Augusto dos Anjos

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Augusto dos Anjos foi, sem dúvida, um poeta único em seu tempo. Sua riqueza vocabular e musicalidade são heranças do movimento em voga na época, o parnasiano, porém pode-se afirmar que foram, ambos, excepcionais. Poemas dotados de efeitos rítmicos que misturam expressões científicas com palavras que remetem ao grotesco e à morte, juntamente com um pessimismo extravagante eram, no início do século XX, um atentado contra o bom gosto e à sensibilidade.  Entretanto, apesar de não ser aclamado quando ainda era vivo, Augusto dos Anjos conseguiu, em uma única obra, o EU, se tornar um dos maiores poetas da língua portuguesa. Fantástico, diferente e dotado de sensibilidade incomum, o poeta não se filiou a nenhuma escola literária, no entanto elementos de variadas correntes são os mais perceptíveis em sua obra.

O poeta paraibano sofreu várias influencias em sua poesia. Leu teóricos, como Spencer, e percebeu que a ciência é incapaz de penetrar na essência das coisas. A mentalidade predominante na época era o valor à razão e a ciência, até mesmo nas formas literárias, com o Parnasianismo, o Naturalismo e o Realismo, porém Augusto dos Anjos demonstra em vários poemas a ausência desses valores, como no poema “O Fim Das Coisas “: “Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,/ arrancar, num triunfo surpreendente,/Das profundezas do subconsciente? O milagre estupendo da aeronave!/(…)/E quando, ao cabo do último milênio,/A humanidade vai pesar seu gênio/Encontra o mundo , que ela encheu, vazio! “. A poesia de Augusto dos Anjos também é marcada com um religiosidade incomum para a época, com é perceptível “Gemidos de Arte”: “E vem-me com um desprezo por tudo isto/ uma vontade absurda de ser Cristo/ para sacrificar-me pelos homens”. Porém existia uma ligação marcante com o cientificismo, tanto no vocabulário quanto na idéia material de corpo humano, considerando-o apenas um conjunto de reações químicas que em algum momento se encerrariam, levando a morte.

Em 1900 Augusto dos Anjos começa a se destacar na Academia, é quando publica seu primeiro soneto, intitulado “Saudade”, no Almanaque do Estado da Paraíba, com apenas 16 anos. Aos 17 inicia sua colaboração ao jornal O Comércio. Em 1909 colabora também para o União, diário oficial do Estado da Paraíba. Incompatibiliza com o governo do Estado da Paraíba e vai morar no Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro nenhum editor quis publicar os manuscritos de poesias, acabou por precisar financiar, juntamente com seu irmão Odilon dos Anjos, a impressão do seu livro. Assim foi impresso a primeira edição do livro EU de Augusto dos Anjos, único livro produzido pelo poeta, que veio a falecer dois anos depois, vítima de pneumonia. A primeira impressão foi simples, sem editor, sem gráfica, apenas seu nome, o título do livro, a data e o local. A crítica é, de inicio, pouco receptiva, fazendo com que o livro passe despercebido até que, quase duas décadas depois, é descoberto e louvado. No ano de 1920, Mario Linhares cita Augusto dos Anjos em “Gente Nova”, fazendo com que o poeta seja descoberto. Orris Soares, antigo amigo de Augusto dos Anjos, reúne toda a obra do poeta maldito, incluindo todos os poemas que não estavam presentes na primeira edição do “Eu”, que são publicados pela Imprensa Oficial do Estado da Paraíba como “Eu e Outras Poesias”. Ele é então descoberto pela imprensa e pela crítica, que o saúdam como grande poeta.

Primeira edição do Livro “Eu “de Augusto dos Anjos, impresso com as economias dele e do irmão.

primeira impressao de EU

O centro literário ao início do século XX era o sudeste e, principalmente, o Rio de Janeiro, onde moravam os membros da Tríade Parnasiana e outros escritores muito reconhecidos daquele tempo. A elite do país, ao se deparar com os versos que não eram parnasianos nem românticos, condenou o livro, afirmando que era de “mau gosto “, uma vez que era composto por poemas difíceis, com linguajar incomum, repleto de cargas científicas e temas voltados para a melancolia, a solidão e a desilusão em um momento em que o belo, o simétrico e o clássico eram fundamentais. Os poemas de Augusto dos Anjos não eram de nenhuma escola literária, eram seus, por isso foi e é aclamado como único e original. O livro ganha a terceira e quarta edições já em 1928, quando já era famoso. Em seu centenário, em 1984, denominaram-no de “poeta maior ” e foram feitas diversas homenagens. O sucesso literário não ocorreu durante sua vida, porém é considerado um dos melhores escritores da língua portuguesa, título merecido pela sua audácia, qualidade poética e originalidade incomum.

Bibliografia utilizada

Livros

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Rio de Janeiro: Ed. Garnier, 1998.

FILHO, Antonio Martins. Reflexões sobre Augusto dos Anjos. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1988.

SILVA, Marinalva Freire da. Augusto dos Anjos: vida e poesia. João Pessoa: Ed. Ideia, 2001.

VIDAL, Ademar. O Outro Eu em Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1967.

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