Cubismo & Futurismo – História do Design Gráfico
O design gráfico do século XX está intimamente ligado à pintura, à poesia e à arquitetura moderna. As tradições das instituições ocidentais e sua visão de mundo objetivas foram fortemente abaladas pelos horrores das duas Grandes Guerras. Nesse cenário a arte visual e o design questionaram antigos valores e abordagens da organização do espaço, além do seu papel na sociedade.
Veremos como o cubismo e o futurismo influenciaram diretamente a linguagem gráfica e a comunicação visual.
Cubismo
O movimento cubista foi, nas artes visuais, uma revolução tão completa que os meios pelos quais as imagens podiam ser formalizadas na pintura modificaram-se mais durante os anos de 1907 a 1914 do que se haviam modificado desde o Renascimento.
— Herschel B. Chipp, Teorias da Arte Moderna, 1988.
Desafiando a tradição pictórica renascentista esse movimento inovou através da abstração das figuras em planos geométricos bidimensionais onde as figuras são vistas simultaneamente de vários pontos.
O pintor Pablo Picasso (1881-1973), considerado o líder desse movimento, também era influenciado por elementos da arte ibérica antiga e da arte tribal africana.
Picasso e Georges Braque (1881-1963) desenvolveram junto o cubismo analítico desconstruindo os diversos planos de um tema, frequentemente de vários pontos de vistas geométricos e rítmicos.
Também foram Picasso e Braque que abriram espaço para a colagem de papel dentro da arte, que permitia a composição livre, independentemente do tema e explicitava a realidade da pintura como objeto bidimensional.
A segunda fase do movimento, o cubismo sintético, focava em representar a essência do objeto e suas características básicas em vez de sua aparência externa.
Juan Gris (1887-1927), importante pintor durante a segunda fase do cubismo, utilizava uma rigorosa estrutura baseada em proporções da seção áurea e grids de composição modular. Ele exerceu profunda influência no desenvolvimento da arte e do design geométricos.
A simplificação quase pictográficas da figura humana e objetos no trabalho gráfico de Fernand Léger (1881-1955) no livro La Fin du monde, filmée par l’Ange Notre-Dame (O fim do mundo, filmado pelo anjo Notre Dame) de Blaise Cendrars de 1919 indicava a direção para o design gráfico figurativa modernista.
Futurismo
Esse movimento tem como marco inicial o Manifeste du futurisme (Manifesto do futurismo) do poeta italiano Filippo Marinetti (1876-1944) em fevereiro de 1909.
Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória da Samotrácia.
— F. T. Marinetti, Fundação e Manifesto do Futurismo, 1908.
O manifesto expressava entusiasmo pela guerra, a era da máquina, a velocidade e a vida moderna. A poesia produzida era explosiva e emocionalmente carregada, desafiando a sintaxe e a gramática corretas.
Giovanni Papini (1881-1956), com seu periódico Lacerba, publicado em Florença, introduziu o design tipográfico aos princípios do movimento. O número de junho de 1913 publicou o artigo de Marinetti que conclamava uma revolução tipográfica contra a tradição clássica.
A harmonia era rejeitada e a força expressiva valorizada. Numa mesma página, três ou quatro cores e vinte tipos diferentes eram usados para representar as características do texto.
Esse novo design tipográfico pictórico foi chamado de parole in libertà (palavras em liberdade). A pintura e a poesia se tornaram uma só através da manipulação criativa das letras.
Essa preocupação tipográfica havia sido antecipada pelo poeta francês Stéphane Mallarmé (1842-1898) em seu poema Un Coup de dés (Um lance de dados) de 1897.
Outro poeta francês que contribuiu para o design gráfico foi Guillaume Apollinaire (1880-1918) em seu livro de 1918, Calligrammes (Caligramas).
A filosofia futurista foi aplicada ao design gráfico e à propaganda por Fortunato Depero (1892-1960). Em sua publicação de 1927, Depero futurista, Depero compilou suas experiências tipográficas, anúncios, projeto de tapeçaria e outros trabalhos.
Libertos da tradição de Gutenberg, esses designers começaram a animar suas páginas com uma composição dinâmica, não linear, obtida pela colagem de palavras e letras dispostas reproduzidas por meio de lâminas de impressão fotogravadas.
O futurismo se tornou uma influência importante em outros movimentos artísticos e suas técnicas violentas e revolucionárias, foram adotadas pelos movimentos dadá, construtivista e De Stijl, obrigando poetas e designers gráficos a repensar a própria natureza da palavra tipográfica.
Este artigo é um resumo da primeira parte do capítulo “A influência da arte moderna” do livro A History of Graphic Design de Alston Purvis e Philip B. Meggs. A intenção deste artigo é apresentar os principais pontos da obra original e servir de material de consulta. Caso se interesse pelo assunto, recomendo a leitura da obra na íntegra. Link para a edição em inglês e português na Amazon.