapá, do Stanislaw Ponte Preta.

Agora, em 2022, estamos de novo numa dualidade, desta vez não entre dois candidatos, mas entre duas propostas de país: democracia ou imbrochavelcracia. Qualquer voto que permita ao Bolsonaro um segundo turno é dar uma chance pra que ele não boche. O segundo turno é outra eleição, vai ser guerra, e ele tem a máquina na mão.

Votar no Lula não é votar no Lula. Ele é O Cara, já disse o Barack Obama, mas ninguém governa sozinho. Ele precisa de apoio, de coalizão, de negociar e de um Congresso. Só (como se fosse fácil) eleger o Lula não vai solucionar o mundo, mas é um começo.

Os 13 livros vermelhos remetem, por ser uma proposta da esquerda, ao Mao Tsé-Tung. O livro dele, segundo mais vendido do mundo (perde pra Bíblia), foi escrito pra fins doutrinários. Uma pilha de 13 livros vermelhos no Brasil está mais próxima do Livro vermelho do C. G. Jung, psiquiatra suíço que morreu antes de o Mao escrever o homônimo dele. Jung deixou o livro incompleto, como também se encontra nossa democracia.

O outro lado nessa eleição dualista, sobretudo a turma do “Deus acima de todos”, poderia usar a Bíblia. Fazer a pilha de 22 Bíblias e justificar que o mundo começou ali, como o Brasil de verdade começou com o governo Bolsonaro. De quebra, usar na hashtag o Gênesis, capítulo 22, com a história do Abraão imolando Isaac. Bolsonaro pode escolher algum dos zero-algo e testar a benevolência divina.

Esta, aliás, parece pouco interessada em preservar os acólitos do 22. Na tempestade que fez voar e nadar Juiz de Fora na última semana, a porta fechada da loja vazia e com placa de aluguel diante da qual havia a banquinha do Bolsonaro foi estufada, como se um trem viesse lá de dentro pra tirar da frente quem atrasasse seu caminho.

Que esse trem seja a metáfora das urnas no primeiro turno.

Cabe, porém, a reflexão cristã. Tem muito ódio incitado nessa proposta de empilhar Bíblias e citar o Gênesis, mais ainda por sugerir um assassinato em nome da fé ou até mesmo cogitar que esses eleitores sejam leitores da Bíblia. Muito pastor, que trabalha com ela, não leu, que dirá todo o rebanho.

Melhor sugerir algo mais simples, como já havia feito Afif Domingos nas eleições de 1989: “Dois patinhos na lagoa, vote Afif 22.” era o jingle. Tinha outro, com uso de Libras, bem inclusivo, mas esse não convém ao atual governo. Vale a ideia dos patinhos.

Podem fotografar patos caminhando na grama, nadando e até voando. As legendas deveriam dizer que o presidente deve ser como um jogador de futebol, já que torce pra qualquer time. E, como disse outro presidente, o Vicente Matheus, “o jogador de futebol deve ser completo como um pato, que é um bicho aquático e gramático.”

Se bem que o Vicente Matheus era presidente do Corinthians, time do Lula. Melhor não fazer essa referência.

E se a pilha fosse de dinheiro e de casas? Daria pra mostrar que foram compradas em dinheiro vivo. Na legenda vem o link pra matéria do UOL… Mas não pode, foi censurada. Melhor mesmo não botar pilha. Os 13 livros vermelhos serão o bastante pro Brasil sorrir de novo.