"Menino Selvagem"

 
 

O filme “L’Enfant Sauvage d’Aveyron” (“O Menino Selvagem de Aveyron”), de François Truffaut, baseado num caso verídico, relata a história de uma criança de onze ou doze anos que foi capturada num bosque, tendo vivido afastado da sua espécie e ficando depois à guarda do Dr. Jean Itard.

Embora se pense que o menino selvagem tenha sido abandonado no bosque quando tinha quatro ou cinco anos, altura em que já deveria dispor de algumas ideias e palavras, em consequência do começo da sua educação, tudo isso se lhe apagou da memória devido a cerca de sete anos de isolamento. Quando foi capturado, andava como um quadrúpede, tinha hábitos anti-sociais, órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, não falava, não se interessava por nada e a sua face não mostrava qualquer tipo de sensibilidade. Toda a sua existência se resumia a uma vida puramente animal.

Assim, o seu isolamento passado condicionou a sua aprendizagem futura que, além do mais, deveria ter sido realizada durante a sua infância (época em que o seu cérebro apresentaria mais plasticidade, existindo uma facilidade de aprendizagem, socialização e interiorização dos comportamentos característicos da sua cultura). Desta forma, o menino selvagem não só tinha que lutar contra o seu passado como contra a idade avançada para uma aprendizagem, muito provavelmente, sua desconhecida, sendo esta a razão porque, segundo Itard, “para ser julgado racionalmente, o menino selvagem de Averyon  só pode ser comparado a ele próprio”.

Com muito esforço, tanto por parte do menino selvagem como do Dr. Jean Itard, Victor (nome pelo qual foi batizado) consegue por fim cumprir hábitos sociais, como comer com talheres, viver consoante regras e deveres, dar o devido uso à roupa… Aprendeu também a desenvolver afetividade, o que foi considerado um grande progresso. Tornou-se sensível às temperaturas extremas, espirrou pela primeira vez, chorou e até mesmo desenvolveu espírito de justiça. À medida que esta afetividade se foi desenvolvendo entre o menino e o Dr. Itard ou a Mme. Guérin (ama que cuidava da criança, por pela qual desenvolveu um grande afeto), a aprendizagem vai-se tornando mais fácil (note-se que os fatores psicológicos são bastante influenciáveis). Por último, como já foi referido, os fatores socioculturais também influenciam as nossas ações pois, ao estarmos inseridos numa sociedade, as nossas ações e comportamentos são influenciados por ela, como se verificou com a socialização do menino selvagem, que teve de se sujeitar a regras e a deveres morais.

Contudo, e apesar de todos os progressos, a linguagem foi algo que não conseguiu adquirir. Victor conseguiu pronunciar a palavra “lait” (leite) e até mesmo escrevê-la, mas não foi dada muita importância a esta aprendizagem uma vez que não era utilizada para mostrar uma necessidade, mas sim uma espécie de exercício preliminar, que precedia espontaneamente à satisfação dos seus apetites. Podemos então concluir deste clássico de grande sucesso em todo o mundo, que é necessário “admitir que os homens não são homens fora do ambiente social” (Lucien Malson) e que necessitam, mais do que os outros animais, da vivência junto da espécie.

 

Foi-nos fornecido pelo professor de Psicologia um documento em pdf onde se encontra um trabalho de pesquisa excelente sobre toda a história do menino selvagem, mostrando-nos inclusive críticas ao filme entre muitas outras coisas. Deveras interessante explorar:

Trabalho de Pesquisa sobre o filme O Menino Selvagem.pdf (2669490)

 
Um site que considerei também excelente sobre informações do filme é o seguinte: