Modelo pentacampeão não serve mais ao futebol brasileiro, diz João Paulo Medina

  • Por Jovem Pan
  • 13/12/2015 15h18
Reprodução/Twitter João Paulo Medina cita a Alemanha como exemplo

Em 2003, João Paulo Medina criou a Universidade do Futebol, que se define como um “think tank”, organização que produz e difunde conhecimento a respeito de um determinado tema – no caso, o esporte mais popular do mundo. Foi justamente isso que Medina fez em entrevista à equipe da Rádio Jovem Pan. Para ele, é preciso mudar o modelo de gestão do futebol brasileiro para que haja uma evolução real.

“A Universidade vem detectando problemas estruturais do futebol brasileiro e alertando para a necessidade de mudanças. Em 2003 a gente tinha acabado de ser pentacampeão mundial, infelizmente para a sensibilização para as mudanças e pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento do futebol brasileiro. Ficamos por muito tempo dando soco em ponta de faca. Felizmente, por outro ângulo, tivemos uma participação muito questionada na Copa do Mundo, que culminou com o 7 a 1, porque se tivéssemos perdido por um placar normal eu duvido que teríamos ambiente para realmente trabalhar em cima das mudanças necessárias para o futebol brasileiro”, disse Medina.

Para ele, os resultados ruins da Seleção podem ser a deixa para mudanças maiores no futebol nacional. “Não se trata de ficar buscando esse ou aquele nome, mas de mudar o modelo, que não é mais adequado para as necessidades do futebol mundial. O modelo de gestão do futebol é antiprofissional”. Por estarem atados a esse modelo, os clubes não conseguem se rebelar contra ele. “Os clubes estão muito dependentes da estrutura e não têm condições de se rebelar e tentar buscar novos caminhos. Muitas vezes os dirigentes que têm objetivos nobres também se sentem muito acuados, porque ele paga um preço por qualquer coisa posição contrária a esse modelo, como paga o jogador que levanta a voz”, analisou.

Para mudar a situação, Medina sugere que o Brasil busque soluções como fez a Alemanha, mas tentando encontrar seu próprio caminho. “Em 2000, quando a Alemanha foi eliminada na primeira fase da Eurocopa, as notícias de jornal traziam um túmulo dizendo ‘o futebol alemão morreu’. A partir daí eles se mobilizaram, criaram situações favoráveis, integraram as diferentes divisões, que também tinham suas divergências, e, ao modo deles, encontraram soluções que resgataram o futebol alemão não só através de sua seleção”, exemplificou.

Apesar de parecer pessimista, Medina consegue ver mudanças no futebol brasileiro. “Eu acho que as coisas estão mudando. Claro que não somos a Alemanha, a Inglaterra, a Espanha, a França, a Dinamarca. Nós somos o Brasil, com nossas características, peculiaridades, coisas boas e coisas ruins como todos os países. Mas se questiona muito no Brasil que, passado quase um ano e meio do 7 a 1, nada foi feito, tudo continua igual. Não acho. Acho que estamos criando uma visão cada vez mais crítica”, disse o diretor da Universidade do Futebol, que continuou.

“A gente tem discussões cada vez mais qualificadas, com diferentes assuntos do futebol, mas não temos um plano. Se a CBF acha que tem de cuidar só da Seleção Brasileira, como ela vai pensar em fazer um plano para o futebol brasileiro? E se a CBF não faz, quem vai fazer? É uma liga? Uma liga pode cuidar da Série A e da Série B, mas o futebol brasileiro é muito maior que isso, ele transcende essa dimensão da elite. Tem toda uma cadeia produtiva, uma massificação. Agente fica falando um monte de coisas, algumas certas, mas muitas bobagens também, e fica no âmbito da discussão e não consegue avançar como gostaria”, concluiu.

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